
Depois das festas juninas, marcadas por exageros na comida e na bebida, muita fumaça no ar, vozes elevadas para competir com o som ambiente ou cantar com empolgação junto à banda, chega a hora daquele sintoma incômodo dar as caras: a rouquidão.
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A alteração vocal é um sintoma frequentemente ignorado ou tratado de forma inadequada com remédios (caseiros ou não). No entanto, o que muitos não sabem é que a rouquidão pode ser o primeiro sinal de alerta para doenças graves, como o câncer de laringe. A persistência do sintoma por mais de 15 dias deve ser motivo de preocupação e investigação médica.
Quando procurar um médico?
De acordo com a médica otorrinolaringologista Erica Campos, qualquer rouquidão que dure mais de duas semanas requer avaliação especializada.
“É necessário fazer uma avaliação médica com um exame que se chama videonasolaringoscopia”, orienta. O procedimento é simples e fundamental para detectar lesões ou anormalidades nas cordas vocais.
Ela alerta também sobre o perigo da automedicação. Xaropes e pastilhas, mesmo os naturais, podem conter substâncias anestésicas que reduzem a percepção do esforço vocal.
O uso dessas medicações às vezes pode retardar um diagnóstico.
Erica Campos

Ela lembra ainda que a sensação de alívio pode levar a um uso abusivo da voz e esconder um problema real.
O câncer de laringe, por exemplo, tem na rouquidão o seu principal sintoma inicial. Por isso, é importante acender o alerta para a alteração vocal. Segundo a otorrinolaringologista, outros sinais, como dificuldade para engolir ou respirar, costumam surgir apenas em estágios mais avançados da doença.
O câncer de laringe, em geral, não costuma provocar muita dor, exceto em casos onde a doença já está muito mais avançada.
Erica Campos
Diagnóstico precoce é importante
A médica é enfática ao dizer que o diagnóstico precoce pode mudar completamente o rumo do tratamento do câncer de laringe. “Algumas lesões são muito iniciais e podem ser tratadas com um procedimento cirúrgico único, de forma endoscópica, e o paciente vai para casa no mesmo dia”, conta.
Por outro lado, quando a doença avança, o tratamento pode exigir medidas drásticas, como a laringectomia total, que é a retirada completa da laringe.
Sem dúvidas, o diagnóstico precoce muda a forma de tratar e muda também o resultado cirúrgico do ponto de vista de conviver com sequelas da cirurgia.
Erica Campos

A médica também lembra que a rouquidão pode ter outras causas além do câncer. Existem as disfonias funcionais, relacionadas ao uso inadequado da voz, e as disfonias orgânicas, provocadas por lesões como cistos ou calos nas cordas vocais. Em todos os casos: qualquer alteração vocal deve ser levada a sério!
Tome cuidado com a sua voz
Segundo Erica, muitos hábitos cotidianos podem prejudicar a saúde vocal. “Falar muito alto, falar muito tempo, falar muito perto de emissões de fontes sonoras” são práticas que exigem mais da musculatura vocal e favorecem lesões.
Profissionais que usam intensamente a voz, como professores, locutores e cantores, devem redobrar os cuidados. A médica recomenda o uso de microfones para amplificação e a adoção de pausas ao longo do dia.
“Usar uma estratégia que a gente chama de ‘ilhas de silêncio’ também é bastante benéfica. Procurar fazer três ou quatro intervalos ao longo do dia, de aproximadamente 10 a 15 minutos de silêncio absoluto”, sugere.
Apesar do uso constante da voz não estar diretamente ligado ao câncer, ele pode gerar outras complicações, como as lesões fonotraumáticas, que derivam do trauma vocal. “Essas lesões também precisam de atenção e, muitas vezes, de tratamento especializado”, conclui Erica.