O verão está chegando e, com ele, a exposição solar aumenta drasticamente, seja nas praias ou no trabalho ao ar livre. Mas o que muitas pessoas ignoram é que o câncer de pele, o de maior incidência no Brasil, muitas vezes começa de forma silenciosa. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a Bahia deve registrar 10.520 novos casos de câncer não melanoma e 250 de melanoma até o fim de 2025.
Este é um cenário crítico em estados ensolarados como a Bahia, onde a radiação ultravioleta atinge níveis extremos nesta época do ano. A falta de proteção adequada e o hábito de ignorar pequenas alterações na pele, como uma ferida que não cicatriza ou uma pinta que muda de cor, são os principais obstáculos para o diagnóstico precoce. Sem o tratamento rápido, o que parece um problema estético pode evoluir para complicações severas que exigem intervenções complexas.
O oncologista André Bacellar, da Oncoclínicas, faz um alerta importante para quem ignora essas marcas. "Se você negligenciar essa feridinha, ela pode crescer no local, acarretando a dificuldade para a sua resecção, muitas vezes cirurgias maiores, com danos funcionais e estéticos".
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O médico reforça que o problema não é apenas local. "Há um potencial de causar metástases mesmo nessa fase de feridinha. Então é por isso que você tem que cuidar disso logo, porque quando ele causa essas metástases, que vai para outros órgãos, ele passa a ser um potencial risco para a vida da pessoa, já que o tratamento já é muito mais complicado e muitas vezes sem um potencial de cura", detalha.
Pessoas de pele negra precisam ter maior atenção
Um erro comum no verão é acreditar que pessoas de pele negra não precisam se preocupar com o sol. Embora tenham uma proteção natural pela melanina, elas são o alvo principal de um tipo de tumor muito agressivo: o melanoma acral, que surge nas mãos, nos pés e nas unhas.
Mesmo nas suas fases bem iniciais tem um potencial grande de dar metástases, e quando isso acontece o tratamento já é bem mais complicado.
André Bacellar

Segundo o oncologista, a pressa no diagnóstico é vital. "Se ele se aprofundar por mais de um milímetro na pele, o risco de metástase já cresce bastante. Por isso que qualquer manchinha mais escura nessas regiões, principalmente na população com a pele negra, precisa ser avaliada o mais rapidamente possível por um profissional".

Riscos para o trabalhador
Para quem não está de férias e encara o sol por necessidade profissional, como ambulantes e garis, por exemplo, o risco de desenvolver o tumor maligno sobe 60%. "Quem trabalha com exposição solar tem um risco maior de desenvolver câncer de pele ao longo da vida. Geralmente, por ter essa radiação acumulada, esse risco se mantém ao longo de toda a vida da pessoa", afirma o oncologista.
A recomendação para esses profissionais e para os banhistas é rigorosa. O oncologista Marco Lessa, da Oncoclínicas, destaca que o uso do filtro solar com FPS mínimo de 30 deve ser diário, mesmo em dias nublados. André Bacellar completa a orientação: "A pessoa precisa se proteger usando o protetor solar, repetindo esse uso a cada duas horas, usando roupas de proteção de maneira física, roupas UV, bonés, óculos, para que diminua o máximo possível essa exposição solar contínua".
Evitar a exposição direta ao sol no horário das 10h e 16h, quando a radiação é mais intensa, usar roupas com proteção UV, chapéu ou viseira e óculos de sol são medidas importantes.
Marco Lessa

Pele clara? Cuidado redobrado!
Pessoas de pele e olhos claros, ou com muitas sardas, devem redobrar o cuidado. Segundo o André, esse público "já deve iniciar as suas consultas com dermatologista com, pelo menos, uma frequência anual".
No caso dessas pessoas, a relação genética é um fator determinante. "Então quem tem esse fototipo 1 ou tipo 2, com menos melanina (que é o que ajuda na proteção), tem esse risco maior de ter câncer ao longo da vida, e por isso a proteção contra o sol deve ser redobrada", defende André.