
A depressão na terceira idade costuma ser silenciosa, mas não inexistente. Sintomas como cansaço, perda de memória, irritabilidade e ansiedade podem ser confundidos com o processo natural do envelhecimento.
No entanto, como explica a psicanalista Ana Chaves, familiares e cuidadores devem ficar atentos, já que esses sinais aparentemente inofensivos podem indicar um quadro depressivo.
Leia Também:
O alerta ganha ainda mais destaque no Dia do Idoso, celebrado neste 1º de outubro. A data, criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem o intuito de reforçar a necessidade de respeito e mudanças em relação à população idosa.
Na Bahia, um levantamento feito pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), em setembro deste ano, apontou que idosos a partir dos 60 anos representam 17,7% dos casos de suicídio no estado.
Segundo a psicanalista, existem fatores emocionais e sociais que aumentam a vulnerabilidade do idoso à depressão: “Podemos ter perdas acumuladas, como o luto pela morte de um cônjuge ou de amigos. A aposentadoria também é uma perda, porque acaba tirando papéis, propósito e renda. Além disso, as doenças crônicas e a dor trazem limitações funcionais, fadiga e o medo de ficar dependente dos outros, de perder a independência. O isolamento social também pesa muito nesse processo”, explica.
Abandono e Depressão: idosos se sentem um peso
A realidade não é diferente nos lares de idosos. Em Salvador, o asilo São Lázaro, que acolhe pessoas em situação de rua e vulnerabilidade, também enfrenta os impactos da depressão entre os residentes.
“Os familiares trazem os idosos ‘enganados’, dizendo que vão passear ou ao médico, e depois vão embora. Eles ficam muito tristes”, relata Gleide Pereira Cardoso, cuidadora no local.
Eles falam que criaram a família, trabalharam muito para dar o bom e o melhor. E quando chega o fim da vida deles, acabam sendo abandonados. Muitos choram. É complicado
Cuidadora de idosos Gleide Cardoso
Tratamento e equilíbrio
A distância da família, visitas raras e o sentimento frequente de abandono se somam à baixa autonomia típica dessa fase da vida. Ainda de acordo com Ana Chaves, é possível adotar ações simples e efetivas para manter o idoso engajado e socialmente ativo. Na família, ela recomenda:
📅 Criar uma agenda de contato estruturado, com visitas e ligações em dias e horários fixos;
👵👴 Envolver o idoso em decisões da casa e tarefas que valorizem sua experiência, como contar receitas, cuidar de plantas ou interagir com os netos;
👓🔊 Fazer ajustes sensoriais e ambientais, como óculos, aparelhos auditivos, iluminação adequada e corrimãos, além de usar tecnologia amigável para chamadas de vídeo e grupos de WhatsApp;
🚗 Organizar rodízios para transporte a consultas, fisioterapia ou encontros com amigos.

Já na vida social, Ana destaca a importância de grupos e atividades coletivas:
🎶 Participar de corais e oficinas de dança;
💪 Atividades físicas supervisionadas, como hidroginástica em grupo;
🌱 Envolvimento em hortas comunitárias e clubes de bairro;
☕ Programar visitas e encontros sociais para promover convívio, como cafés, conversas e caminhadas.
“Essas ações ajudam a reduzir a solidão, promovem engajamento e mantém o idoso ativo, evitando o isolamento e contribuindo para o bem-estar emocional”, defende a especialista.
Na terceira idade, a vida continua
Ao contrário dos estigmas que idosos devem 'descansar' quando chegam à aposentadoria, a médica Nair Colares mostra que se manter ativa é o que traz lucidez e bem-estar. Aos 72 anos, ela segue na ativa como neonatologista em Salvador.
"O que me mantém é o amor pela minha profissão. Eu amo o que faço, e além disso, o trabalho nos dá a percepção de que estamos vivos e ainda produtivos. E isso nos faz muito bem. Enquanto eu puder, estarei por aqui!", detalhou ao Portal MASSA!.

Além de manter a vida profissional, a médica cearense também não abre mão das atividades físicas, praticando pilates, ballet, dança de salão e jazz. "Cada um tem que fazer uma atividade que lhe dê prazer. A dança pra mim é meu maior combustível, e ela está sempre presente na minha rotina. É como respirar. É básico", disse.

A prática de esportes ajuda a manter a saúde física, mas a autoestima também merece atenção. Um estudo da Kantar revelou que 20% das brasileiras enfrentam baixa autoestima, um problema que tende a se agravar com a idade.
Para manter a confiança e bem-estar, Nair aposta em aceitação e consciência do próprio envelhecimento:
O processo de envelhecimento é natural. As transformações vão acontecendo de forma gradativa, dando tempo suficiente para nos acostumarmos com as mudanças do corpo e da mente. Claro, sempre respeitando os limites. Me considero uma idosa feliz
Médica neonatologista Nair Colares