
Em meio ao Dia da Consciência Negra, se torna mais necessário do que nunca relembrar que as palavras podem ser utilizadas como uma forma de conquistar mais espaço para o povo preto. Usando a escrita como ferramenta, autores baianos conseguiram transformar suas histórias de vida em páginas.
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Escrevendo poesias destinadas ao público infantil, Edilson Espinola relata que a escrita foi uma forma dele lidar com o luto pela perda de sua mãe. “Praticamente todos os meus textos são baseados em minhas vivências. Eu, como homem negro, passei muitas dificuldades, além de que minha mãe faleceu muito cedo, o que dificultou ainda mais para mim”, contou em entrevista ao MASSA!.
Dividindo seu tempo entre o trabalho como agente de saúde e seus livros, Edilson explica que viver de escrita ainda é uma realidade distante. “As pessoas não têm muito interesse em comprar o livro, todo mundo quer ganhar o livro, quer o livro doado. As pessoas não se preocupam muito em fomentar a literatura”, afirmou.

Apesar dos obstáculos, o autor não se deixa abater e segue firme em sua caminhada. Para ele, o 20 de novembro se consagrou como um lembrete de que a trajetória do povo negro sempre foi marcada por batalhas. “O Dia da Consciência Negra é para mostrar, lembrar e não deixar esquecer que a luta continua. A historia do povo negro é feita de muita luta, grandeza, resistência e beleza”, explicou.
Para melhorar a realidade de autores negros, a mudança no brasil precisa ser estrutural. Escrevendo livros destinados à saúde mental, Elisama Santos conta que “quem decide” ainda são os brancos. “A gente precisa das pessoas negras com a caneta na mão decidindo. A gente escreve, mas quem decide quando vai ser publicado, quem vai ser publicado, que livros são bons, não são as pessoa negra”, completou.
Moldando o futuro por meio das palavras
Elisama explica que o mercado literário ainda espera que autores negros só falem exclusivamente sobre negritude. “O espaço fica menor, como se tivessem separado só um quadradinho para os autores negros”, pontuou. A exigência em relação aos temas não é o único obstáculo que precisa ser superado.

Anderson Shon, escritor de quadrinhos de super-heróis negros, explica que a cobrança sobre qualidade também é maior. “Eu digo que um preto nota nove às vezes fica na mesma prateleira que um branco nota cinco”, pontuou.

Em meio a uma realidade que ainda não é perfeita, o que resta é lutar com a caneta para escrever um futuro que talvez seja melhor. “Enquanto criança não me via representando nas obras. Ter essa infância me fez ser escritor atual que quer colocar um pouquinho de melanina em tudo”, finalizou Anderson.
