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Ilha de Maré - 09/05/2025, 09:32 - Lucas Vieira* - Atualizado em 09/05/2025, 13:10

Chuvas: prejuízo para barqueiros e pescadores chega a R$ 1 mil por dia

Trabalhadores têm chuva como 'inimiga' do corre

Chuva em Salvador derrubou a renda de quem depende do mar pra viver
Chuva em Salvador derrubou a renda de quem depende do mar pra viver |  Foto: José Simões/Ag A TARDE

Há cerca de duas semanas, a chuva veio com tudo em Salvador, e junto com ela apareceram aqueles velhos perrengues: ruas alagadas, quedas de árvores e muito mais. No meio do caos, tem uma galera que sente o baque e que quase ninguém vê: os barqueiros e pescadores.

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Chuva forte, prejuízo certo

Os que vivem ‘do mar’ de São Tomé de Paripe batalham diariamente nesse período barril. Ficar nas 'mãos' do clima para garantir o pão de cada dia é puxado, imagina quando o céu ‘desaba’? O prejuízo bate na porta, e o jeito é se virar.

Lá, o cenário é de desânimo. O Portal MASSA! trocou uma ideia 'cara a cara' com os ‘correrias’ que fazem a travessia para Ilha de Maré. A palavra que resume tudo é: luta. Sem turistas, com o mar revolto e os ventos fortes, a rotina virou de muito prejuízo.

"O pior nem é a chuva, é o vento! O mar fica perigoso, a galera com medo, e as viagens que a gente fazia, de sete ou oito por dia, caíram para uma ou duas. Antes dava pra fazer até mil conto num dia bom, agora, se fizer R$ 100,00 é muito!", desabafa Beto Neves, que pilota barcos há seis anos.

Passageiros embarcando para Ilha de Maré
Passageiros embarcando para Ilha de Maré | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Barca 'furada' e barqueiros afundando

Além do movimento fraco, os custos só aumentam. Com o 'toró' caindo, a travessia leva mais tempo, mais combustível queimado, mais danos na embarcação. E ainda tem que reduzir o número de passageiros pela segurança.

"A gente pega 10 pessoas no tempo bom. Agora, no máximo, 5 ou 6", explica Elso Ferreira, outro barqueiro que trabalha na área há mais de uma década.

A regulamentação da Capitania dos Portos da Bahia, segundo eles, aperta a mente: exigência de rádio, estrutura e equipamentos de segurança usados em embarcações de mar aberto. "A gente só faz a travessia, praticamente um rio, não é mar aberto não, mas pedem coisa que é difícil até sonhar em comprar, tudo muito caro e desnecessário", desabafa Elso.

Elson Ferreira, barqueiro
Elson Ferreira, barqueiro | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Em contato com o Portal MASSA!, a Capitania dos Portos desmente as afirmações do barqueiro, afirmando que não é responsável por criar essas regras, mas sim agir como órgão que realiza fiscalizações diárias para garantir a segurança da navegação e a preservação ambiental na Baía de Todos-os-Santos, aplicando multas e sanções previstas pelo Regulamento da Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (RLESTA). A Capitania também explica que nas abordagens é verificado se a habilitação do condutor é compatível com o tipo da embarcação, que deve ser inscrita na Capitania dos Portos. Também são verificados a existência e o estado dos equipamentos de segurança coletes salva-vidas, boias), a regularidade dos extintores de incêndio; as luzes de navegação; a lotação e as condições gerais da embarcação.

Mar não tá para peixe, muito menos para os pescadores

Se a situação dos barqueiros já tá desse jeito, a dos pescadores de Praia de Tubarão, que fica 'colada' em São Tomé, não fica atrás. A equipe do Portal MASSA! também chegou lá e bateu um papo com eles pra entender o sufoco.

"Estamos há 13 dias sem pescar. Só prejuízo. Uns R$ 500,00 de perda pra cada um, fora barco estragado, motor lascado, já que temos que deixar eles ancorados na margem esse tempo todo. Tem gente que perde o seu sustento nessa época, e ninguém tá nem aí!", reclama Adriano Menezes, de 42 anos, um dos pescadores locais.

"O vento é pior que a chuva. A chuva até traz os peixes pra perto da costa, mas com essas ventanias, não tem nem como sair, é muito perigoso", explica.

Resultado da pesca da galera de Paripe
Resultado da pesca da galera de Paripe | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Sujou!

Além dos problemas diretos, ainda existem impactos indiretos que pioram tudo. Com as chuvas, o esgoto transborda e cai no mar, prejudicando ainda mais a pesca, especialmente a de mergulho, que depende da visibilidade da água.

"Para quem pesca de mergulho, a chuva complica muito porque suja a água. O esgoto que sai aqui da região acaba com a visibilidade e atrasa ainda mais a volta ao trabalho. Depois da chuva forte, ainda temos que esperar cerca de 15 dias para a água limpar de novo. E esse esgoto é um problema direto, porque quando chove muito, ele transborda," relata Carlos Souza, pescador de 62 anos.

Carlos Souza, pescador de 62 anos
Carlos Souza, pescador de 62 anos | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Pescador com orgulho

Apesar de tudo, Carlos Dias, pescador na área há mais de 20 anos, reconhece o amor pela profissão. "A gente até tenta se planejar, guardar um pouco quando a maré está boa, mas com a inflação alta e os custos subindo, fica impossível. Mesmo assim, vale a pena. Quando você faz aquilo que você gosta, é diferente. Aqui a gente tem a liberdade de trabalhar no nosso tempo, sentir a água nas pernas e o vento no rosto. Isso não tem preço."

Pescadores na Praia de Tubarão
Pescadores na Praia de Tubarão | Foto: José Simões/Ag A TARDE

Faça chuva, faça sol

Representante da associação dos pescadores, Jorge assegura que 'faça chuva, faça sol', o coletivo luta lado a lado dos profissionais "para apoiar todos que vivem da pesca, seja quem está no mar, seja quem ajuda em terra, dos pescadores e marisqueiras até os trabalhadores indiretos da pesca, como mulheres que consertam redes ou vendem peixes".


*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes

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