
Há dois anos reconhecido oficialmente como feriado nacional, o Dia da Consciência Negra, comemorado nesta quinta-feira, 20 de Novembro, reforça a luta, a resistência e as contribuições da população negra na construção do Brasil. Para representantes de movimentos e políticos, a data, que marca a morte de Zumbi dos Palmares, líder quilombola e símbolo da resistência à escravidão no Brasil, assassinado no dia 20/11/1955, representa muito mais além do que um feriado.
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Isso porque, enquanto para uns a data remete a comemorações, para outros, quando se trata de igualdade, respeito e reconhecimento do povo negro, ainda há muito o que se conquistar.
Para Sara Sacramento, Bacharel em Direito, Conselheira Estadual de Proteção aos Direitos Humanos (CEPDH) e Coordenadora de Juventude do MNU Bahia, é importante reconhecer a data, porém, sem esquecer que, o preconceito, racismo e desigualdade seguem presentes no cotidiano.
"Acho que esse reconhecimento da data é muito importante, mas, que para nós é um lugar daquilo que a gente precisa continuar pautando, precisa continuar reivindicando. Eu não acredito nessa história de que datas como a Consciência Negra são datas para gente pautar enquanto datas comemorativas porque elas não são datas que surgem num tom comemorativo. Elas surgem para reivindicar e demarcar uma luta que é importante, uma luta que é histórica e uma luta que ainda hoje se faz muito necessária".
O Dia 20 de Novembro foi reconhecido como feriado em todo o Brasil após a Lei 14.759/2023 ser sancionada pelo presidente Luiz Inácio da Silva. Antes disso, apenas os estados de Alagoas, Amazonas, Amapá, Mato Grosso e Rio de Janeiro consideravam o dia como feriado, além de cerca de 1,2 mil cidades, conforme dados da Fundação Cultural Palmares, gerida pelo Governo Federal.
Ainda de acordo com Sara, mesmco com a carta de alforria, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, para abolir oficialmente a escravidão no Brasil, o povo negro ainda não alcançou totalmente a devida liberdade.
"Para nós, do Movimento Negro Unificado, a nossa tradição política dos movimentos sociais muito nos ensina de que essa liberdade para nós, que disse que foi dada no dia 13 de maio de 1888, é uma liberdade inconclusa, uma liberdade que no dia seguinte, não trouxe nenhuma política pública de inclusão desse corpo negro que foi tirado das ninjalas, mas que não foi reinserido na sociedade como mão de obra assalariada, muito pelo contrário, as políticas elas passam a investir na integração dos imigrantes brancos europeus para cá e as pessoas negras são deixadas de lado. Elas são colocadas totalmente desassistidas. Não têm direito a habitação, a alimentação, a trabalho, a estudo ou nada", declarou.
Silvio Humberto
O vereador Silvio Humberto, também acha que o país ainda precisa evoluir para que se torne justo e igual. "Podemos dizer que a luta que se mantém historicamente, eu diria infelizmente, é a luta contra o racismo e suas manifestações que, ao estruturar as relações de poder, as relações sociais, segue sendo um elemento violador dos direitos da população negra. Sempre violando a sua condição de ser humano. Então, esse tratamento desumano que nós, da população negra, recebemos é um elemento estruturante das desigualdades", desabafou.
"Enquanto não houver essa igualdade racial para valer, esse país não vai dar o salto civilizatório que é tão importante para que o Brasil chegue em uma posição do tamanho continental que ele representa para o mundo.", completou o político.
