
Longe dos holofotes do futebol, dois atletas baianos vêm se destacando pelo Brasil ao defenderem a camisa do Bahia/Daten em competições estaduais e nacionais de uma modalidade ainda pouco famosa, mas que cresce a cada ano: o futevôlei. Unidos, os jogadores Felipe Paixão, o ‘Índio’, de 21 anos, e Felipe Alves, apelidado como ‘Iceman’, de 23, formam uma das duplas mais imbatíveis da categoria, com mais de 20 títulos conquistados.
Leia Também:
Além de compartilharem o mesmo nome e sangue baiano correndo nas veias, os dois também se completam dentro da quadra de areia. O entrosamento construído em anos se reflete em cada torneio, com jogadas combinadas, confiança mútua e a alegria de estar realizando um sonho de criança. Fora da areia, a sintonia entre eles também ficou evidente em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!.
“Como a gente sempre fala, tentamos sempre nos divertir ao máximo dentro e fora de quadra, mas com responsabilidade quando a gente tá lá dentro. A gente leva não só o nosso coração, não só o nosso sonho, mas também o sonho da nossa família, dos nossos amigos que nos acompanham, de todos os patrocinadores. Tentamos botar tudo isso dentro de quadra, jogar com responsabilidade e sempre buscar o lugar mais alto do pódio”, declarou Índio.

Ao lado do ex-jogador e cria da base do Esquadrão, Zé Luís, os esportistas iniciaram sua trajetória na equipe baiana em maio deste ano, quando foram oficialmente apresentados pela Associação E.C.B. como novos integrantes do time de futevôlei, patrocinados pela empresa de tecnologia Daten.
Ambição de campeão: o desejo por mais títulos
A parceria, aliada ao talento e trabalho duro dos xarás, é um dos segredos por trás do sucesso da dupla. Resultado disso foram os dois troféus do Campeonato Brasileiro de Futevôlei 4x4 conquistados com o Tricolor de Aço em apenas dois meses de contrato.
Os resultados positivos deixaram o treinador Ramon Pitta, que acompanha os jovens há cerca de três anos, orgulhoso. “Essa amizade, essa relação que a gente tem fora de quadra, se reflete dentro de quadra. Então é sempre um torcendo pelo outro, um sempre tentando fazer pelo outro. E a gente cresceu junto. A gente começou junto, começamos juntos e estamos crescendo juntos”, destacou Iceman.

A ambição por novas conquistas motiva os atletas, que se preparam para começar os desafios da Liga Nacional de Futevôlei 2025. Com início previsto para 1º de agosto, o trio ‘Iceman’, ‘Índio’ e ‘Zé Luís’ estreia no torneio, sediado no Rio de Janeiro, contra o Goiás às 16h.
“A gente está muito confiante. Muito bem treinado. O Ramon (treinador) tá sempre com a gente, nos apoiando, nos dando confiança. Então a gente tá com energia boa, descansados, bem treinados, 100% fisicamente. A gente vai atrás das vitórias na Liga Nacional”, expressou Iceman.
“Estou muito confiante. Tem um parceiro do meu lado que me deixa confiante em todo momento. Tem o Zé também, que se tornou um pai pra gente. Tem o Ramon, o Vini... Toda a nossa equipe tá sempre conversando com a gente. Vamos chegar bem e representar o Bahia da melhor forma possível”, projetou Índio.
A gente acorda pensando em competição, dorme pensando em competição, mas é isso aí. A gente tem que controlar a ansiedade, tem que se preparar, se dedicar ao máximo. E, quando chegar o dia da competição, estar 100% focado e buscar o melhor resultado

Por falar em conquistas, neste quesito o Bahia está representado por verdadeiros vencedores natos. Mesmo com pouca idade, os 'Felipes' já possuem um currículo brilhante em suas carreiras. Confira a lista de títulos da dupla abaixo:
Felipe Iceman:
1x Sul-Americano 3x3;
4x Circuito Brasileiro de Futevôlei (CBFut);
2x Brasil Open;
1x Estação Open;
2x Team Águia Footvolley Cup (TAFC);
1x Campeonato Brasileiro de Futevôlei 4x4 open;
1x Campeonato Brasileiro de Futevôlei 4x4 sub-23;
12x Campeonato Baiano;
1x Copa Paulista.
Felipe 'Índio':
1 Sul-Americano 3x3;
4x CBFut;
1x LNF;
2x Brasil Open;
1x Estação Open;
2x TAFC;
1x Campeonato Brasileiro de Futevôlei 4x4 open;
1x Campeonato Brasileiro de Futevôlei 4x4 sub-23;
12x Campeonato Baiano.
História de vida e ligação com o esporte
Nascidos e criados no interior da Bahia, os jovens Felipe Paixão e Felipe Alves cresceram com o sonho em comum: de se tornarem jogadores de futebol. No entanto, foi nas areias que desenvolveram uma nova paixão.
Durante o bate-papo, os dois descreveram suas histórias no esporte como desafiadoras e de superação.
Felipe Iceman: “Sou nascido em Nazaré das Farinhas, mas com 7 anos fui pra Guaibim, porque a família da minha mãe é de lá. Fiquei morando lá, jogando futebol. Depois comecei a ver os caras jogando futevôlei na praia e tomei gosto. Comecei a assistir, mas tinha medo de jogar. E os caras lá eram muito antigos, só jogavam entre eles, não deixavam ninguém novo entrar. Mas eu ficava sempre ali, assistindo. Até que um dia, lembro até hoje, minha primeira partida foi um jogo apostado. Me chamaram pra jogar, entrei, perdi o jogo, mas fiquei feliz. Continuei jogando, fui crescendo, ainda jogava futebol também. Aí chegou um momento que desisti do futebol e foquei só no futevôlei. Comecei a treinar, dar aula, participar de campeonatos, viajar pros interiores da Bahia... Até que tive a oportunidade de vir pra Salvador, pra fechar dupla com Índio. Aceitei o desafio”.

Felipe Índio: “Sou de Morro de São Paulo. Morei lá até meus 13 anos. Depois, como a maioria dos jovens brasileiros, sonhava em ser jogador de futebol e fui em busca desse sonho, mas acabou não dando certo. Joguei a Copa do Brasil pelo River do Piauí, sub-17 e, depois disso, meus amigos falaram: “Você tem talento pro futevôlei também, já joga bem, se dedica”. Voltei pro Morro e um amigo meu, aqui de Salvador, me convidou pra dar aula. Desde então, comecei a me dedicar aos treinos, à academia, e conheci o Ramon, que é nosso treinador hoje. Com o tempo, começamos a treinar juntos e fechei dupla com Felipe. Sonhava em ser jogador de futebol, não deu certo... Mas o futevôlei tirou aquele gostinho ruim de não ter realizado o sonho. Hoje, a gente se diverte, realiza os sonhos da nossa família”.
Tricolores de coração
Entre os sonhos realizados estava defender a camisa do Esquadrão. Torcedores declarados do Esporte Clube Bahia desde a infância, os dois atletas afirmam que os sentimentos vêm com o dobro de intensidade quando representam a equipe nas competições.
“É um gostinho em dobro. A gente fica muito feliz. É um sonho de menino, de ser jogador de futebol, de jogar no Bahia. Não deu certo, mas no futevôlei a gente trouxe aquela sensação de felicidade”, expressou Iceman.
“Até o momento, a gente não teve o gostinho da derrota, graças a Deus. Nas duas competições que jogamos representando o Bahia, fomos muito felizes”, acrescentou Índio.
Origem dos apelidos
Além do talento nos pés e títulos nas prateleiras, o reconhecimento e imagem dos jogadores também são um destaque em suas carreiras e os apelidos Índio e Iceman carregam histórias marcantes.
Felipe Iceman contou que o vulgo surgiu de uma comemoração em um torneio. “O meu apelido surgiu num TAF em São José dos Campos. Eu vi essa comemoração em algum lugar, alguém fazendo... Aí eu fiz também e o narrador falou: 'Iceman! Homem Gelado!' e pegou a comemoração”.
Já Felipe Índio revelou que o apelido surgiu naturalmente em um jogo na praia. “Eu peguei esse apelido quando ainda morava no morro. Comecei a jogar na Segunda Praia. Aí os caras sempre faziam jogo apostado, e como eu era o mais novo, falaram: 'Esse moleque tem uma força da p*rra!' Aí começaram a me chamar de Índio e pegou”.
Hoje, além de simples apelidos para diferenciar os xarás, os vulgos se tornaram marcas registradas de cada um, refletindo suas origens e o carinho do público. “A gente fica feliz com esse reconhecimento”, declararam.

Ramon Pitta: o ‘cabeça’
Nos bastidores do sucesso da dupla está Ramon Pitta, treinador responsável por prepará-los para cada torneio. Integrante da rotina semanal dos atletas, o técnico explicou como são os treinos para competir em alto nível.
"A nossa rotina de treino hoje, pelas competições, é mais preservar do que o excesso. A gente normalmente tá viajando na sexta-feira, retorna segunda de madrugada e treinamos de terça a quinta", iniciou.
"Então, hoje, é bastante fisioterapia, bastante ajuste dentro de quadra... parte técnica, parte física. Como eles estão sempre jogando, sempre tocando na bola, automaticamente já estão fazendo isso. Então, hoje é mais preciso preservar e fazer ajustes técnicos", acrescentou.

Altamente elogiado pelos Felipes, a relação entre os membros da equipe vai além das quadras. Muitas vezes, ele deixa a parte técnica de lado e assume o papel de amigo, conselheiro e elo entre todos. Para Ramon, isso é fundamental.
“É uma rotina bem leve, saudável, assim, de muita amizade. Já virou meio clichê, mas é uma coisa só, nós três. A gente é bem unido. Então, assim, tá sempre olhando um pro outro, pensando fora das quadras também, pra estar se ajudando. O Zé já é amigo nosso aqui de Salvador e os meninos hoje são referências”, desabafou.