
O Rio de Janeiro foi tomado pelo caos após a deflagração da Operação Contenção, que mobilizou cerca de 2,5 mil policiais para encurralar criminosos do Comando Vermelho (CV) desde a última terça-feira (28). Até o momento, mais de 130 pessoas foram baleadas e pelo menos 60 suspeitos foram presos na capital carioca.
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Entre os bandidos alcançados, 16 eram baianos e um não resistiu aos ferimentos. Informações obtidas pelo MASSA! indicam que integrantes de diferentes cantos da Bahia foram recrutados pela quadrilha para reforçar a guerra do RJ, incluindo os presos em questão.
Apesar das ações ostensivas no estado carioca, o conflito armado pode afetar outras localidades do país, como a Bahia. Segundo informações do especialista em Segurança Pública, Luciano Pontes, em entrevista ao MASSA!, há um risco de que 'traficas' do CV busquem refúgio no Norte e Nordeste após a guerra.
"A Bahia se assemelha ao Rio, principalmente no aspecto geográfico. O Rio tem um relevo acidentado, com morros e baixadas — Salvador também. Aqui hoje temos vários territórios que já estão tomados pelas facções. Infelizmente, a polícia não tem condições hoje de fazer incursões nesses bairros que não sejam com um aparato de guerra", iniciou.
Infelizmente, nós estamos vivendo uma guerra, porque hoje o Brasil é um narcoestado, onde 30% da população vive sob o domínio de facções criminosas.
Luciano Pontes, especialista em SSP

De acordo com o pesquisador, o alto número de criminosos do CV presos ou mortos durante as ações policiais representa apenas um enfraquecimento temporário da facção, que deve se reestruturar antes de contra-atacar, iniciando um novo conflito.
"De imediato, as facções não vão partir para ações. Elas deixam acalmar um pouco para depois tentarem recuperar o patrimônio perdido. Claro que agora vão contar com a narrativa de que ‘só inocente morreu’", detalhou.
Reflexo na Bahia
O fato também foi ressaltado pelo pesquisador em segurança pública e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Misael França. Ele apontou que a morte e captura dos baianos pode gerar retaliações entre facções na Bahia em resposta às ações no RJ.
"Então, essa disputa vai além do embate entre as próprias facções, entre sujeitos faccionados ou grupos rivais. Ela representa também uma guerra das facções contra o Estado — o Estado-polícia. A lógica é de guerra, de beligerância, entre os membros dessas facções e os policiais, principalmente aqueles que atuam diretamente no confronto", afirmou.

Conforme Misael, o banho de sangue no Rio de Janeiro, somado ao enfraquecimento do CV, pode acarretar que quadrilhas rivais se aproveitem da situação para avançar na dominação de territórios destinados ao tráfico, provocar rebeliões entre os criminosos em outros locais ou até iniciar um novo conflito generalizado.
Aquilo que aconteceu lá (RJ) poderia acontecer em qualquer lugar, principalmente quando não há uma interlocução eficaz, transparente e esperada
Misael França
"Todas as vezes que há um abalo em territórios conflagrados, dominados por organizações criminosas há um efeito, uma repercussão em outros locais. Aquilo que aconteceu no Rio de Janeiro certamente vai determinar atitudes e reorganização de grupos criminosos em outros estados da federação, retaliações às forças de segurança pública, tudo no contexto de guerra", finalizou.
Pronunciamento da SSP-BA
Diante dos acontecimentos, a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) emitiu um pronunciamento na terça-feira (28), lamentando as mortes dos policiais vítimas do confronto e garantindo que as ações seguirão intensificadas em todo o estado, com o objetivo de coibir qualquer ação brutal das facções criminosas.
“A Secretaria da Segurança Pública da Bahia se solidariza com os parentes, colegas e amigos dos policiais que foram mortos durante operação policial no Rio de Janeiro e ressalta que as ações de inteligência e de repressão qualificada contra as facções continuarão intensificadas em todo o território baiano. Destaca ainda que a integração entre os estados é imprescindível para desarticulação do crime organizado”, informou.
