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batalha invisível - 10/10/2025, 10:00 - Bruno Dias - Atualizado em 10/10/2025, 13:10

Educação e trabalho são destaques na ressocialização, diz secretário

Titular José Castro conversou com exclusividade com o Portal MASSA!

José Castro, secretário da SEAP
José Castro, secretário da SEAP |  Foto: José Simões / Ag. A TARDE

Entre a manutenção de flores, a construção de blocos, oficinas de música, poesia e criação de tilápias, detentos de diferentes penitenciárias espalhadas pela Bahia buscam se redimir pelos erros do passado e reintegrar à sociedade. As oportunidades ofertadas pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP) têm transformado o sistema prisional, que deixou de ser apenas um ‘depósito de gente’ para se tornar um local de ressocialização.

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Essa é a temática retratada na série Ressocialização: a luta contra a invisibilidade, produzida pelo MASSA!. Cada capítulo revelou a realidade enfrentada pelos presidiários por trás dos muros de concreto das cadeias, mostrando o enfrentamento ao preconceito e à invisibilidade em um cenário pouco abordado.

À frente dos mais de 30 projetos realizados por toda a Bahia está o ‘cabeça’, titular da SEAP, José Castro. Durante as visitas nas unidades penais, a reportagem conversou com exclusividade com o gestor, que detalhou a ideia por trás das iniciativas.

Aspas

Os presos da Bahia não estão mais apenas nos bancos da prisão - estão nos bancos das salas de aula, tendo acesso ao ensino superior

“Isso também colabora com a redução da criminalidade. Reduz os casos que acontecem fora dos presídios, reduz o número de presos e, cada vez mais, os que já estão dentro vão saindo, vão se ressocializando. Então isso é muito positivo para a sociedade”, diz.

Exemplo disso são os relatos dos próprios internos, colhidos pelo MASSA!. Os sentimentos expressos em cada palavra transparecem a vontade de aproveitar cada chance dentro da cadeia para garantir um futuro justo na comunidade, ao lado da família e longe das frias celas da prisão.

“Eu acredito que as pessoas não devem julgar pela aparência”. O relato é de um dos presos que luta pela liberdade e recondicionamento por meio do projeto das tilápias. A mesma visão é compartilhada por Castro, que acredita no lado humano das pessoas e vê nos projetos o melhor caminho para eles.

“O que a sociedade tem que entender é que a gente precisa parar com o preconceito contra o sistema prisional. No Brasil, felizmente, não existe pena de prisão perpétua. Todos os apenados vão sair algum dia e não há outra saída a não ser os trabalhos de ressocialização”, declara.

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Então eu pergunto: é melhor eles saírem rescindidos no crime ou reintegrados à sociedade?

Castro acredita no lado humano das pessoas e vê nos projetos o melhor caminho para os internos
Castro acredita no lado humano das pessoas e vê nos projetos o melhor caminho para os internos | Foto: José Simões / Ag. A TARDE

Ainda assim, muitos internos optam por retornar ao caminho criminoso após ganharem liberdade. Sobre isso, o secretário destacou que, para alguns, a vida se torna um ciclo entre prisão e fuga, e que a ressocialização é o caminho para a salvação dos que realmente desejam melhorar.

“A SEAP e a Secretaria de Segurança Pública têm uma ligação umbilical: a polícia prende e coloca na SEAP. Se a gente não ressocializar, eles vão voltar para a rua e reincidir. E aí esse ciclo de violência nunca acaba”, afirma.

“Na verdade, a ressocialização é a grande chave para a mudança de mentalidade desse pessoal. É a segunda chance que o Estado está ofertando”, continua.

Siglas do crime superadas pelo ABC da educação

De acordo com a SEAP, atualmente cerca de 4.400 presos estão estudando, o que representa 24% da quantidade carcerária total. Já 2.900 detentos estão ‘trampando’ dentro das unidades, equivalente a 30%.

A meta de Castro é levar o estudo para todos os presos, já que 60% deles sequer terminaram o ensino fundamental. As práticas têm dado retorno positivo, com internos avançando na escolaridade e até se especializando em cursos de nível superior, o que pode ajudar a conseguir empregos fora do xilindró.

“Posso citar o presídio de Itabuna, que é o nosso grande polo de educação. Lá, dos cerca de 850 presos, mais de 650 estão estudando. Isso é gratificante”, inicia.

“Os números do Enem para pessoas privadas de liberdade estão cada vez mais altos. E eu tenho orgulho de dizer que, só em Itabuna, temos 70 presos cursando o nível superior. Ou seja, os presos da Bahia não estão mais apenas nos bancos da prisão - estão nos bancos das salas de aula, tendo acesso ao ensino superior”, conclui.

4.400 presos estão estudando nos presídios
4.400 presos estão estudando nos presídios | Foto: Denisse Salazar / Ag. A TARDE

Futuro dos projetos e novidades exclusivas

Com resultados expressivos na ressocialização, o projeto deve seguir crescendo cada vez mais. Em busca de metas ainda maiores, a ideia do secretário José Castro é padronizar as ações em todas as unidades prisionais, com foco total na reintegração social, alinhando orçamento e plano de governo.

Além disso, iniciativas inéditas estão sendo elaboradas. “Vou contar aqui em primeira mão: estamos desenvolvendo um projeto junto ao policial penal Danilo para implantar uma usina fotovoltaica aqui em Feira de Santana, utilizando mão de obra prisional. Esse é um desejo nosso e já estamos trabalhando nisso. Temos inúmeros projetos prontos para serem levados a outros presídios”, conta, de forma exclusiva.

“Uma coisa da qual eu não abro mão é de criar um ambiente regional, mais humanizado e mais eficiente. Com certeza, estamos conseguindo reintegrar muitas pessoas de volta à sociedade”, finaliza.

Série especial

Este foi o último capítulo da série “Ressocialização: a luta contra a invisibilidade”, encerrando a trajetória de histórias que mostram como os projetos de ressocialização dentro dos presídios podem ser importantes para reabilitar detentos que cumprem pena e buscam questionar: é possível fazer diferente?.

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