
Em meio à disputa violenta entre facções criminosas pelo controle de territórios em Salvador e Região Metropolitana, a Polícia Militar da Bahia tem reforçado sua atuação com operações de ocupação em áreas consideradas prioritárias no combate ao crime organizado. Regiões que durante anos estiveram sob domínio do tráfico agora passam a contar com a presença constante de tropas especializadas e blindados da PM, numa tentativa de romper o poder paralelo e devolver o controle do território ao Estado.
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A ofensiva ocorre com o avanço sobre bairros estratégicos onde a atuação do crime organizado impõe medo e constrangimento à população. O caso mais recente é o do Engenho Velho da Federação, alvo da última fase da operação 'Dominus Arae', onde cinco localidades vivem sob domínio de duas facções rivais: Baixa da Égua, Forno e Lajinha são controladas pelo Comando Vermelho (CV), enquanto a Muriçoca e o Buraco da Gia estão sob influência do Bonde do Maluco (BDM). O cenário é de constante tensão e confrontos armados, afetando diretamente o cotidiano de milhares de moradores.
Outros bairros como Engomadeira, Tancredo Neves, Nordeste de Amaralina e o Subúrbio Ferroviário também estão no centro dessa estratégia de sufocamento do tráfico. Em todos esses locais, a geografia favorece o crime: vielas estreitas, rotas de fuga e barricadas dificultam o acesso policial e facilitam a ação das facções.
Com a entrada dos blindados e o trabalho de inteligência da PM, a operação busca sufocar o tráfico, desarticular o poder das facções e ampliar a sensação de segurança nas comunidades.

Uso de blindados e inteligência
De acordo com o comandante-geral da Polícia Militar da Bahia, coronel Antônio Carlos Silva Magalhães, o trabalho tem sido guiado pela inteligência e pelo monitoramento constante das áreas mais sensíveis.
"Olha, nós estamos trabalhando com a intensificação de policiamento em todo o estado da Bahia. Várias operações nós estamos colocando em prática. Hoje, neste momento, estamos com duas grandes operações: uma no interior do estado e uma também na capital, cujos resultados já têm se demonstrado com apreensão de armas, apreensão de drogas, prisão de pessoas. Essas operações vão estar sempre presentes, intensificadas em cada ponto do estado da Bahia, porque nossa missão maior é proteger a população, proporcionar segurança pública", destacou.

O comandante indicou também que os bairros com maior concentração de denúncias e histórico de atuação de facções têm sido priorizados. "Olha, nós estamos operando em toda a região de Salvador. Então, damos ênfase hoje a Engenho Velho da Federação, Nordeste de Amaralina, Engomadeira especificamente, Tancredo Neves e à Suburbana. Nossas operações estão atuando nesses cinco bairros, onde há algum tipo de denúncia de presença do crime. E a gente vai para lá exatamente para demonstrar a presença do Estado, demonstrar a força do Estado. Onde o Estado estiver, o crime não vai se sobrepor".
População como escudo e guerra por território
As áreas ocupadas pelas forças de segurança possuem um traço em comum: a geografia complexa, que dificulta o acesso da polícia, e a prática frequente de criminosos utilizarem moradores como escudos humanos. Segundo a polícia, há também o uso estratégico dessas comunidades em disputas entre facções rivais, visando o domínio de pontos de tráfico.
"Principalmente é o desejo do crime de constranger aquela população local. E isso a gente não vai permitir de hipótese nenhuma. Então, quando há qualquer denúncia de que há algum tipo de constrangimento do crime naquele espaço, para constranger a população, constranger o cidadão daquele local, a gente vai estar lá para dizer ao cidadão que o Estado da Bahia está presente".
Estratégia para quebrar barreiras do crime
Um dos elementos centrais das ações é o uso de blindados operacionais, que têm sido fundamentais para o avanço das tropas em áreas bloqueadas por barricadas erguidas por criminosos.
"O veículo blindado visa, sobretudo, a condução de tropa em determinados ambientes, pela rusticidade dele de conseguir ultrapassar barreiras que a viatura regular não consegue: barricadas, retirada de barricadas e ultrapassagem de barreiras que normalmente tentam impor para que a gente não chegue a determinados ambientes. (...) E proteger o nosso policial para aproximação e até resgate, se for o caso, em determinados ambientes".

"Mas nós não temos apenas o veículo blindado. Nós temos o nosso policial, o abnegado policial, que está lá no combate do dia a dia, trabalhando para proporcionar segurança pública e proteção para aquela população, para aqueles bairros onde o crime tenta, de alguma forma, sobrepor o Estado e isso não vai acontecer, porque nós somos o Estado presente".
Armas apreendidas e resposta rápida
As operações, segundo o comandante, já apresentam resultados expressivos. Armas de grosso calibre, como fuzis, foram retiradas de circulação. A PM também tem intensificado o treinamento de seus agentes para garantir ações mais precisas e com menos riscos à população.
"Nós temos tido um balanço muito positivo. Quando a gente faz um balanço das nossas operações, temos a apreensão de armas, inclusive armas de uso restrito, como o fuzil, por exemplo. Nos resultados dessas operações, nós temos proporcionado à população uma melhor segurança".
"Estamos capacitando, a cada dia, nosso policial, para que ele possa dar uma resposta mais efetiva, atingindo alvos específicos, sem efeitos colaterais em nossas operações".
As ações fazem parte de uma estratégia contínua de enfrentamento às facções que atuam em Salvador e RMS, com foco na ocupação de territórios, desarticulação de lideranças e aumento da sensação de segurança entre os moradores.