
A morte do professor Davidson Souza Brito, de 33 anos, por meningite bacteriana em Feira de Santana (BA), reacendeu o alerta para uma doença grave, que pode matar rapidamente e que não se pode subestimar.
A meningite tem cura, mas também tem complicações sérias, sequelas permanentes e, em muitos casos, uma evolução rápida e fatal. A boa notícia? Algumas das formas mais perigosas podem ser prevenidas com vacina.
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Em entrevista ao MASSA!, Akemi Erdens, técnica da Vigilância Epidemiológica da Secretaria da Saúde da Bahia (Sesab), explica o que é a doença, como ocorre a transmissão e por que é urgente que a população se vacine.
O que é meningite?
"Meningite é um quadro que ocasiona uma inflamação das meninges, que são as membranas que recobrem o nosso cérebro", explica Akemi. Essa inflamação pode ser provocada por vírus, bactérias, fungos ou até traumas. Mas é a forma bacteriana que mais preocupa.
“O que a gente procura vigiar aqui na Vigilância Epidemiológica são, principalmente, as meningites bacterianas. Porque elas têm um potencial maior de levar a quadros graves e até óbitos. Potencial também de causar surtos, epidemias. E algumas delas têm proteção por causa da vacina”, afirma.
Porque elas têm um potencial maior de levar a quadros graves e até óbitos. Potencial também de causar surtos, epidemias
Já as formas virais da doença, segundo ela, "são meningites mais leves, mais auto-limitadas, com menos complicações. Não é que seja impossível uma complicação, mas é muito mais difícil".
Quais os sintomas?
As meningites bacterianas evoluem com muito mais rapidez e intensidade. “O quadro clínico é mais agudo, pode gerar outras complicações, como dificuldades respiratórias, levando até ao choque”, alerta a especialista.
Apesar dessa diferença, os sintomas são bem parecidos com os de um quadro viral: dor de cabeça forte e persistente, náusea e vômitos em jato, e febre indicam a necessidade de buscar atendimento.
"É muito importante procurar uma unidade de saúde para que seja feita a investigação clínica e laboratorial. Só assim é possível confirmar a meningite e identificar o agente causador", reforça Akemi.
Transmissão e prevenção
A transmissão da meningite acontece por meio de secreções das vias respiratórias, como saliva, tosse e espirros. "É na orofaringe que a bactéria se aloja, de modo geral. A proteção eficaz é somente por meio da vacina para algumas meningites", aponta a técnica da Sesab.
A rede pública oferece proteção contra os principais tipos de meningite bacteriana. Entre elas, estão a meningite meningocócica (sorogrupos C, A, W e Y), a meningite por Haemophilus influenzae tipo B (via vacina pentavalente) e a meningite tuberculosa (prevenção feita com a vacina BCG).
"Aquelas pessoas que não são vacinadas e que têm contato com portadores, geralmente assintomáticos (como é comum entre adolescentes) correm risco. Por isso é tão importante vacinar esse grupo".
O calendário vacinal da rede pública contempla:
✅ BCG ao nascer, que protege contra meningite tuberculosa;
✅ Pentavalente: aos 2, 4 e 6 meses (com reforço), protegendo contra a Haemophilus;
✅Meningocócica C: aos 3, 5 e 12 meses;
✅ Meningocócica ACWY: para adolescentes de 11 a 14 anos.

"A vacina está disponível durante todo o ano, em todos os postos de saúde. Precisamos melhorar nossas coberturas vacinais para proteger não só quem toma a vacina, mas também quem não faz parte do público-alvo, através do efeito de proteção coletiva", reforça Akemi.
Nos primeiros meses de 2025, a Bahia registrou 50 casos de meningite e sete óbitos. Em todo o ano de 2024, foram 101 casos registrados e 20 óbitos no estado.
O que fazer em caso de contato?
Se você teve contato próximo com alguém diagnosticado com meningite bacteriana, o ideal é procurar atendimento o quanto antes.
"As medidas de controle principais incluem a vacinação e uma ação chamada quimioprofilaxia. É uma medicação feita até 10 dias após o contato, que reduz bastante o risco de desenvolver a doença", pontua.
Ou seja, mesmo antes de sair o resultado laboratorial, se há suspeita forte de meningite bacteriana, o protocolo já recomenda a investigação dos contatos próximos e o uso de antibióticos preventivos. Esse protocolo já está sendo aplicado em Biritinga, cidade onde o Davidson trabalhava.
Apelo à prevenção
Apesar da dor que casos como o do professor Davidson causam, a tragédia pode servir como alerta: a meningite é grave, rápida e imprevisível. Mas é possível se proteger.
"É importante que todas as famílias levem seus filhos, seja criança ou adolescente, para fazer o uso dessa vacina. A gente precisa evitar que o medo venha só depois do óbito. A vacina está lá. Está disponível. Falta só a gente ir buscar", finaliza.