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arrependimento e recomeço - 18/07/2025, 10:00 - Bruno Dias - Atualizado em 18/07/2025, 10:13

Detentos botam a mão na massa pra edificar futuro em Salvador

Reportagem do Portal MASSA! ficou cara a cara com os detentos do corre limpo na Lemos Brito

Projeto de ressocialização acontece na Penitenciária Lemos de Brito
Projeto de ressocialização acontece na Penitenciária Lemos de Brito |  Foto: José Simões/Ag A TARDE

Em busca de redenção pelos crimes cometidos e visando um futuro melhor, longe das grades, os detentos da Penitenciária Lemos de Brito, no bairro de Mata Escura, em Salvador, participam de um projeto de ressocialização voltado ao trabalho na fabricação de blocos e pré-moldados. De segunda a sexta-feira, às 7h da manhã, eles acordam com a oportunidade de dar mais um passo de reconstruir suas vidas.

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O projeto iniciou em meados de 2012 e, há 13 anos, tem parceria com o presídio, atuando no mercado da construção civil, com todo o material produzido e fabricado pelos internos. O Portal MASSA! esteve presente na unidade prisional para acompanhar de perto a prática e conversou com Daniel Cerchiari e Ludovico Pezzangora, sócios da empresa.

“O objetivo é fabricar pré-moldados de concreto de pequeno porte. Em função disso, a gente precisa de bastante mão de obra, o volume de trabalho é grande. E aí funciona muito bem a parceria com o presídio, porque aqui tem bastante gente precisando trabalhar e aí a gente adota esse pessoal todo para a gente. Então, processo produtivo completo aqui: matéria-prima chega, a gente produz, entrega para clientes, atendemos o mercado normalmente, não tem nenhuma restrição de nada”, explicam.

Blocos e pré-moldados são desenvolvidos para comércio na Penitenciária Lemos de Brito
Blocos e pré-moldados são desenvolvidos para comércio na Penitenciária Lemos de Brito | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Público base

As atividades são disponibilizadas para diversos presidiários, de diferentes idades, todos em regime fechado. A exceção é para os condenados por tráfico de drogas, com o objetivo de evitar más influências sobre aqueles que realmente desejam ter uma segunda chance. De acordo com os sócios, o perfil dos participantes é de homens entre 40 e 50 anos, a maioria sentenciada por homicídios e estupros.

Por lei, os presos não podem ter vínculo CLT com a empresa. Por isso, os contratos são feitos com a Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP), que intermedia a ação. Em suas jornadas, eles trabalham entre seis a sete horas por dia e recebem 75% do salário mínimo, podendo aumentar por meio de gratificações e promoções de cargo.

“Eles têm o trabalho de segunda a sexta, eles começam às sete e largam às quatro, parando para o almoço às onze, e o presídio, a própria penitenciária faz a triagem de quem vai vir para cá. Então, a gente tem um ambiente muito harmônico aqui. Eles realmente se esforçam para vir porque é uma oportunidade de redução de pena", comenta.

Por meio do trabalho, os internos reduzem o tempo de cadeia. A cada três dias trabalhados é um a menos de pena. "Eles têm a remuneração deles, que permite principalmente manterem a família deles, que não os abandonam”, detalha Daniel.

Ludovico Pezzangora (esquerda), Daniel Cerchiari (meio) e Ausileide Pezzangora (direita) são sócios da empresa
Ludovico Pezzangora (esquerda), Daniel Cerchiari (meio) e Ausileide Pezzangora (direita) são sócios da empresa | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Além disso, 25% do salário é guardado como pecúlio, um serviço semelhante ao FGTS, mas voltado aos detentos. Nele, o dinheiro fica guardado em uma conta vinculada a eles e só pode ser retirado após deixarem a cadeia. Esse recurso ajuda o presidiário a recomeçar a vida quando deixarem o sistema prisional.

Grandes obras em Salvador

Segundo os gestores, são produzidos, em média, de 150 a 200 toneladas por dia, contando com a entrega e dedicação de até 40 presos que batalham diariamente para garantir um ‘trampo’ de excelência. Assumindo funções diferentes, todos contribuem para que os materiais sejam fabricados com o máximo de qualidade, seja com empilhadeiras, máquinas pesadas, soldagens, mecânicas e distribuição para os clientes.

A partir disso, os blocos são comercializados com terceiros, que confiam na qualidade e na credibilidade do projeto para a construção de diversas estruturas em Salvador e na Região Metropolitana. O que muitos não sabem é que grandes obras da capital baiana, como hospitais, mercados, prédios empresariais e reformas em vias públicas, foram feitas com materiais produzidos pelos detentos da Penitenciária Lemos de Brito.

Projeto de ressocialização acontece na Penitenciária Lemos de Brito
Projeto de ressocialização acontece na Penitenciária Lemos de Brito | Foto: José Simões/Ag A TARDE

“Estamos sempre presentes, como o Hospital Mater Dei. Em prédios no Horto Florestal, Caminho das Árvores, Jaguaribe. O novo SESC agora que está sendo reformado é todo com o nosso material. Todos os blocos das reformas das Orlas, Pituaçu e Patamares. Tem também toda a revitalização de parte da Cidade Baixa. Todas as obras do Atakarejo e do Atacadão. Trabalhamos com todos eles”, afirma Daniel.

O fato foi destacado pelo interno R.T, de 44 anos. Preso desde 2013, ele expressou ao Portal MASSA! a sensação de felicidade e gratidão por poder contribuir com a sociedade. Além disso, desabafou sobre a importância das pessoas reconhecerem e valorizarem o trabalho feito pelos presos, que representa uma oportunidade de ressocializar e de tentar ser melhor, mesmo cumprindo a pena.

“Isso é importante, até porque essas pessoas não sabem que nós, reclusos, estamos contribuindo para a sociedade. Às vezes a sociedade vê o preso de uma certa forma, que na verdade não é aquilo. Então, para mim é gratificante ver isso, saber que o produto da empresa que hoje estou trabalhando está sendo muito bem aceito na sociedade”, inicia.

Aspas

A gente está aqui por um erro, como todos na sociedade um dia podem errar e aí podem também estar aqui. Se eu perder isso aqui dentro, para mim eu volto a ser um nada

Internos da Penitenciária Lemos de Brito trabalham na fábrica de blocos e contribuem para diversas construções em Salvador
Internos da Penitenciária Lemos de Brito trabalham na fábrica de blocos e contribuem para diversas construções em Salvador | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Humanidade além dos erros

Operário na construção, o preso encontrou no projeto uma forma de recomeçar e se reintegrar à sociedade. “Minha história foi uma situação familiar. Pessoas me acusaram e eu estou aqui até hoje. Mas esse essencial para o preso, porque nos sentimos mais livres e com possibilidade de dar algum ganho à família, ajudar as pessoas que gostamos”, garante.

Aspas

Até você estar aqui fora trabalhando não me sinto preso. Me sinto uma pessoa na sociedade novamente, que está dando ganhos, trabalhando e ajudando, tanto a mim quanto a todos

Detento RT, de 44 anos, abriu o coração em entrevista ao Portal MASSA!
Detento RT, de 44 anos, abriu o coração em entrevista ao Portal MASSA! | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Em desabafo à reportagem, o interno disse que, antes, não valorizava as coisas importantes da vida, como a família e pequenos detalhes do dia a dia. Mas os dias vividos no sistema prisional o fizeram ter outra visão das coisas e passar a valorizá-las, encontrando apoio para seguir lutando em busca da liberdade.

“Quando eu estava na sociedade não dava muita importância a algumas coisas. Às vezes a gente não dá muita importância ao que a gente está vivendo. E aqui dentro a gente aprende a dar importância a pequenas coisas, às mínimas coisas. A família é tudo hoje, porque ela que vem aqui, que passa por situações para poder estar com a gente. Então minha família é tudo pra mim”, expressa.

Ele também relatou que a oportunidade de trabalhar na fábrica de blocos deu uma nova perspectiva para sua vida, ajudando-o a adquirir novas experiências e mostrando que o tempo passado na prisão significou mais do que apenas uma punição pelos erros cometidos.

“Como a gente trabalha aqui, acabamos aprendendo muita coisa. Hoje, por exemplo, sou operador de empilhadeira. Lá fora eu nem sequer dirigia, só pilotava moto, mas aprendi essa habilidade aqui dentro. Sempre tive vontade de ser empilhador e agora pretendo continuar com isso quando sair”, pronuncia.

“Então se a pessoa realmente quiser alguma coisa, ela olha para essa parte de que isso aqui pode ser futuro. Isso aqui não é só o que você está passando. Você pode levar, sim, uma profissão daqui de dentro, pra lá pra fora, e continuar a sua vida”, finaliza.

@jornalmassaoficial Em busca de redenção pelos crimes cometidos e visando um futuro melhor, longe das grades, os detentos da Penitenciária Lemos de Brito, no bairro de Mata Escura, em Salvador, participam de um projeto de ressocialização voltado ao trabalho na fabricação de blocos e pré-moldados. Criado em 2012, o projeto oferece trabalho diário de até sete horas e remuneração de 75% do salário-mínimo. A cada três dias de trabalho, um dia é reduzido da pena. O que poucos sabem é que muitos hospitais, mercados e prédios de Salvador foram erguidos com materiais produzidos por essas mãos que hoje buscam reconstruir suas próprias histórias. Este é o segundo capítulo da série Ressocialização: a luta contra a invisibilidade. No próximo dia 1° de agosto, o terceiro episódio abordará mais um projeto social que também transforma vidas e oferece novas oportunidades. 📲 Saiba mais em jornalmassa.com.br ✍ Bruno Dias #MASSA #GrupoATARDE #tiktoknews #Salvador #bahia #presídiolemosdebrito #preso #blocos #ressocialização #homem #homemade ♬ som original - MASSA!

Série especial

Histórias como essas mostram como os projetos de ressocialização dentro dos presídios podem ser importantes para reabilitar detentos que cumprem pena e se arrependem dos seus atos. O tempo atrás das grades se transforma em um momento de reflexão, mudança e, acima de tudo, esperança de fazer tudo diferente.

Este é o segundo capítulo da série Ressocialização: a luta contra a invisibilidade. No próximo dia 1° de agosto, o terceiro episódio abordará mais um projeto social que também transforma vidas e oferece novas oportunidades.

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