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cultura e tradição - 29/06/2025, 16:11 - Bruno Dias

Festival de Quadrilhas resgata memórias e agita povão da Liberdade

Evento em homenagem ao Mestre Chicão marcou a volta das quadrilhas e celebrou a cultura no bairro

Festival aconteceu no Largo do Sieiro, neste domingo (29)
Festival aconteceu no Largo do Sieiro, neste domingo (29) |  Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Em meio ao coração do bairro da Liberdade, em Salvador, o som das músicas de São João despertou a atenção da comunidade na manhã deste domingo (29). Sob olhares curiosos, as atenções se voltaram para a quadra no Largo do Sieiro, que se transformou em um palco de cores, dança e alegria, com as apresentações do Festival de Quadrilhas Juninas da Liberdade – uma Homenagem ao Mestre Chicão.

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A festividade, realizada pelo Fórum Permanente de Quadrilhas Juninas, reuniu cerca de dez grupos independentes, que se deslocaram de diferentes bairros para dar um show na região da Liberdade.

Com membros de diferentes idades e gêneros, a diversidade de músicas cativantes, histórias envolventes e passos coreografados despertaram, no público mais velho, uma sensação de nostalgia ao relembrar dos feitos nas décadas de 1980 e 1990 e, ao mesmo tempo, cativando os mais jovens.

“A gente entendeu que o território da Liberdade é o que tem o maior número de quadrilhas juninas. E Chicão foi uma pessoa que atuou aqui durante muitos anos. Ele já não está mais entre nós, mas deixou uma série de dançarinos, amigos, família. Essa é a primeira vez que a instituição que eu coordeno realiza essa homenagem para ele”, disse Soiane Gomes, idealizadora do projeto, em entrevista ao Portal MASSA!.

Povão colou em peso pra prestigiar as quadrilhas
Povão colou em peso pra prestigiar as quadrilhas | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Quadrilhas de todos os tipos e estilos

Ao todo, está previsto que as quadrilhas se apresentem ao público das 10h às 16h, de forma gratuita. Cada instituição possui um estilo de apresentação próprio, focado na tradicional simbologia do casamento na roça. Apesar de buscarem se destacar entre as demais, a iniciativa não se enquadra como uma competição, e todas as quadrilhas receberam uma compensação financeira para participar e manter o sonho de pé.

“A gente não faz campeonatos. A gente entende que todos precisam receber o mesmo recurso, porque têm gastos com figurino, com musicalidade, enfim, com toda a produção do espetáculo. Todo esse projeto foi construído junto com as quadrilhas”, explicou Soiane.

Entre os grupos confirmados na festividade estão as quadrilhas mirins: Germe da Era, a mais antiga em atividade contínua na cidade, criada em 1981 por Dona Naná; e a Forró do Luar, da Massaranduba, também composta por crianças, conquistadas pelo clima junino.

Quadrilhas mirins deram um show no evento
Quadrilhas mirins deram um show no evento | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

A sensação de "se sentirem artistas”, como destacou Dona Naná ao Massa!, também foi descrita por Juan Guilherme, de 14 anos, um dos participantes da Germe da Era, que abriu as apresentações do evento. Morador do bairro do Curuzu, ele participa da quadrilha há cinco anos.

“Esse ano foram seis meses de ensaio. É muito legal, é algo novo pra mim. Nunca participei de coisas tão grandes assim. Então é algo que eu tô experimentando. Acho que não pretendo continuar, mas já deixei minha marca aqui”, expressou o garoto.

Além das mirins, o festival também conta com grupos premiados, como Forró Asa Branca, do Cabula/Resgate; a histórica Forró do ABC, fundada em 1982 no Pau Miúdo e hoje sediada na Liberdade; e a Capelinha, entre as quadrilhas mais conhecidas de Salvador.

Ademais, se apresentaram a Cristais do Amor, formada por jovens com deficiência; a Sapeca Yayá, composta por idosos e fundada por Mestre Chicão; a recém-criada Flor de Chita, quadrilha mirim do Engenho Velho de Brotas; Forró Mandacarú, do Pero Vaz; e Cia de Dança Boca do Rio.

“Quadrilhas que já são bem conhecidas, que já venceram campeonatos — quadrilhas estilizadas, quadrilhas de competição —, mas também quadrilhas mirins, quadrilhas de idosos, quadrilhas com pessoas com deficiência, com síndrome de Down e autismo. Como a gente entende que a cultura junina é de todos, a gente procurou fazer uma programação que englobasse grupos das mais diversas modalidades”, reforçou a idealizadora Soiane.

Forró Asa Branca foi uma das quadrilhas participantes
Forró Asa Branca foi uma das quadrilhas participantes | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Dona Maria e o resgate das memórias de São João

Alegre e emotiva ao observar as apresentações, sentada em sua cadeira no meio da plateia, estava a dona Maria Raimunda de Assis, de 69 anos. Ela, que morou na Liberdade por 15 anos, teve que deixar o local devido a questões pessoais, mas sempre carregou o bairro no peito.

De volta, a idosa abriu o coração em entrevista ao Portal MASSA! e descreveu a sensação de relembrar o passado por meio do projeto de quadrilhas realizado neste domingo (29).

“A gente sabe que, antigamente, tinha muita (quadrilha), aí deu uma parada, e agora está voltando. Está retornando com uma importância muito grande. Eu fiquei surpresa quando cheguei aqui e vi o bairro onde morei, onde me criei, do jeito que está. Porque isso aqui era uma ruma de lixo”, iniciou.

“Então, hoje, quando eu chego aqui e vejo essa grandiosidade — essa quadrilha que o meu neto participou agora, teve a Capelinha, e ainda vêm outras e outras —, eu só desejo que isso se prolongue por muitos e muitos anos”, comentou.

Dona Maria Raimunda de Assis, de 69 anos.
Dona Maria Raimunda de Assis, de 69 anos. | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Maria Raimunda relembrou os períodos passados, em que a população se mobilizava para realizar festivais com quadrilhas, enfeitando o bairro com adereços característicos do período, além de roupas coloridas. Para ela, essa é uma tradição que nunca deve acabar.

“O que a gente vê muito hoje no São João é igual um carnaval, vários artistas que não têm nada a ver com a tradição. É um horror! Cadê o pé de serra, aquele forró antigo? Esse bairro sempre teve essa tradição de quadrilha, de festa junina. Sempre teve. Eu me lembro que, quando era menina, sempre tive. Então hoje, revivendo isso aqui, pra mim é um orgulho imenso! Você não sabe como está meu coração aqui”, desabafou.

O homenageado: “Salve Mestre Chicão”

O grande ícone do evento deste domingo é Francisco Pedro Ribeiro Rocha, conhecido como Mestre Chicão. Nascido na Ilha de Itaparica, ele viveu na Liberdade desde a infância e fez história como marcador da histórica quadrilha João Froxó em 1970 e, algum tempo depois, criou a quadrilha Sapeca Yayá, formada por idosos do Centro Social Urbano da Liberdade.

Chicão deixou sua marca no bairro com sua alegria e dedicação aos festejos da cultura junina. Por isso, uma placa em sua homenagem foi exposta na parede da quadra de esportes da região.

Placa em homenagem ao Mestre Chicão na quadra da região
Placa em homenagem ao Mestre Chicão na quadra da região | Foto: Olga Leiria / Ag. A TARDE

Apesar de já ter partido, o seu legado permanece vivo no coração dos quadrilheiros e eternizado no bairro.

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