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FACÇÕES EMPREENDEDORAS - 13/10/2025, 07:30 - Bruno Dias

PCC e CV ampliam fonte de lucro com tráfico de animais na Bahia

Penas ‘fuleiras’ e risco pequeno fazem faccionados criarem ‘asas’ nesse ramo

Aves são os principais alvos dos bandidos
Aves são os principais alvos dos bandidos |  Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em meio à incessante procura por mais poderio financeiro para custear os cofres do crime, as facções têm ampliado as atividades ilegais para além do tráfico de drogas - prática mais antiga e comum entre as gangues. Além de taxas de água, luz e residência em alguns municípios, a prática do tráfico de animais já desponta como potencial concorrente ao tráfico de drogas, por exemplo, na Bahia.

Segundo informações apuradas pelo MASSA!, quadrilhas como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) têm ‘pegado a visão’ desse meio - por dois motivos: penas menores e risco reduzido. Conforme o agente ambiental do Ibama, Victor Augusto, o crime ambiental, apesar de pequeno, reúne criminosos de alta periculosidade.

“Quando prendemos alguém com animais, geralmente a ficha criminal inclui outros crimes, como furto ou estelionato. A pena é muito branda — de seis meses a um ano, apenas detenção — e isso não causa reclusão. Então, o infrator prefere traficar animais, porque o retorno financeiro é bom e o risco é baixo", revela à reportagem.

Aspas

Por isso, tentamos enquadrar esses criminosos também por receptação (art. 180) ou associação criminosa, quando possível, para aumentar a punição. Se não, ele assina um TCO e sai da delegacia antes da gente terminar o relatório

Victor Augusto, agente ambiental do Ibama

A partir disso, entra a atuação do Ibama, que é responsável pela fiscalização diária e pelos planejamentos de cada ano, onde articula a prisão dos responsáveis por cada esfera do tráfico e apreendendo os animais e/ou materiais ilegais. Nesse contexto, as aves são os principais alvos dos bandidos, especialmente os pássaros de canto:

“O volume maior, de fato, são as aves. Mais de 90% do tráfico, pelo menos na Bahia, está relacionado a aves. A gente vê que há um problema muito grande com os papagaios. Outra questão é o comércio de estrelas-do-mar. Todo turista quer levar uma como lembrança, mas isso também é ilegal. Tivemos quase 300 autuações no último ano só por causa disso, todas resultado da fiscalização no aeroporto”.

Mais de 90% do tráfico de animais na Bahia são de aves
Mais de 90% do tráfico de animais na Bahia são de aves | Foto: Divulgação / COPPA
Aspas

Outra questão é o comércio de estrelas-do-mar. Todo turista quer levar uma como lembrança, mas isso também é ilegal

Segundo dados divulgados pelas autoridades ao MASSA! e conforme relatório do Observatório do Tráfico de Fauna, do Instituto Freeland, entre 2018 e 2022 as espécies que mais apareceram nas apreensões são as aves, sendo 96% encontradas vivas.

Por outro lado, animais abatidos, suas partes, carne de caça e outros materiais a partir das penas, pelos e couro dos bichos também estão nas estatísticas.

Confira dados estimados através de pesquisas, colhidos entre 2018 e 2022 na Bahia:

- 15.670 animais vivos;
- 46 animais abatidos;
- 17.100 kg de pescado ilegal.

Em comparação com dados de todo o Brasil:

- 141.800 animais vivos;
- 9.100 animais abatidos;
- 140 partes, 860 ovos, 224 unidades de produtos e troféus;
- 1.170.000 kg de pescado e 53.000 kg de carne de caça.

Aves são os principais alvos dos bandidos
Aves são os principais alvos dos bandidos | Foto: Divulgação / MP-BA

Conheça quadrilha que 'voa' alto no esquema

Assim como no tráfico de drogas, a comercialização ilegal de animais silvestres também pode englobar diversas esferas, como cartéis, varejo pulverizado e pontos focais. Nesses esquemas, traficantes identificados como pessoas-chave do crime se tornaram alvos prioritários do Ibama, do Ministério Público e das polícias.

“Às vezes, deixamos de agir em casos pequenos para tentar chegar no fornecedor maior. Não adianta ficar ‘enxugando gelo’ se há alguém abastecendo dezenas de pessoas. Em setembro, o próprio GAECO fez uma grande operação e prendeu o 'Galego', um dos maiores traficantes de animais silvestres do estado”, indica Victor Augusto.

A gangue de Josevaldo Moreira Almeida, vulgo 'Galego', e Weber Sena Oliveira, conhecido como 'Paulista' - presos no início de setembro durante a 'Operação Fauna Protegida', em Mascote, no extremo sul da Bahia-, atuava em esquema com quatro núcleos operacionais.

Segundo o MP-BA, as atividades eram divididas em caça ilegal, transporte e comércio, lavagem de dinheiro e receptadores, normalmente residentes de Salvador. As práticas da quadrilha ocorriam há pelo menos 20 anos em diversos estados.

'Paulista' foi preso no início de setembro
'Paulista' foi preso no início de setembro | Foto: Divulgação

BR-116 é o point dos ‘traficas’

Segundo informações do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal (PRF), boa parte do esquema de transporte dos animais traficados é feita pelas rodovias, por ser considerado mais barato e fácil de burlar a fiscalização, o que faz com que a PRF tenha um papel ativo nas apreensões.

Em entrevista exclusiva ao MASSA!, a agente da PRF, Fernanda Maciel, explicou que a prática é normalmente encontrada nas rodovias federais que cortam o estado da Bahia, especialmente na BR-116, onde a incidência de transporte de drogas, animais e diversos materiais ilícitos é alta.

“Normalmente, esses animais são transportados para a região Sudeste. Durante as fiscalizações, observamos que eles costumam estar escondidos no bagageiro dos veículos, especialmente de ônibus, acondicionados em gaiolas pequenas e em condições muito precárias”, detalha.

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Falta alimentação, há calor excessivo e espaço insuficiente, o que também configura o crime de maus-tratos aos animais

Agente da PRF, Fernanda Maciel
PRF combate o crime nas rodovias
PRF combate o crime nas rodovias | Foto: Shirley Stolze / Ag. A TARDE

Além das aves, animais como macacos, tartarugas e materiais provenientes da pele do tubarão estão entre as apreensões mais recorrentes da corporação. Para tentar burlar as fiscalizações, os criminosos tentam ‘malocar’ os bichos e objetos em compartimentos secretos nos veículos:

“Já encontramos animais dentro de malas, em condições precárias, e gaiolas envolvidas em sacolas para evitar que o policial visualize o conteúdo de imediato. No final de agosto, na região sudoeste do estado, encontramos um caso em que, além dos animais, havia outros materiais ilícitos no veículo — inclusive armas de fogo."

Para ampliar a efetividade no enfrentamento desse tipo de crime, a PRF ampliou o reforço em treinamentos específicos e em constantes ações de capacitação e atualização dos agentes. A ideia chave é aprimorar as técnicas de abordagem e fortalecer o trabalho de inteligência para acompanhar e antecipar a evolução das estratégias utilizadas pelos criminosos.

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