A ficha de Marcelo Batista da Silva, o principal suspeito pelo desaparecimento de dois funcionários do ferro-velho dele, é ainda maior do que se imaginava. Além de estar sendo investigado pelo sumiço de Paulo Daniel e Matuzalém Silva, e ser suspeito de mandar matar um ex-funcionário e sua companheira, Adson Davi do Carmo Santos e Priscila Cruz dos Santos, ele pode ter ligação com milícia e tráfico de armas.
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De acordo com as informações presentes no inquérito policial que investiga o empresário, divulgadas pelo g1 e TV Bahia, ele teria contratado dois policiais corruptos para ‘se livrar’ de Adson Davi e Priscila, há alguns anos. Esse desdobramento acabou levantando a suspeita de que milicianos também podem estar envolvidos no desaparecimento de Paulo Daniel e Matuzalém, que sumiram no dia 4 de novembro e não foram encontrados até o momento.
Veja um trecho do inquérito:
O depoimento de uma testemunha apontou que, assim como Adson Davi, Paulo Daniel e Matuzalém Silva foram acusados pelo empresário de furtar o ferro-velho. O trabalhador, que não foi identificado, revelou que soube por terceiros que tiros foram disparados dentro do estabelecimento no dia em que eles desapareceram, pelo horário da tarde. Ele foi orientado por um colega a contar a situação para a esposa de Daniel.
A testemunha acredita que os jovens tenham sido executados dentro do ferro-velho e tiveram os corpos ocultados com ajuda de milicianos que fazem a segurança do empresário. Os cadáveres teriam sido removidos do local e levados para um destino desconhecido, no carro de Marcelo Batista. Um outro funcionário, que tinha muita proximidade com o chefe, também pode ter participado do crime.
Os últimos momentos de Paulo Daniel e Matuzalém
Além do vídeo que mostra Paulo Daniel e Matuzalém indo ao trabalho, no ferro-velho localizado no bairro de Pirajá, em Salvador, a testemunha relatou que os dois fizeram o serviço normalmente durante a manhã. Em um determinado momento, outros trabalhadores notaram que os dois haviam sumido do local, mas não sabiam o que havia acontecido.
Ainda segundo o depoimento do funcionário, todos os ‘peões’ encerravam o expediente às 19h e só conseguiam sair do local quando Marcelo Batista autorizava a abertura do portão do galpão. Ninguém podia deixar o trabalho antes de passar por uma revista íntima e pessoal, que incluía até as quentinhas que eles levavam para almoçar.
Comportamento agressivo e ligação com o tráfico de armas
Marcelo Batista teria o costume de andar armado pela empresa e fazia ameaças constantes aos funcionários. Testemunhas garantiram que ele andava acompanhado por vários policiais militares, que faziam a segurança particular dele diariamente, sendo que cada dia da semana era um agente diferente.
Todas as pessoas que atuavam na sede da empresa sabiam que o empresário era membro de milícia, pois ele não fazia questão de esconder, e já chegou a oferecer cocaína como pagamento de salário a alguns funcionários.
Além disso, Marcelo teria intimidado, humilhado e submetido os subordinados ao serviço intenso com carga horária excessiva, ultrapassando as 16h de trabalho, para encherem contêineres de ferro por vários dias seguidos.
O empresário também teria o esquema de colocar armas para serem enviadas às facções e milícias, pelo período da noite, após a saída dos funcionários. Ele misturava os armamentos com outras mercadorias, facilitando o comércio ilegal e criminoso.
Todas as informações desta matéria são baseadas nos relatos presentes no inquérito do caso, realizado pela Polícia Civil da Bahia. Não há registro oficial de Marcelo Batista como ex-policial militar e também não há nenhuma comprovação de que policiais militares tenham atuado na morte de Adson e Priscila. O caso continua sendo investigado pelas autoridades.