
As mesas fartas de pratos preparados com antecedência fazem parte da tradição das festas de fim de ano. Apesar do clima de confraternização, o período também acende um alerta para os riscos de intoxicações alimentares, especialmente devido à manipulação e ao armazenamento inadequados dos alimentos.
Segundo o endocrinologista Dr. Heber Augusto Lara, professor da pós-graduação em Endocrinologia da Afya Educação Médica, as ceias de Natal e Réveillon reúnem condições favoráveis para a proliferação de bactérias. “Grande volume de comida preparada horas antes, exposição prolongada à temperatura ambiente, ambientes quentes e higiene insuficiente favorecem o crescimento de microrganismos e toxinas capazes de causar intoxicação alimentar”, explica.
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Entre as principais orientações, estão a higienização correta das mãos, superfícies e alimentos crus, o cozimento completo de carnes e ovos e o controle da temperatura dos pratos. Preparações quentes devem ser mantidas acima de 60 °C, enquanto alimentos refrigerados precisam permanecer abaixo de 5 °C. “O tempo máximo seguro para alimentos perecíveis fora da geladeira é de duas horas. Em dias muito quentes, acima de 32 °C, esse limite cai para apenas uma hora”, reforça o especialista.
As sobras da ceia, hábito comum em muitas famílias, também merecem atenção especial. Guardar alimentos ainda quentes em grandes recipientes ou esperar que esfriem totalmente em temperatura ambiente são erros frequentes. O ideal é fracionar as porções em recipientes limpos, bem vedados e colocá-las rapidamente sob refrigeração. Outro cuidado essencial é evitar a contaminação cruzada, mantendo alimentos crus separados dos prontos, tanto durante o preparo quanto no armazenamento.
Alguns pratos típicos apresentam maior risco, como carnes assadas, saladas com maionese, receitas à base de ovos ou creme, frutos do mar, patês e sobremesas cremosas. O uso de utensílios separados, como facas e tábuas específicas para carnes cruas, também contribui para reduzir a contaminação.
Além das intoxicações, os excessos alimentares comuns nas festas podem provocar desconfortos digestivos, azia, náuseas, inchaço, ganho de peso temporário e agravamento de condições como hipertensão e diabetes. Para minimizar esses impactos, Dr. Heber recomenda comer devagar, evitar combinações muito pesadas, moderar o consumo de álcool e manter alguma atividade física leve após as refeições.
No período pós-festas, muitas pessoas recorrem a dietas restritivas como forma de compensação, prática considerada inadequada pelos especialistas. “Restrições severas podem causar deficiência de nutrientes, compulsão alimentar e efeito sanfona, além de prejudicar o bem-estar emocional”, alerta o endocrinologista. A orientação é retomar gradualmente uma rotina alimentar equilibrada, com maior ingestão de água, frutas, verduras e proteínas magras.
Surtos
Dados do Ministério da Saúde mostram que mais de 13 mil surtos de doenças transmitidas por alimentos foram registrados no Brasil entre 2009 e 2024, com maior incidência nos meses de dezembro e janeiro. Na Bahia, a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab) aponta essas doenças como uma das principais causas de diarreia aguda no verão, período marcado pelas altas temperaturas.
Segundo a Sesab, mais de 30% dos surtos alimentares ocorrem em residências e eventos familiares, reforçando que a segurança alimentar deve ser prioridade, mesmo em ambientes domésticos. A professora da Afya Salvador, Cecília Araújo, alerta que práticas como deixar alimentos por muito tempo fora da geladeira, utilizar recipientes inadequados e reaquecer parcialmente as sobras aumentam significativamente os riscos.
“A orientação é servir porções menores, repondo conforme necessário, utilizar recipientes térmicos e refrigerar as sobras logo após a refeição”, destaca a especialista.
Com cuidados simples e planejamento, é possível aproveitar os sabores tradicionais das festas de fim de ano com segurança, evitando que momentos de celebração se transformem em problemas de saúde.
*Sob a supervisão do editor Anderson Orrico
