
Além do clima semiárido, da vegetação da caatinga e outras características marcantes, a região norte da Bahia também comporta uma particularidade muito explorada pelos criminosos: um território chamado de Polígono da Maconha. A zona é constantemente utilizada para o cultivo do entorpecente, que após colhido é distribuído tanto para Salvador quanto para outros territórios.
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A prática criminosa, no entanto, está na mira das autoridades policiais há anos. Os pontos de cultivo do material ilegal são analisados pelos serviços de inteligência e operações de erradicação são deflagradas por todo o território, ‘quebrando a guia’ do tráfico.
O combate tem tido resultados cada vez mais expressivos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA), este ano, de janeiro a agosto, mais de 1 milhão de pés de maconha já foram destruídos em todo o estado, sendo a maior parte oriunda da região norte do estado. Os dados superaram a marca de 2024, quando foram erradicados cerca de 700 mil pés da cannabis.
Esquema de desarticulação da prática
As estratégias de combate à plantação da droga foram explicadas pelo Major Lizandro, da 45ª CIPM, em entrevista exclusiva à reportagem do Portal MASSA!. Segundo ele, a corporação possui diversos artifícios especializados para identificar os pés de maconha e dificultar as ações dos traficantes.
“A gente dispõe de um mapeamento via satélite, um sistema chamado Brasil Mais, onde conseguimos identificar as roças com fotos de satélite. Dessas imagens, tiramos a coordenada geográfica e, com apoio de drones, fazemos o reconhecimento. A partir do momento em que a foto do satélite nos dá a coordenada, levantamos o drone, confirmamos a existência da roça e, com as imagens, realizamos a erradicação”, disse.

Quando a polícia não chega antes e dá tempo para a colheita, os bandidos partem para a fase de transporte e comercialização, tanto por terra, quanto pelo rio, utilizando embarcações. Cientes do modus operandi, os policiais militares armaram um esquema para barrar esse deslocamento e ‘cortar o mal pela raiz’, literalmente.
“No combate ao transporte da droga, que é o escoamento, fazemos vários PC-Trans nas rodovias próximas ao polígono da maconha, além da execução de blitz, para evitar esse transporte. Também realizamos patrulhamento fluvial, justamente para coibir o transporte por embarcações”, detalhou o Major Lizandro.
Resultados obtidos pela 45ª CIPM nos últimos três anos:
- 2023 - 163.600 pés de maconha erradicados;
- 2024 - 302.760 pés de maconha erradicados;
- 2025 - 545.476 pés de maconha erradicados.
Entenda o Polígono da Maconha
A denominação Polígono da Maconha surgiu porque a área geográfica de 13 municípios - sendo 10 em Pernambuco e três na Bahia - ,onde há cultivo do entorpecente, desenha uma espécie de polígono.
Segundo o major, as cidades baianas envolvidas nesse meio são: Juazeiro, Curaçá e Paulo Afonso. Já em Pernambuco, os municípios que fazem divisa com a Bahia e estão mais próximas da região da 45ª CPM são: Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande, Cabrobó e Orocó.

O oficial da PM destacou que a localização geográfica é estratégica, favorecendo o tráfico tanto para o Norte quanto para o Nordeste, pois o centro está a menos de 600 km de oito capitais nordestinas.
“O que acontece é o seguinte: se você pudesse traçar um círculo e colocar o centro dele, o Polígono da Maconha estaria exatamente entre 550 a 600 quilômetros de oito capitais do Nordeste. Ele está nessa mesma distância de Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal e Teresina”, apontou.
Vale ressaltar que a maconha produzida no polígono abastece todo o Nordeste e o Norte do país. Já a que é consumida no Sudeste e no Sul, ela vem de regiões da fronteira com o Paraguai
Major Lizandro, da 45ª CIPM
Rio São Francisco contribui para o plantio
O Rio São Francisco, que corta a Bahia nas regiões norte e oeste, também possui um papel fundamental na dinâmica da colheita e tráfico da maconha. O curso d'água não só facilita a irrigação da erva como também é um meio para o transporte do material ilegal.
“Tem total impacto. A região possui características geográficas que favorecem o cultivo da maconha. O solo e o clima da Caatinga, com alta incidência de sol e um solo estruturado, rico em minerais, permitem até três safras por ano”, explicou o Major.

Em nota divulgada pela SSP-BA, o secretário da pasta, Marcelo Werner, ressaltou o combate ao plantio de maconha. “Descapitalizar as facções é uma das principais linhas de atuação das Forças Policiais da Bahia. Continuaremos ampliando as ações de inteligência e atuando de forma integrada contra o crime organizado”.