O que começa como diversão inofensiva pode se transformar em um pesadelo. As apostas online, conhecidas como ‘bets’, têm ganhado cada vez mais espaço em Salvador, o que arrasta os jogadores para um abismo emocional e financeiro. Durante um encontro do grupo Jogadores Anônimos (JA), o Portal MASSA! ouviu relatos de quem vive na pele os danos desse vício.
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O problema vai além da perda financeira. É um ciclo vicioso: perde-se o dinheiro, tenta-se recuperar, e a rede negativa só aumenta. Para famílias de baixa renda, o impacto é ainda mais grave, afetando o pagamento de contas básicas e consumindo as economias.
Dinheiro de férias, 13° e mais
João (nome fictício), um dos participantes do grupo, compartilhou que chegou ao fundo do poço durante a pandemia, quando perdeu o salário inteiro em cassinos digitais.
“No início, ganhei um pouco, e isso me iludiu. Depois, comecei a perder tudo. Cheguei a gastar o meu 13º, o fundo de garantia e até o adiantamento de férias. Era sempre na esperança de um grande ganho, mas só me afundei mais”.
Cheguei a gastar o meu 13º, o fundo de garantia e até o adiantamento de férias
Membro do Jogadores Anônimos
Atualmente, com carteira assinada e participando semanalmente do coletivo, ele recebe ajuda para recuperar a dignidade e reorganizar sua vida financeira. “A sensação de vitória é viciante, mas pagar minhas dívidas e reconquistar meu amor próprio tem sido uma vitória maior”, celebra.
Diversão x destruição
A dor, no entanto, não é sentida apenas pelos jogadores. As famílias também são profundamente afetadas. Laura (nome fictício), esposa de João, relatou como o vício do marido abalou sua rotina.
“Chegava em casa várias vezes e o encontrava do jeito que deixei pela manhã, sem tomar banho, sem comer. Foi um choque”, conta.
É difícil explicar isso para quem está de fora
Esposa de um membro do JA
Para a mulher, o papel de apoio do JA mudou toda essa rotina. “É ali que encontramos identificação. Conversar com quem entende a situação é um alívio, porque é difícil explicar isso para quem está de fora”, reforça.
Os Jogadores Anônimos têm mostrado que, apesar de ser uma patologia incurável, a compulsão por apostas pode ser controlada. O grupo segue os princípios dos 12 passos, comuns em programas de recuperação, e também oferece suporte para familiares.
“Não existe remédio que cure isso, mas existe tratamento. Não podemos parar de buscar ajuda, porque somos doentes”, destaca um membro.
Descontrole
Para quem se torna compulsivo, nem sempre é fácil identificar o problema, muitos passam pelo estágio da negação. Alguns sinais, no entanto, podem ser percebidos. O Portal MASSA! traz uma lista com alguns destes comportamentos, então pegue a visão:
- Deixar tarefas importantes de lado para apostar;
- Aumentar os valores das apostas com o tempo;
- Não conseguir parar, mesmo prometendo a si mesmo ou a outros;
- Usar tempo e dinheiro nas apostas, negligenciando contas e obrigações;
- Mentir sobre o jogo ou tentar esconder;
- Apostar para fugir de problemas emocionais;
- Ouvir de familiares e amigos que está exagerando no
- tempo ou dinheiro gasto;
- Ou até mesmo se isolar para jogar, abandonando a convivência.
Essa sensação é familiar para você? Então é hora de procurar ajuda. Grupos como o JA e acompanhamento psicológico são os primeiros passos para ressignificar emoções e evitar recaídas.
No fim das contas, a lição é clara: não dá para brincar com a sorte quando o preço a pagar pode custar a sua vida inteira.
*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes