
Há cerca de duas semanas, a chuva veio com tudo em Salvador, e junto com ela apareceram aqueles velhos perrengues: ruas alagadas, quedas de árvores e muito mais. No meio do caos, tem uma galera que sente o baque e que quase ninguém vê: os barqueiros e pescadores.
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Chuva forte, prejuízo certo
Os que vivem ‘do mar’ de São Tomé de Paripe batalham diariamente nesse período barril. Ficar nas 'mãos' do clima para garantir o pão de cada dia é puxado, imagina quando o céu ‘desaba’? O prejuízo bate na porta, e o jeito é se virar.
Lá, o cenário é de desânimo. O Portal MASSA! trocou uma ideia 'cara a cara' com os ‘correrias’ que fazem a travessia para Ilha de Maré. A palavra que resume tudo é: luta. Sem turistas, com o mar revolto e os ventos fortes, a rotina virou de muito prejuízo.
"O pior nem é a chuva, é o vento! O mar fica perigoso, a galera com medo, e as viagens que a gente fazia, de sete ou oito por dia, caíram para uma ou duas. Antes dava pra fazer até mil conto num dia bom, agora, se fizer R$ 100,00 é muito!", desabafa Beto Neves, que pilota barcos há seis anos.

Barca 'furada' e barqueiros afundando
Além do movimento fraco, os custos só aumentam. Com o 'toró' caindo, a travessia leva mais tempo, mais combustível queimado, mais danos na embarcação. E ainda tem que reduzir o número de passageiros pela segurança.
"A gente pega 10 pessoas no tempo bom. Agora, no máximo, 5 ou 6", explica Elso Ferreira, outro barqueiro que trabalha na área há mais de uma década.
A regulamentação da Capitania dos Portos da Bahia, segundo eles, aperta a mente: exigência de rádio, estrutura e equipamentos de segurança usados em embarcações de mar aberto. "A gente só faz a travessia, praticamente um rio, não é mar aberto não, mas pedem coisa que é difícil até sonhar em comprar, tudo muito caro e desnecessário", desabafa Elso.

Em contato com o Portal MASSA!, a Capitania dos Portos desmente as afirmações do barqueiro, afirmando que não é responsável por criar essas regras, mas sim agir como órgão que realiza fiscalizações diárias para garantir a segurança da navegação e a preservação ambiental na Baía de Todos-os-Santos, aplicando multas e sanções previstas pelo Regulamento da Lei de Segurança do Tráfego Aquaviário (RLESTA). A Capitania também explica que nas abordagens é verificado se a habilitação do condutor é compatível com o tipo da embarcação, que deve ser inscrita na Capitania dos Portos. Também são verificados a existência e o estado dos equipamentos de segurança coletes salva-vidas, boias), a regularidade dos extintores de incêndio; as luzes de navegação; a lotação e as condições gerais da embarcação.
Mar não tá para peixe, muito menos para os pescadores
Se a situação dos barqueiros já tá desse jeito, a dos pescadores de Praia de Tubarão, que fica 'colada' em São Tomé, não fica atrás. A equipe do Portal MASSA! também chegou lá e bateu um papo com eles pra entender o sufoco.
"Estamos há 13 dias sem pescar. Só prejuízo. Uns R$ 500,00 de perda pra cada um, fora barco estragado, motor lascado, já que temos que deixar eles ancorados na margem esse tempo todo. Tem gente que perde o seu sustento nessa época, e ninguém tá nem aí!", reclama Adriano Menezes, de 42 anos, um dos pescadores locais.
"O vento é pior que a chuva. A chuva até traz os peixes pra perto da costa, mas com essas ventanias, não tem nem como sair, é muito perigoso", explica.

Sujou!
Além dos problemas diretos, ainda existem impactos indiretos que pioram tudo. Com as chuvas, o esgoto transborda e cai no mar, prejudicando ainda mais a pesca, especialmente a de mergulho, que depende da visibilidade da água.
"Para quem pesca de mergulho, a chuva complica muito porque suja a água. O esgoto que sai aqui da região acaba com a visibilidade e atrasa ainda mais a volta ao trabalho. Depois da chuva forte, ainda temos que esperar cerca de 15 dias para a água limpar de novo. E esse esgoto é um problema direto, porque quando chove muito, ele transborda," relata Carlos Souza, pescador de 62 anos.

Pescador com orgulho
Apesar de tudo, Carlos Dias, pescador na área há mais de 20 anos, reconhece o amor pela profissão. "A gente até tenta se planejar, guardar um pouco quando a maré está boa, mas com a inflação alta e os custos subindo, fica impossível. Mesmo assim, vale a pena. Quando você faz aquilo que você gosta, é diferente. Aqui a gente tem a liberdade de trabalhar no nosso tempo, sentir a água nas pernas e o vento no rosto. Isso não tem preço."

Faça chuva, faça sol
Representante da associação dos pescadores, Jorge assegura que 'faça chuva, faça sol', o coletivo luta lado a lado dos profissionais "para apoiar todos que vivem da pesca, seja quem está no mar, seja quem ajuda em terra, dos pescadores e marisqueiras até os trabalhadores indiretos da pesca, como mulheres que consertam redes ou vendem peixes".
*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes