Flerte é jogo de cintura, mas também é leitura de contexto. E, com as festas de fim de ano batendo na porta, é comum que muita gente solteira saia em busca de um afeto, seja temporário ou quem sabe até definitivo.
Gestos suaves, contato visual prolongado, sorrisos verdadeiros e até a forma como alguém se aproxima já dão pistas claras de interesse. Às vezes, rola até um toque no braço ou um abraço mais demorado que o normal. Mas… como diferenciar química de confusão? E, principalmente, como não passar do ponto?
Ao MASSA!, a psicanalista Ana Chaves deu um mapa completo para entender os sinais, respeitar limites e flertar com leveza, sem meter os pés pelas mãos.
Rejeição ou nervosismo?
Segundo a psicanalista, as festas de fim de ano costumam elevar a régua emocional de todo mundo. “Quando a gente fala desses ambientes festivos, das confraternizações, existe um aumento natural da expectativa social", diz.
Para quem tem ansiedade social ou medo de rejeição, tudo isso pode ativar vários gatilhos. Um olhar neutro vira ‘não gostou de mim’, uma pausa na conversa vira ‘falei besteira?’
Psicoterapeuta e neurocientista Ana Chaves
Ela destaca que, nesses momentos, algumas pessoas se retraem para evitar rejeição, enquanto outras fazem o contrário: exageram, performam, tentam impressionar.
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“Há ainda o travamento emocional. A pessoa quer flertar, mas congela, não sabe como iniciar, não sustenta o olhar, fica rígida”, completa. Tudo isso fica ainda mais intenso no mês de dezembro, quando o clima de fechamento de ciclo mexe com a autoestima e ativa inseguranças, principalmente ao reencontrar gente que não faz parte da rotina.

Simpatia X Flerte
Muita gente também confunde educação com interesse, e isso não acontece só no fim do ano:
“A pessoa entra em contato com emoções como carência afetiva, necessidade de validação, fome de atenção, idealização rápida e autoestima fragilizada”, afirma Ana.
Qualquer sorriso vira convite, qualquer conversa vira sinal.
Ana Chaves
Mas como diferenciar?
De acordo com a neurocientista, a simpatia é espalhada, neutra, igual para todo mundo. Já o flerte tem foco: olhares sustentados, perguntas pessoais, proximidade física intencional, energia direcionada e coerência entre fala e corpo.
➡️ Se a atenção é exclusiva, provavelmente é flerte. Se é distribuída, é só simpatia mesmo.
Atenção aos sinais
Passar do ponto, para alguns, pode não ser por maldade, mas sim falta de leitura emocional, diz a especialista.
Muita gente tem baixa percepção dos sinais, não interpreta expressões faciais, gestos ou pequenas mudanças no comportamento que indicam desconforto. Acredita que está sendo acolhedor quando, na verdade, está invadindo
Neurocientista e Psicanalista Ana Chaves
A ansiedade também pode pesar neste contexto:
“A necessidade de validação faz a pessoa perder o timing social. A ansiedade ativa as amígdalas, reduz clareza e percepção. Ela age rápido demais para aliviar o próprio desconforto. Somam-se a isso experiências passadas e inseguranças, e a intensidade acaba sendo confundida com conexão", explica.
➡️Ana reforça que quem não reconhece seus próprios limites também costuma ter dificuldade de perceber os do outro, criando aproximações invasivas sem intenção consciente.

Como se dar bem no flerte?
Paquerar bem não exige performances, só presença. A psicanalista explica que tudo começa pelo corpo e pela intenção, e não por grandes discursos.
“A insegurança é comum e pode ser regulada. Ajustar a postura, fazer expirações longas e usar o ‘soft smile’ relaxa a musculatura e transmite acessibilidade”, orienta.
Ela reforça que o flerte verdadeiro nasce nas microconexões, e não no impacto. Ou seja, é o clima que você cria, não a intensidade.
Dicas práticas para flertar sem se passar:
➡️ Regule o corpo antes de chegar: ombros para trás, respiração longa e um sorriso suave.
➡️ Crie microaberturas: olhar breve e gentil, sorriso discreto, um comentário leve sobre o ambiente.
➡️ Convite sem pressão: ofereça espaço para o outro responder — ou não.
➡️ Mude o foco: em vez de “será que vão gostar de mim?”, pergunte “eu gosto dessa troca?”, “essa pessoa me faz bem?”.
➡️ Autenticidade: o flerte funciona quando você está confortável no próprio ritmo.
“Quando você deixa de se colocar no papel de avaliado e passa a observar o que sente, a ansiedade diminui. A paquera fica mais leve e muito mais verdadeira”, finaliza.
