Vulnerabilidade fortalece bairros mais 'bocas quentes' de Salvador

Forças de segurança tentam 'esmagar' técnica já conhecida das facções criminosas

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periferia pega fogo - 17/03/2025, 07:40 - Bruno Dias

A expansão da criminalidade em Salvador tem refletido no aumento da violência em determinados bairros, com destaque para os considerados periféricos, que são os locais onde facções como o Bonde do Maluco (BDM), Comando Vermelho (CV), Katiara, entre outras, têm se estabelecido para criar uma ‘zona de terror’, apavorando a população.

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Diante disso, a reportagem do Portal MASSA! procurou o pesquisador em segurança pública e professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Misael França, que listou os bairros da capital baiana considerados os mais ‘bocas quentes’, com alto índice de concentração e ação criminosa.

“Nas estatísticas aparecem o Complexo do Nordeste de Amaralina, Santa Cruz, Vale das Pedrinhas, Liberdade, Tancredo Neves, Valéria. A região de Brotas já apareceu recentemente como uma das mais violentas, também engloba, principalmente, o Cosme de Farias. Então, perceba que são bairros considerados periféricos e que aparecem aí, no jargão policial, com uma ‘mancha criminal’ bem acentuada”, aponta.

Pesquisador em segurança pública e professor da UFBA, Misael França
Pesquisador em segurança pública e professor da UFBA, Misael França | Foto: Arquivo Pessoal

Ele também sinalizou que muitos dos moradores dessas regiões são vítimas do crime organizado. “É importante também ressaltar que o fato dessas localidades aparecerem nas estatísticas como violentas, não quer dizer que todas as pessoas ali sejam bandidos. Muitas delas são vítimas, pessoas que não têm nenhuma vinculação com o crime e acabam sendo prejudicadas em trocas de tiros, guerra de facções, enfim”, finaliza.

Facções vendem falsos poderes à jovens

O delegado da Polícia Federal e coordenador da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO), Eduardo Badaró, explicou, em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, que as facções criminosas criam uma falsa sensação de poder nas regiões para recrutar novos membros, incluindo jovens.

“O que a gente (da FICCO) entende, o que eu vejo principalmente, é a capacidade de aquisição de arma de fogo desses criminosos. E também essa idealização de que alguns faccionados, alguns criminosos, acabam passando, por meio de alguns jogos, para a própria comunidade, um falso poder que eles exercem. Isso acaba atraindo outros indivíduos a participar desse grupo, em busca desse falso poder ilícito”, afirma.

Delegado da Polícia Federal e coordenador da FICCO, Eduardo Badaró
Delegado da Polícia Federal e coordenador da FICCO, Eduardo Badaró | Foto: Bernardo Rego / Ag. A TARDE

Bairros afetados pela guerra entre facções

De acordo com dados do Instituto Fogo Cruzado sobre a violência armada em Salvador durante o mês de janeiro deste ano, foram registrados 107 tiroteios, 79 mortos e 21 feridos. Bairros como Tancredo Neves, Paripe e Águas Claras foram alguns dos mais afetados.

Veja a lista:
Tancredo Neves: 8 tiroteios e 5 feridos;
Paripe: 6 tiroteios, 7 mortos e 2 feridos;
Águas Claras: 4 tiroteios, 5 mortos e 1 ferido;
Federação: 4 tiroteios, 1 morto e 1 ferido;
Lobato: 4 tiroteios e 3 mortos;
Macaúbas: 3 tiroteios, sem vítimas;
Narandiba: 3 tiroteios e 3 mortos.

Apesar das ocorrências envolvendo o crime organizado nessas localidades, o delegado Badaró demonstrou otimismo quanto ao trabalho das forças de segurança, destacando que irão partir para cima da bandidagem, reduzindo a sensação de insegurança e protegendo a sociedade.

Aspas

É importante mostrar que, em certos locais onde se tem a sensação de que o tráfico controla, são poucos os indivíduos criminosos que produzem tanto barulho


“É importante mostrar que, em certos locais onde se tem a sensação de que o tráfico controla, são poucos os indivíduos criminosos que produzem tanto barulho. A maioria dessas comunidades é composta por famílias trabalhadoras, que têm um dia bastante suado e sacrificante, mas que, quando voltam para casa, ainda têm que se submeter a certos tipos de regras e imposições desse grupo. É importante passar a mensagem de que estamos juntos, e vamos continuar lutando, combatendo, e, se possível, entrando em todos os lugares para mostrar que estamos perto da sociedade e que vamos ajudar o máximo possível”, destaca.

“A gente não consegue sanar o problema na velocidade que gostaríamos, mas, com os trabalhos que estamos desenvolvendo em conjunto, e falo isso de todas as forças, vamos conseguir ajudar, com certeza, da melhor forma possível”, finaliza.

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