
Ensinar requer características além da sabedoria. Paciência, resiliência, compreensão e dedicação não podem faltar na vida de um profissional da educação, principalmente quando há mudanças nos comportamentos dos alunos.
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Nesta quarta-feira (15) é celebrado o Dia do Professor e, ao longo da história, os profissionais encararam diversos desafios dentro da sala de aula. A mudança da Geração Z, nascidos entre 1997 e 2010, para a Geração Alpha, desde 2010, é um dos principais choques de realidade para quem precisa conviver com a constante mudança na postura e comportamento dos estudantes.
Professora na rede estadual de ensino desde 2006 no Colégio Padre José Vasconcelos, em Jardim Nova Esperança, Carmem Gouveia conta que as mudanças no convívio da sociedade refletem dentro da sala de aula e trazem efeitos negativos.
“As mudanças na própria sociedade nesses vinte anos são sentidas com intensidade nas relações estabelecidas dentro das escolas. A geração da liquidez de relações e da urgência traz um momento complexo à sala de aula”, iniciou.

“O acesso à Internet em todas as escolas, associado ao uso indisciplinado dos aparelhos celulares, tem levado professores à exaustão por se sentirem incompetentes frente à velocidade com que as informações chegam aos estudantes e, pior que isso, a frustração de perceber que muitos vêem a escola como um espaço hostil”, completou a professora que dá aulas de Ciências Naturais.
Para o professor Antônio Carlos, conhecido entre os alunos Carlinhos, a relação familiar tem papel fundamental para mudança de postura na sala de aula. “Os alunos continuam querendo protagonismo, porém não se atentam para o futuro. As famílias, por seu turno, também não colaboram, não participam do processo de formação”, explicou ao MASSA!

Em 2025 ele está afastado da sala de aula por motivos particulares, mas o professor Carlinhos se formou em Letras 1988 e, desde 2000, é concursado pelo estado. Ele também pode dar aulas de Filosofia, Sociologia e disciplinas ligadas à Identidade cultural e ancestralidade.
Chegada da tecnologia
Além da postura dentro da sala de aula por parte dos alunos que nasceram em diferentes gerações, existe um outro debate já antigo por parte dos professores: a tecnologia.
O tema é complexo, gera polêmica e até já surgiu a possibilidade da proibição de aparelhos celulares em sala de aula. Contudo, a tentativa não teve sucesso.
Segundo a professora Carmem, os aparelhos, os jogos online e a facilidade de ter acesso a internet atualmente dificultam o trabalho de quem quer ensinar.
Temos 10min de atenção plena deles para explicar conteúdos
Carmem Gouveia
“Sempre brinco que, dos cinquenta minutos de aula, temos 10min de atenção plena deles para explicar conteúdos, porque todo o resto do tempo é gasto tentando gerir os conflitos e organizar a sala de aula”, disse.
A situação fica ainda pior para quem gosta de usar papel e se considera "analógico", como é o caso do professor Carlinhos, que lamenta a perda do gosto da leitura por parte dos alunos atuais.
Sou um professor "tradicional", analógico, ainda gosto do papel. Gosto de fazer o aluno pensar.
Professor Carlinhos
“É um 'mal desnecessário'. Sou um professor 'tradicional', analógico, ainda gosto do papel. Gosto de fazer o aluno pensar. Gosto de passar filmes, gosto de imagens que façam o aluno refletir, gosto do cheiro dos livros”, afirmou.
Impacto além da profissão
Como consequência dessas mudanças, há impactos também na vida do professor tanto dentro da sala de aula como na vida pessoal.
Carlinhos destaca que o profissional da educação precisa se desdobrar para atender diversas necessidades dos estudantes e que, nem sempre, é reconhecido. “Temos que ser pais, amigos, psicólogos, médicos, e não somos valorizados por tudo isso”, lamentou.
O ‘novo mundo’ na sala de aula já é tema debate por parte dos professores e já existe a preocupação de como essa avalanche de transformações geracionais vai impactar o futuro de quem dedica a vida para educar e formar novos profissionais.
“É a sensação coletiva de inúmeros professores que atuam na educação básica, visto as queixas que lemos e ouvimos em encontros presenciais ou virtuais realizados pela Secretaria de Educação”, iniciou.
Fisicamente e mentalmente, estamos adoecidos
Carmem Gouveia
“Precisamos lidar com variáveis em sala de aula que nenhuma universidade, nenhum curso, nos ensina”, finalizou a professora Carmem, destacando que o dia a dia de um professor apresenta desafios inesperados.