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vale cuidar - 15/08/2025, 08:00 - Lais Machado*

TDAH em idosos: esquecimento vai além do ‘coisa da idade’

Sintomas podem ser confundidos com demência e impactar no social e emocional

Mais de 15% da população idosa no Brasil se sente isolada
Mais de 15% da população idosa no Brasil se sente isolada |  Foto: Ilustrativa/Reprodução/Pexels

“Cadê meus óculos?”, “Será que deixei o fogão ligado?”, “Não era hoje aquela consulta?”. Perguntas como estas ficam mais comuns com o passar dos anos e, apesar de fazerem parte da rotina do processo de envelhecimento, podem ser interpretadas como simples distração, ou falta de interesse.

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Com essa condição natural, muitos idosos acabam se tornam vítimas de preconceito e, em alguns casos, até de agressão. Segundo a pesquisa de 2017, levantada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo menos 15,7% da população idosa no Brasil está sujeita a algum tipo de violência.

No entanto, quem convive com o idoso deve estar atento. Nem sempre o esquecimento frequente é sinal de descuido ou sintoma de demência: ele pode apontar para o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

“Embora o TDAH seja um transtorno do neurodesenvolvimento geralmente diagnosticado na infância, muitos casos não são reconhecidos até a fase adulta ou mesmo na velhice”, explica a neurocientista e psicanalista Ana Chaves ao MASSA!.

Aspas

Os sintomas podem se mascarar com outros quadros (como demência leve ou depressão)

Neurocientista e Psicanalista Ana Chaves

O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que ocorre durante a maturação do sistema nervoso - desde o primeiro trimestre de gestação até cerca de 25 anos, quando o córtex pré-frontal, responsável pelas funções executivas mais complexas, completa seu desenvolvimento. O problema é que nem todo mundo procura ajuda médica diante dos sintomas.

Por isso, muitos idosos vivem a vida toda com TDAH, e só descobrem o diagnóstico na terceira idade, ao acreditarem ter outras doenças. Segundo a especialista, os sintomas mais comuns nos idosos são:

😵‍💫 Desatenção crônica: esquecimentos constantes de compromissos, objetos e nomes; dificuldade em manter o foco; distrações frequentes;

😱 Desorganização: problemas para manter a rotina, gerenciar finanças ou tomar medicamentos; tendência a procrastinar tarefas importantes;

😡 Impulsividade emocional: reações exageradas, irritabilidade e dificuldade para controlar frustrações;

😴 Inquietação mental: mente acelerada, ansiedade e insônia - diferente da agitação física observada em crianças.

É comum que filhos, netos ou amigos confundam sintomas do transtorno com desinteresse, irritabilidade ou teimosia. “Isso ocorre porque o transtorno pode afetar diretamente a atenção do outro, as oscilações de humor e a capacidade de acompanhar rotinas sociais. O idoso pode, por exemplo, evitar atividades com os netos por se sentir sobrecarregado, e isso pode ser interpretado como frieza ou distância emocional”, aponta a neurocientista.

Para diferenciar comportamentos considerados normais do envelhecimento de sinais que podem indicar TDAH, Ana recomenda atenção a alguns critérios:

- Esquecimentos pontuais X Esquecimentos que afetam o dia a dia de forma recorrente;
- Lentidão nas tarefas X Início das tarefas, mas sem concluí-las;
- Cansaço natural com atividades X Evita atividades por ansiedade;
- Dificuldade de adaptação tecnológica X Impulsividade em clicar, agir sem ler instruções.

Isolamento

O isolamento social é uma realidade crescente entre idosos no Brasil e, no caso de quem vive com TDAH, pode ser ainda mais acentuado. Uma pesquisa brasileira, publicada na edição de julho da revista científica Cadernos de Saúde Pública, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), analisou 9.412 idosos e revelou que 16% afirmaram se sentir sozinhos o tempo inteiro.

Para a neurocientista e psicanalista Ana Chaves, evitar atividades físicas ou sociais entre idosos com TDAH costuma estar ligada à baixa tolerância à frustração, ansiedade antecipatória, hiperfoco em tarefas sem importância e dificuldade em lidar com ambientes sensoriais intensos.

Ainda segundo a especialista, é possível incentivar esses idosos sem gerar pressão ou frustração, desde que a abordagem seja leve e respeitosa. Entre as estratégias recomendadas por ela estão:

🏃🏽‍♂️ Propor atividades pequenas, prazerosas e previsíveis;
👥 Usar linguagem positiva e sem cobrança;
😍 Celebrar pequenas vitórias;
🗂️ Criar rotinas com recompensas emocionais;
📌 Utilizar ajudas visuais e lembretes práticos.

'Tratamento' constante

O estigma é outra barreira que pesa sobre o idoso com TDAH, que pode ser visto apenas como intolerante e ‘respondão’.

Aspas

Ainda é comum que o idoso seja visto como preguiçoso, desorganizado ou sem proatividade. Essa é uma visão capacitista e moralista, que interpreta dificuldades neurofuncionais como falhas de caráter

Neurocientista e Psicanalista Ana Chaves

De modo geral, o 'tratamento' para executar o cuidado com o idoso. associado ao combate desse preconceito, pode ser feito por meio de ações simples. Entre elas está o investimento na educação familiar, a validação da experiência do idoso, o estímulo ao autoconhecimento e a adoção de uma linguagem respeitosa no dia a dia, como substituir o "preguiçoso" por "está em fase de baixa energia" e o "desorganizado" por "tem dificuldade com planejamento".

*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes

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