
O clima era de Carnaval, mas a celebração era junina. Na tarde deste domingo (15), a Praça da Revolução, localizada em Periperi, foi palco da final do XVI Campeonato Estadual de Quadrilhas Juninas. A competição começou na última quarta-feira (11), contando com a participação de mais de 50 grupos de juninas de diferentes regiões da Bahia. A grande vencedora do torneio foi a quadrilha Luar do Recôncavo, superando a Forró do ABC, que ficou como vice, e a Imperatriz do Forró, que conquistou o terceiro lugar.
A disputa foi dividida em três categorias, sendo elas o grupo de acesso, o grupo semi-especial e o grupo especial, que se apresentou no sábado (14). O evento foi organizado pela Federação Baiana das Quadrilhas Juninas (FEBAQ) e já se tornou uma tradição em Periperi. "Hoje a gente já percebe que a arena está muito pequena para o tamanho do público. Para a gente é um prazer muito grande, a gente só tem mesmo é que ficar feliz", disse Carlos Brito, presidente da FEBAQ, em entrevista ao MASSA!.
Apesar da cultura do São João normalmente ser mais forte nos interiores, a capital também não fica atrás. Carlos explica que atualmente o nível das quadrilhas de Salvador está equiparável com as de interiores. "A quadrilha junina está em toda Bahia, seja na capital ou no interior. Hoje, o nível das quadrilhas está forte não só na capital, como no interior. Não nivelamos a quadrilha por seu tamanho, mas por sua originalidade, trabalho e riqueza cultural", pontuou.
O presidente da FEBAQ também destacou a importância da competição para o a comunidade de Periperi. Para ele, a festa é um convite para pessoas de outros lugares irem curtir o bairro. "É importantíssimo, porque a gente não tem só a população de Periperi aqui, todo o Subúrbio está aqui, muita gente de outros bairros, muita gente do interior. É um movimento junino que é abraçado por todo mundo", afirmou.

Sentimentos envolvidos
Para quem participa, a tradição das quadrilhas é muito mais do que uma dança. Jamile Viana, 44, faz parte da quadrilha Forró do ABC desde 1998 e não escondeu a emoção em participar da competição mais uma vez. "É um movimento que não é só dança, traz vários sentimentos. A quadrilha me tirou de vários momentos difíceis, ela só me traz felicidade", acrescentou.
Para a competição desse ano, a Forró do ABC apostou no tema 'O Sanfoneiro de Caruaru'. Abordando a história de um músico que foi enganado, o tema exigiu que os quadrilheiros fizessem mais que apenas dançar. "Além de dançar, a gente faz um teatro, precisamos o público com a gente e cantar as músicas para apreciar nosso trabalho", detalhou.
Um dos elementos tradicionais nas juninas é o casal de noivos. Desempenhando a função de noiva pela segunda vez, Jamile destaca que a experiência exige um bom trabalho em grupo com os outros membros. "Não é só ser noiva, o meu grupo precisa acreditar que eu sou a noiva, que estou ali para contribuir com o trabalho. É mais que uma responsabilidade, é ter um amor com o grupo", ressaltou.

O encanto do interior
Um dos destaques do campeonato foram os grupos vindos de outras regiões da Bahia. Diretamente do município de Alagoinhas, a junina Beija-Flor trouxe um pouco da cultura interiorana para a cidade grande. "É muito emocionante. Era meu sonho trazer uma quadrilha do meu interior para a capital", disse Abenir de Souza, 59, presidente da Beija-Flor.
Assim como nos desfiles de Carnaval, a preparação das juninas também começa com um ano de antecedência. A trajetória da Beija-Flor até subir nos palcos não foi fácil. "É um processo muito dolorido, porque começamos muito cedo. A gente começou o processo lá para outubro do ano passado. Sofremos muito, mas deu tudo certo", disse.
Apesar de todo o desgaste, Abenir garante que o esforço vale a pena. "Só de pisar aqui para mim já é uma coisa muito boa. Não tem coisa melhor do que participar desse mundo [das juninas]", completou.
Galera curtindo em peso
Era possível enxergar de longe a multidão que se formou na Praça da Revolução. Moradores do bairro aproveitaram o momento para curtir com a família. Cleuma Guimarães, 40, levou a filha, Maria Isabela, 7, para aproveitar o momento. "Acho que é importante mostrar para ela a tradição e a cultura, para ela conhecer a história do forró e das quadrilhas para manter viva a tradição", explicou.
A paixão pelas quadrilhas é algo que atravessa gerações. Desde pequena, Cleuma acompanha as apresentações de juninas e está passando o mesmo hábito para a pequena Maria. "Eu nunca dancei de forma tradicional, mas dancei na quadrilha da escola. Ela gosta muito, acha lindo, ela é encantado. Eu também gosto muito e sempre trago para ela ver".
Tendo acompanhado dois dias da competição, ela pontuou que esse tipo de iniciativa é importante para as pessoas terem contato com a cultura nordestina sem precisar sair de seu bairro. "Nos dá a oportunidade de ver eventos como esse sem precisar ir para tão longe", declarou.
Houve também pessoas de outros estados curtindo a festa pela primeira vez. Morando em Salvador desde 2021, Gabriel Medeiros, 17, veio do Rio de Janeiro e decidiu presenciar a disputa por conta de uma recomendação de um amigo. "Acho muito bonito e achei os figurinos maravilhosos. A galera daqui é muito dedicada, estou vendo muito esforço. É uma coisa que na minha cidade não tem, então a experiência é muito boa", defendeu.
Essa não foi a primeira vez que Gustavo assistiu uma apresentação de quadrilhas juninas, mas ele argumenta que o nível da Bahia está em outro patamar. "Já tinha visto em outras cidades, mas nesse nível não. Acho que isso aqui é uma valorização da cultura brasileira e de quem está aqui se esforçando, principalmente pelo pessoal treinar seis meses para estar aqui. É um esforço muito grande que tem que ser visto, mostrado e divulgado", defendeu.
Apesar de já viver na cidade há um tempo, o carioca segue se impressionando com o que Salvador tem a oferecer. O campeonato de quadrilhas foi uma prova de que, quando o assunto é cultura, a capital baiana tem para dar e vender. "Estou aqui há quatro anos, mas estou aprendendo cada vez mais com o pessoal daqui. Para mim, é uma experiência nova e muito diferente de lá do Rio de Janeiro".
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