Três trabalhadores provedores de internet, com idades entre 28 e 44 anos, tiveram as vidas ceifadas nesta terça-feira (17), no bairro do Alto do Cabrito, no Subúrbio de Salvador. O crime, que chocou colegas de profissão e moradores da região, motivou um pronunciamento do Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações da Bahia (Sinttel-BA), que passou a cobrar respostas do poder público e mudanças na forma como o serviço é prestado em áreas consideradas de "alta periculosidade".
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As vítimas atuavam juntas no bairro de Marechal Rondon, quando desapareceram durante o expediente. Horas depois, os corpos foram localizados em outra localidade do Subúrbio, todos com sinais de violência.
A sequência dos fatos reforçou, segundo o sindicato, o cenário de vulnerabilidade enfrentado por técnicos e instaladores que entram diariamente em comunidades dominadas pelo crime, muitas vezes sem qualquer protocolo de segurança.
Em um vídeo publicado nas redes sociais, o presidente do Sinttel-BA, Joselito Ferreira, afirmou que o episódio vai além de um caso isolado, atingindo diretamente toda a categoria.
"Nós vamos criar um apagão no nosso estado caso não se cumpra esse protocolo de segurança. O sindicato está aqui para representar todos os trabalhadores. A nossa guerra aqui é para que eles tenham mais segurança, porque nós representamos, nós estamos cobrando", disparou em contato com o MASSA!.
Confira o vídeo dos trabalhadores:
Audiência pública entra no radar
Como encaminhamento, o Sinttel-BA informou que solicitará uma audiência pública com o Ministério Público do Trabalho (MPT). O objetivo é discutir a criação e a padronização de protocolos de proteção que deverão ser seguidos pelas empresas de telecomunicações em todo o estado.
A expectativa do sindicato é que o debate resulte em medidas práticas que garantam mais segurança para quem está na rua, fazendo instalação e manutenção de serviços.
O que se sabe sobre o crime
As vítimas foram identificadas como Ricardo Antônio da Silva Souza, de 44 anos, Jackson Santos Macedo, de 41, e Patrick Vinícius dos Santos Horta, de 28. Conforme relatos iniciais obtidos pelo MASSA!, o trio prestava serviço para a empresa Planet Internet.

Informações preliminares apontam também que, durante o trabalho, os técnicos teriam sido abordados por traficantes, que exigiram o pagamento do chamado 'pedágio' para permitir a atuação da empresa na localidade.
Em contato com à reportagem, a Polícia Civil informou que os corpos apresentavam marcas compatíveis com disparos de arma de fogo e estavam com mãos e pés amarrados, além de usarem fardamento.

Empresa nega cobrança de 'pedágio'
Após a circulação de áudios e mensagens em grupos, sugerindo ameaças por parte de facções criminosas, a Planet Internet negou qualquer tipo de contato ou cobrança para atuar no Alto do Cabrito.

A cobrança ilegal de empresas de internet por facções criminosas já havia sido exposta pelo MASSA! meses atrás. Depois dos registros em outros estados do Nordeste, a prática passou a ser observada também em Salvador.
Já a repercussão do caso levou o secretário da Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), Marcelo Werner, a se reunir com representantes de provedores de internet. Entre as medidas discutidas está a criação de um canal direto de comunicação entre as empresas e as forças policiais, além do reforço das ações de inteligência.
"O Estado dará uma resposta firme contra os autores deste crime bárbaro e covarde. Ampliamos as ações de inteligência e de repressão qualificada para capturarmos os criminosos”, afirmou o secretário.
Despedidas
Enquanto as investigações avançam, familiares, amigos e colegas de trabalho se despediram de Ricardo e Jackson Santos, também enterrados na quarta, no Cemitério Bosque da Paz, em Nova Brasília. Já Patrick será sepultado nesta quinta-feira (18), no Cemitério Memorial Vale da Saudade, em Candeias.

A reportagem procurou a PC na manhã desta quinta, para verificar se há atualização sobre o caso, mas, até a publicação desta matéria, não obteve retorno da corporação. O espaço segue aberto para manifestações.