
As mães atípicas - mulheres que criam filhos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) - marcaram presença neste sábado (25), no segundo dia da Expo Favela, realizada na Fábrica Cultural da Ribeira.
Leia Também:
No evento, elas mostraram seus produtos e compartilharam histórias de luta e superação, revelando como o empreendedorismo se tornou uma forma de vencer barreiras e fortalecer laços.
Iniciativa que acolhe e transforma
Juliana Fernandes, empreendedora da suburbana e mãe atípica, explica que o grupo nasceu como uma alternativa para mulheres que precisam conciliar o cuidado com os filhos e a busca por renda.
“A partir do momento que a gente entra no projeto, a gente também abraça a causa de outras mães. A gente sente a dor também. Devido a tanta dificuldade da gente trabalhar fora de forma formal, de carteira assinada, surge essa oportunidade que outras mães também podem participar, conciliando horário e a questão do cuidado com os filhos”, contou.

Aos 39 anos, Juliana lembra que o crochê entrou em sua vida num momento difícil, durante uma separação."Eu nunca tinha pensado em algo como negócio, foi a princípio como uma terapia mesmo, e para realmente eu me recompor daquela situação difícil que eu estava passando. Eu conheci o grupo através de uma amiga, e hoje eu ajudo outras mães atípicas na mesma situação".
Comecei com o crochê devido a uma situação difícil, que foi uma separação, e foi o crochê que me reergueu e me fez chegar onde eu estou
Juliana, empreendedora
Com o tempo, Juliana percebeu que o convívio com outras mulheres vivendo realidades parecidas trouxe força e leveza à rotina. “A partir do momento que a gente tá num projeto onde tem outras pessoas passando pelas mesmas situações que a gente, começamos a se fortalecer. O convívio em casa e no dia a dia acaba ficando mais leve”, contou.
“A gente começa a se sentir útil, porque quando a gente está em casa, naquela rotina com nossos filhos, de terapias e dificuldades da condição do TEA, a gente acaba se sentindo inutilizada. Mas aí descobrimos que podemos mais, ir além. Com essa conexão com outras mães, a gente vai se fortalecendo e se sentindo abraçada, podendo expandir e ir para fora de casa", finalizou.
Empreender abre portas e cura feridas
Da Capelinha de São Caetano para o mundo, Maria Cristina, de 38 anos, é mãe de dois filhos atípicos e também encontrou no empreendedorismo uma forma de transformar sua realidade. Hoje, ela expõe seus produtos — laços e acessórios — na terceira edição da Expo Favela, e fala com orgulho da sua trajetória.
“Eu fui meio relaxada com os estudos, confesso, mas mesmo sendo de periferia, minha mãe sempre incentivou. Hoje tenho pensamento diferente, principalmente para minha filha, portadora do TEA, que está cursando pedagogia na UFBA. Eu digo para ela que o estudo é tudo. As mulheres de hoje pensam que ser empoderada é questão da roupa, de levantar a bandeira, mas não é. O saber que a gente tem leva a gente adiante", expressou.

Cristina conta que o espírito empreendedor sempre esteve presente, mesmo antes de ela perceber.
“Eu comecei a empreender assim, desde criança, só que eu não tinha essa noção. Como mulher periférica, eu posso falar que a gente não tem aquela condição de comprar as coisas, era mais o básico. Então, quando criança, eu vendia alguma coisinha ou outra, digo que já tá na minha veia".
A virada aconteceu por acaso, em um gesto de carinho para a filha.
“Na fase adulta, por questão de necessidade mesmo, para cuidar da família, eu comecei a fazer laço de cabelo. Eu acho engraçado, porque quis fazer para o aniversário da minha filha, para dar de lembrancinhas para as colegas dela. Uma mãe gostou, e foi daí que comecei a vender.”
Hoje, Cristina celebra não só o crescimento do seu negócio, mas também as conexões e aprendizados que o empreendedorismo proporcionou.
“Eu comecei a conhecer pessoas de outro patamar, pessoas que eu gosto de conversar, que têm a mente mais aberta, pessoas inteligentes que estudam. Para mim, um dos pilares da cura da depressão foi o empreendedorismo, foi sair de casa, vir para a rua e dizer assim: ‘Eu tô viva, eu tô aqui, eu posso ir além do que ficar em um quarto só costurando laço’. Mostrar: ‘Poxa, tem valor’. As pessoas olharem e gostarem do meu trabalho — é isso, pra mim é tudo”, finalizou.
