
O mais comum quando se fala em ser artista, principalmente da música, é pensar nos holofotes dos palcos, close das capas ou nas entrevistas com os principais jornais. No entanto, as coisas são muitas mais complicadas, principalmente para as equipes de produção e até para os motoristas, que precisam estar atentos a cada detalhe das estradas quando os músicos estão rodando pelas pistas para as apresentações.
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Na última semana, dois acidentes fatais envolvendo a produção de cantores baianos famosos, nacionalmente, comoveram geral. No último domingo (27), a equipe do cantor Netto Brito foi vítima de uma tragédia, na altura de Santo Antônio de Jesus, onde três pessoas morreram. Já no caso mais recente, nesta terça-feira (29), a diretora de marketing do cantor Pablo, Dayana Lima, morreu após o capotamento do carro, quando passando por Amélia Rodrígues, na BR-324.
Na busca por entender os desafios e perrengues vividos nas estradas, o Portal MASSA! bateu um papo com diversos profissionais que enfrentam essa rotina perigosa, além de entender quais são os direitos assegurados.
Quem vive da arte, tem seguro de vida?
O produtor geral Carlos André, responsável por cuidar da agenda do cantor de arrocha Nattanzinho Lima durante o São João, compartilhou experiências vividas em seus quase 15 anos de carreira.

"O sentimento é alegria, até porque a gente está indo proporcionar alegria ao pessoal. Mas dentro desse sentimento de alegria a gente é às vezes fica um pouco cansado. Muito tempo dentro de ônibus, viagens longas, cansativas, e, podemos falar assim, meio exaustivo, a depender do como chegam estes períodos festivos, São João, Carnaval. Essas épocas que a quantidade de shows aumenta consideravelmente", detalhou ao Portal MASSA!.
O experiente profissional conta que, além do medo com acidentes, rola outro perrengue que também deixa os produtores e seguranças atentos nas rodovias: os assaltos.
"Geralmente o produtor e o segurança ficam mais parte do tempo acordado por serem os responsáveis pelos músicos, pela equipe técnica, por toda banda. Já passei perrengue de tentativa de assalto. Acidente, graças a Deus, eu nunca passei não. E assim, a gente fala muito de acidente quando acontece, que vem à tona, mas assaltos também são bem frequentes", destacou.
Com o produtor nas viagens, fica a família, muitas vezes dependente financeiramente, em casa. Quando se fala em seguro de vida, Carlos ressalta que "tenho um particular". "Então, por lei acredito que tenha que ter. Hoje existe mais um uma conversa ali antes com o produtor da banda, com o pessoal que faz parte da banda, com os empresários. Alguns empresários já entenderam já que que que esse seguro se faz necessário, já tem a consciência", finalizou.

Visão do 'motô' nessa rotina intensa
Seu Geraldino Cruz vive atrás do volante dos ônibus há quase 35 anos e há dois e meio comprou seu próprio veículo para poder trabalhar nesse mesmo setor: transportar artistas e bandas para levar alegria aos fãs.
As queixas e desafios se assemelham com o de Carlos, produtor geral, mas com uma ótica um pouco diferente. Com necessidade de se manter atento, por cuidar da sua vida e de outras dezenas, Geraldino compartilhou sua experiência.
"No período de festa, como Carnaval ou São João, a demanda é bem exaustiva. É quando aumenta a ganância de fazer vários shows em pouco tempo e acaba ficando muito acarretado a carga horária, pois não é elaborado uma boa logística", critica.
Além do desabafo, ele também destaca a insegurança de não haver alguns direitos. "Seguro só de Deus. É difícil termos seguro de vida, são poucos os que fazem".
Nesses quase 35 anos de experiência, o profissional comenta que ainda é cobrado pelas empresas para se manter atualizado nos cuidados com a estrada. "Quando a empresa é grande, elas obrigam os condutores a se atualizarem nos cursos a cada ano. Empresas médias e pequenas são raras".
"Mas temos a lei que nos obriga a ter uma carga horária. Trabalhamos sempre em dupla, ou seja, dois motoristas para estarmos sempre descansado. A carga horária de um motorista entre uma jornada e outra é no mínimo de 11 horas, mas na estrada o motorista é necessário trabalhar no máximo 5 horas e descansar para retornar a direção", finalizou.
Atenção na estrada!
O coordenador de prevenção e atendimento de sinistros da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Lucas Guimarães, explicou as ações educacionais com os motoristas de músicos, promovidas pelas instituição para assegurar a normalidade nas rodovias.
"Existe a previsão legal do descanso obrigatório e intervalos entre as jornadas. A PRF faz fiscalização e temos ações educativas que realizamos. Em maio foi o mês de maior foco dessa ação onde foram "educados" 11.000 motoristas profissionais", detalhou.
"Temos fiscalização constante para tentar reduzir a velocidade média praticada. Temos também ações em empresas que somos convidados e em empresas que identificamos para ministrar algumas palestras voltadas à educação com o transito", completou o PRF.