
“Quem não sonhou em ser um jogador de futebol?”. A frase que marca a música de sucesso gravada pela banda Skank na década de 90, representa bem a história de um pai e um filho criados no Subúrbio de Salvador. Unidos com o objetivo de realizar o desejo de se tornar um atleta profissional, Irandi Correia Júnior, de 41 anos, e Clarck Barreto Correia, de 10, batalham em busca dessa ambição geracional.
O pai solteiro iniciou essa árdua jornada com Clarck em 2017, quando assumiu a guarda unilateral do garoto, que na época tinha apenas três anos. Mesmo com pouca idade, o menino já esbanjava talento para o esporte, mostrando seus dons em brincadeiras com a bola enquanto crescia.
“Criar Clark é muito fácil, ele é um menino muito saudável, educado, prestativo e isso me dá orgulho. É um amor incondicional. Quando eu estou sem ele, eu fico com saudade, e quando ele está sem mim também fica. A gente, no dia a dia, se completa. Somos eu, Clark e a arte do futebol, completando o trio da alegria”, expressou.

Foi ali que acendeu um fio de esperança em Irandi, internalizando a missão de se dedicar ao máximo para que o filho conquiste o que as gerações anteriores da família não conseguiram. Com apenas a companhia um do outro, a jornada entre pai e filho se transformou em um dos maiores bens dessa união.
“Eu estou em busca desse sonho do meu filho, para que ele possa se tornar alguém, aquilo que eu não pude ser, nem meu pai pôde ser. A geração passada da minha família parece que estava contaminada, tinham talentos, mas nunca tivemos oportunidades, por estar trabalhando e termos que viver a vida”, desabafou o paizão.
Com o passar dos anos, eles se tornaram a ‘Dupla Dinâmica’ e criaram um perfil no Instagram (@dupladinamica5), onde compartilham com os seguidores a rotina de desafios durante os treinos e a preparação em busca dos objetivos. Também publicam vídeos bem humorados e lições sobre humildade e superação.
“Eu me inspiro muito em meu pai, ele me ajuda bastante com o transporte, alimentação, a postar meus vídeos na internet. As pessoas assistem, falam que queriam ter um pai como esse que me ajuda. Aí vai subindo mais ainda o orgulho”, contou Clarck ao Portal MASSA!.
Porém, mesmo com o foco e a determinação, os desafios da vida se intensificaram para os moradores do bairro de Plataforma. Desempregado, Irandi seguiu batalhando pelo sonho do filho, abrindo mão de grande parte do seu tempo.
Agora eu parei toda a minha vida, parei de trabalhar, estou abdicando de tudo para que eu possa acompanhar meu filho neste sonho. Eu sempre digo a ele que o sonho não pode parar e não vai parar
De Plataforma para a Toca do Leão
Após ser reprovado em seis testes - as famosas ‘peneiras’ - em diferentes clubes como Fluminense e Bahia, os sentimentos de frustração e angústia não abalaram Clarck. Com um nome inspirado no alter ego do herói dos quadrinhos, Superman, o garoto seguiu com a esperança de que ia ‘voar’ no tempo certo.
E o momento chegou. A sétima oportunidade surgiu na Academia do Vitória, no Barradão, onde o jovem passou por dois meses intensos de testes, sempre com a companhia e incentivo de Irandi, que, mesmo com um sol brabo ou com o ‘cacau caindo’, estava lá para apoiar e motivar o filho em campo.
Então, todo o ‘perrengue’ foi recompensado com a aprovação. “Eu fiquei muito triste em ter reprovado em seis avaliações, seis testes. E quando chegou a oportunidade do Vitória, eu pensei: esse eu não posso perder. Quando chegou o dia da resposta, eu estava treinando e o gerente do Vitória deu a resposta ao meu pai. Quando acabou o treino, ele me olhou com uma cara assim de triste, atuando, e eu comecei a chorar. Ficou caindo lágrimas e lágrimas no meu olho, não estava com forças pra falar, pra andar, me movimentar. Eu fui e pensei: 'É, já era. O sétimo teste que eu perdi '", detalhou o menino.

“Mas aí depois, quando ele falou que eu não ia mais usar a camisa de avaliação, ia usar a camisa que estava escondida — que, no caso, é essa daqui que eu estou vestindo (a da base do Vitória) — eu parei de me emocionar com tristeza, aí fui e chorei pela felicidade também. Até hoje, quando eu acordo, vejo essa roupa do Vitória, eu me orgulho muito. Me orgulho do meu pai também, que me ajudou tanto, e eu fico muito feliz”, descreveu o garotinho.
Veja como foi:
Bola no pé e livro na mão
A empolgação com os treinos no Rubro-Negro não tirou o foco de Clarck dos estudos. Para ser um grande atleta, o garoto também se dedica diariamente aos afazeres escolares, além de seguir treinando nas areias da praia do Subúrbio e em um campo sintético perto de casa.
Mais que um pai, Irandi é um parceiro de jornada, incentivando constantemente Clarck a valorizar o conhecimento e a escola, além do futebol. Também ensina ao menino os valores da humildade e simplicidade da vida.
“Clark acorda às 6h30, a gente se organiza, leva ele pra escola. Após meio-dia, ele chega em casa, almoça, descansa. Duas horas, treinamos até às 16h. A gente respira, toma um lanche, e à noite a gente volta a estudar para no dia seguinte ele ir para a escola novamente. Quando temos treinos na Academia do Leão, nos organizamos e vamos”, descreveu.

Visão de futuro
Com uma parte da caminhada concluída, Clarck sonha com objetivos ainda maiores. Inspirado em grandes craques como Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo, o garoto pretende ser destaque mundial e levar alegria para todo o Brasil ao vencer a Copa do Mundo.
“Meu sonho é ganhar a Copa do Mundo pelo Brasil. Ganhar a Champions League. Viajar pra Europa, jogar no Barcelona ou no Real Madrid. Ganhar a Champions League, La Liga. Ganhar a Bola de Ouro. Eu sonho em ganhar cinco Bolas de Ouro”, vislumbrou o pequeno sonhador.

Porém, com um passo de cada vez, ele destacou que primeiro quer conquistar os torcedores do Vitória, assim como suas inspirações no profissional do clube: Osvaldo, Matheuzinho e Fabri. “Imagino no futuro, jogando aqui, fazendo gol, a torcida gritando o meu nome, cartazes, falando: Clark, me dá essa camisa!”, disse.
“O sonho não pode parar”
Com o lema: “O sonho não pode parar”, a história de Irandi e Clarck chamou a atenção do povão nas redes sociais. Comovidos, muitos admiradores chegaram junto e ajudaram com doações para contribuir no transporte e alimentação nos dias de testes. Hoje, com pouco mais de 86 mil seguidores, o perfil está firme, recebendo apoio na caminhada pelo sonho desta dupla dinâmica.
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