A morte da pastora e cantora gospel Sara Freitas, que foi brutalmente assassinada a mando do então marido, Ederlan Mariano, completa, nesta quinta-feira (24), um ano. A vítima foi levada para uma emboscada, esfaqueada e morta. Dois dias após o crime, ainda teve o corpo carbonizado em um matagal na cidade de Dias D’Ávila, na Região Metropolitana de Salvador.
O caso ganhou repercussão nacional devido a brutalidade e planejamento do crime. Os principais suspeitos são Ederlan Santos Mariano, Weslen Pablo Correia de Jesus, conhecido como Bispo Zadoque, Gideão Duarte de Lima e Victor Gabriel Oliveira Neves.
Os quatro estão presos na penitenciária Lemos Brito, na Mata Escura, aguardando o dia do júri popular, que ainda não tem data definida. Segundo o advogado o advogado da família de Sara, Rogério Matos, eles serão indiciados pelos crimes de feminicídio, cometido por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa da vítima, ocultação de cadáver e associação criminosa.
A mãe da pastora, Dolores de Freitas, aguarda uma justiça plena. "Continua um buraco enorme no meu peito, que eu sei que nunca vai fechar. Mas hoje me sinto mais forte e tenho fé que eles serão condenados. E mesmo que eles não sejam condenados pela Justiça do homem, eles já estão condenados pela justiça de Deus", disse ao Portal A TARDE.
Para relembrar o caso, a reportagem fez um apanhado do caso com os principais desdobramentos em ordem cronológica. Veja abaixo:
24 a 27/10 - Morte e corpo encontrado
A cantora gospel e pastora Sara Freitas desapareceu no dia 24 de outubro de 2023, após sair de casa, no bairro de Valéria, em Salvador, para um evento religioso que ocorreria em Dias D'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). No entanto, foi levada para uma emboscada e assassinada a facadas por volta de 22h30.
No dia 26 de outubro, o próprio marido dela, Ederlan Mariano, foi ao Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) para prestar queixa do "desaparecimento" de Sara. Ele alegou dizendo que Sara tinha o costume de participar de vários eventos religiosos.
Um dia depois, no dia 27, o corpo de Sara foi encontrado carbonizado às margens da BA-093, na altura de Dias D’Ávila, na tarde do dia 27, uma sexta-feira. O marido reconheceu os restos mortais da vítima.
27/10 Primeiro suspeito preso: Ederlan
O marido da cantora foi o primeiro suspeito a ser preso. A prisão dele aconteceu no mesmo dia em que o corpo dela foi encontrado, 27 de outubro. A polícia o prendeu sob possíveis incoerências no discurso e determinação da Justiça. No dia da audiência de custódia, populares protestaram pedindo a prisão dele.
A família de Sara afirmou que Ederlan era agressivo com a esposa, forçava relações sexuais, e ela planejava sair de casa. A mãe dela contou que, pouco antes de morrer, a filha disse que tinha algo importante para revelar, mas não deu tempo, porque ela foi assassinada.
14/10 Segundo suspeito preso: Bispo Zadoque
Weslen Pablo Correia de Jesus, conhecido como “Bispo Zadoque”, foi o segundo suspeito a ser preso, no dia 14 de novembro. Ele era amigo de Sara e atuava em igrejas evangélicas na RMS. No crime, ele foi o responsável por desferir golpes de faca na vítima.
15/10 - Terceiro suspeito preso: Gideão
À medida que as investigações avançaram, Gideão Duarte de Lima, o terceiro suspeito, também foi preso. Ele foi apontado como um motorista da confiança dela e teria buscado a cantora gospel em casa para levá-la a um culto que não existia. Ele teria entregue ela a Zadoque e Ederlan. No dia do depoimento, ele preferiu ficar em silêncio.
21/11 - Quarto acusado é preso: Victor Gabriel Oliveira
Uma semana depois, 21 de novembro, Victor Gabriel Oliveira, de 24 anos, se entregou à polícia após assumir participação no crime. Victor Gabriel teve participação tanto no homicídio da artista quanto na ocultação de seu cadáver, conforme apontou a apuração do caso.
Ele detalhou o crime, afirmando que teria segurado a vítima enquanto Zadoque a esfaqueava. Ele se disse "arrependido" e pediu "perdão". Na época, o pai de Victor, Fábio Oliveira, falou em primeira mão com o portal e disse que o filho iria "pagar" pelo crime.
Qual atuação de cada um no crime?
Em depoimento, os suspeitos confessaram detalhadamente a atuação deles:
- Ederlan Mariano encomendou o crime;
- Gideão Duarte levou Sara Freitas até o local combinado;
- Victor Gabriel segurou a vítima;
- Bispo Zadoque a esfaqueou.
Quanto receberam para cometerem o crime?
Os suspeitos de envolvimento na morte de Sara Freitas admitiram ter rateado R$ 2 mil, que foram dados por Ederlan Mariano para executar o crime.
Weslen Pablo Correia de Jesus, Gideão Duarte e Victor Gabriel de Oliveira admitiram o recebimento dos valores em acareação realizada na delegacia de Dias D'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), responsável pelas investigações do caso.
13/12 - Conflito judicial: Justiça concede guarda da filha para família de Ederlan
Ao longo de toda investigação, havia um conflito sobre qual família ficaria a filha do casal, de 11 anos na época. No dia 29 de novembro, a menina foi ouvida por cerca de três horas durante a audiência de justificação, no Fórum da Família, em Nazaré.
No dia 13 de dezembro, a Justiça concedeu a guarda provisória da filha de Sara Freitas para a família de Ederlan.
19/12 - Os quatro suspeitos viram réus após denúncia oferecida pelo MP
No dia 19 de dezembro, o Ministério Público Estadual denunciou Ederlan, Zadoque, Gideão e Victor por homicídio qualificado, os tornando réus. Segundo a promotoria, o crime foi cometido por motivo torpe, meio cruel, sem possibilidade de defesa da vítima. Eles também foram acusados por ocultação de cadáver e associação criminosa.
A Justiça baiana recebeu a denúncia e acatou o pedido de prisão preventiva feito pela Polícia Civil, com parecer favorável do MP, contra os quatro.
No dia seguinte, 20 de dezembro, o MP divulgou que os quatro suspeitos pela morte da cantora gospel Sara Mariana tinham intenção de usar a imagem da artista para lançar a carreira de Victor Gabriel, um deles, que também é cantor.
No texto da denúncia, o MP apontou que que o crime aconteceu porque Zadoque, Victor e Gideão, sob ordens de Ederlan, queriam “se apoderar da imagem pública de Sara Mariano, fazendo uso de toda a estrutura já montada em torno dela, para lançar a carreira de Victor, com o que todos lucrariam futuramente".
Audiências de instrução
1ª - A primeira audiência de instrução do caso aconteceu 5 meses após o crime, no dia 26 de março deste ano. Houve problemas de conexão e ela precisou ser interrompida;
2ª - Uma segunda audiência aconteceu no dia 16 de abril de 2024. A sessão durou sete horas e foram ouvidas as testemunhas de defesa e acusação;
3ª - No dia 7 de maio, os suspeitos foram ouvidos pelo juiz na terceira e última audiência de instrução. Todas foram realizadas no Fórum Criminal de Dias D'Ávila, na Região Metropolitana de Salvador. Em vídeo, Ederlan chegou a se dizer inocente.
20/08 - Justiça determina ida dos réus à júri popular
A Justiça baiana determinou, no dia 20 de agosto, que os quatro suspeitos de envolvimento na morte da pastora Sara Freitas irão à júri popular. No entanto, não se sabe ainda quando ocorrerá o julgamento.
Ao Portal A TARDE, o advogado da família de Sara, Rogério Matos, informou ainda que a Justiça também negou a liberdade provisória solicitada pela defesa dos suspeitos e decidiu pela permanência da prisão preventiva de Ederlan Mariano, Gideão Duarte, Victor Gabriel e Bispo Zadoque.