Com o crescimento das bets no Brasil, as apostas caíram no gosto do baiano, mas têm mostrado o lado mais sombrio. Em Salvador, o coletivo Jogadores Anônimos (JA) montou uma parceria para apoiar quem sofre com o vício e quer recomeçar.
Para acompanhar esse processo, o Portal MASSA! esteve presente com alguns dos membros da “Sala Salvador”, onde integrantes e familiares compartilham histórias de como
perderam tudo, mas encontraram ali uma nova chance.
Leia mais:
“Estamos vivendo epidemia”, diz presidente da CPI sobre apostas
STF analisa decisão que barrou Bolsa Família em apostas esportivas
Reconhecimento facial de apostadores online começa a ser testado
Todas as terças-feiras, às 19h, o grupo se reúne com o mesmo objetivo: “se livrar do aperto do jogo”. Sob anonimato, um dos membros, de cara, nos falou que "bet é o novo crack, virou pandemia, e vai crescer ainda mais”.
Bet é o novo crack, virou pandemia, e vai crescer ainda mais
Integrante do Jogadores Anônimos
Durante o encontro, os participantes leem trechos de uma literatura que guia o programa dos Jogadores Anônimos, baseado nos famosos 12 passos, e trocam experiências em um ambiente que acolhe sem julgar.
Parceria pura
O projeto é sustentado por voluntários em abstinência, que agora ajudam novos integrantes em uma rotina que envolve leituras, atendimentos e apoio emocional. Para Roberto, nome fictício de um dos líderes do JA, o processo é um agradecimento pelo que conquistou.
"O grupo é para quem quer se recuperar. Não é questão de força de vontade, mas de boa vontade, que é algo que a gente cultiva nos encontros. É uma batalha diária com apoio espiritual e troca de experiências", reflete.
No entanto, os relatos ouvidos no encontro revelam uma realidade dura. Muitos jogadores perderam tudo: emprego, família, até a própria paz de espírito.
Em um tópico alarmante, João (nome fictício) compartilhou que a maioria dos novos membros já pensaram em suicídio por conta das dívidas e da pressão do vício.
É um desespero grande, o jogo consome a pessoa até o fim
Membro do JA, João
“Quando alguém chega, sempre perguntamos: ‘Você já pensou em se destruir por causa das apostas?’ E quase todos dizem que sim. É um desespero grande, o jogo consome a pessoa até o fim”, relata.
Além dos impactos psicológicos, a obsessão pelas apostas deixa marcas financeiras e sociais. Jogadores relataram ter perdido seus salários em um único dia, inventar histórias para justificar o dinheiro perdido e destruir a estabilidade familiar.
“Tem gente que sai de casa dizendo que foi assaltada para justificar o que gastou no jogo. A compulsão arruína a vida pessoal e profissional de quem é afetado”, descreve Luiz, outro membro em abstinência.
Irmandade
Apesar de toda a luta, o grupo dos Jogadores Anônimos acredita que, mesmo sem cura, a recuperação é possível. “É uma doença que a gente não trata com remédio, mas com apoio e um dia de cada vez”, afirma Luiz, destacando a missão do grupo.
“Aqui, cada um ajuda o outro a sobreviver, a levantar e seguir sem precisar se esconder” , finalizou.
*Sob a supervisão do editor Pedro Moraes