A diretora da Casa de Acolhimento Marielle Franco Brasil, instituição social localizada em Salvador, Sandra Muñoz, comemorou a prisão do cantor Eduardo Martins, mais conhecido como Dudu, ex-vocalista da banda New Hit. Ela também declarou que aguarda pelo momento em que os outros integrantes do grupo vão estar atrás das grades.
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Atuando diretamente no acolhimento de mulheres e membros da comunidade LGBTQIAPN+ em situação de violência ou risco de morte, há cerca de 37 anos, Sandra Muñoz conversou com o Portal MASSA! sobre todo o período em que clamou por justiça para as duas vítimas de estupro coletivo, cometido por membros da New Hit, em 2012. Na época do crime, as adolescentes tinham apenas 16 anos e sofreram várias retaliações após expor o caso.
“Para mim e para as meninas foi muito doloroso. As casas delas foram apedrejadas, muitas mulheres se voltaram contra elas. Aquelas meninas sofreram bastante”, lamentou.
Segundo a diretora da Casa Marielle Franco, que também atua como coordenadora da Rede de Enfrentamento à Violência Contra Mulher, as garotas foram levadas para outro estado após a repercussão da denúncia, pelo Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), mas ainda assim passaram por um episódio traumático, onde correram risco de morte.
Um homem, que não foi identificado, teria invadido o local onde as duas estavam abrigadas. O medo de que algo ainda pior acontecesse tomou conta delas. Foi então que as histórias de Sandra e das vítimas se entrelaçaram.
Essas meninas ficaram muito acuadas, porque a gente é estuprada e a sociedade vai atrás de nós, ela não vai atrás do estuprador
Sandra Muñoz
As adolescentes foram retiradas do esconderijo e levadas para outro local, em segurança, ficando sob cuidados e proteção de Sandra Muñoz. Enquanto uma delas decidiu voltar para a Bahia, a outra optou por reconstruir a vida em outro lugar, sem a possibilidade de ser reconhecida.
Sandra diz que foi ameaçada
A coordenadora da Casa de Acolhimento Marielle Franco acusou um empresário da banda New Hit de ter feito ameaças de morte contra ela. “Fui ameaçada de morte, o empresário foi na porta da minha casa com uma arma para me ameaçar”.
Apesar do susto, Sandra Muñoz não se curvou. Ela organizou diversas manifestações clamando para que a justiça fosse feita e os culpados pagassem pelo crime cometido. Com auxílio da própria família e de apoiadores, já que a instituição social não possui apoio governamental ou municipal, ela reuniu diversas pessoas e alugou ônibus para protestar.
Ao longo dos anos, Sandra fez vários protestos em shows dos integrantes da banda, acompanhou o julgamento do caso e até “perseguiu” Dudu, ao ponto dele dizer que a "odeia". Ao MASSA!, ela contou que essa sede de justiça foi motivada por uma promessa que fez a si mesma, no passado.
“Na verdade, eu não consegui ir atrás do meu estuprador e então fiz uma promessa pra mim de que todo estuprador que eu encontrasse, eu ia acabar com tudo. Depois eu resolvo a minha vida, depois eu resolvo na delegacia, eu não tenho medo de homem, a gente que está nessa luta não pode ter medo, nem dá tempo de ter medo”, disparou.
O gosto da vitória
A notícia da nova prisão de Eduardo Martins, que foi condenado a uma pena de pouco mais de 10 anos, chegou aos ouvidos de Sandra Muñoz no início da manhã desta terça-feira (3). O sentimento dela é de que toda a luta travada valeu a pena.
“Na hora que eu recebi essa notícia foi muito impactante, porque a gente faz um esforço muito grande e a gente não é apoiada por fazer esse esforço”, disse.
Além de Dudu, os outros sete condenados pela Justiça também devem ter o mandado de prisão cumprido em breve. São eles: Alan Aragão Trigueiros, Edson Bonfim Berhends Santos, Guilherme Augusto C. Silva, Jhon Ghendow de Souza Silva, Michel Melo de Almeida, Weslen Danilo Borges Lopes e William Ricardo de Farias.
Enquanto as novas prisões não são realizadas, a diretora da Casa Marielle Franco explica que só o fato do vocalista ter sido conduzido para a detenção já é motivo para ela comemorar. “A minha meta era o Dudu, porque o Dudu que era a cabeça. O Dudu que estava na frente do processo”.
Por fim, Sandra Muñoz cobrou que a Justiça dê uma resposta para a sociedade, mesmo depois de tantos anos. “A gente quer que todos sejam presos por esse crime brutal”, concluiu.