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Entenda a treta - 20/06/2023, 17:27 - Cássio Moreira - Atualizado em 20/06/2023, 17:45

Golpe do PIX: "Prefiro acreditar nas vítimas", defende delegado

Delegado Charles Leão fala sobre indiciamento de jornalistas da Record TV Itapoan

Delegado fala tudo sobre o caso do PIX dentro da Record TV Itapoan
Delegado fala tudo sobre o caso do PIX dentro da Record TV Itapoan |  Foto: Shirley Stolze/Ag. A TARDE

Responsável pela condução das investigações sobre o esquema de desvio de dinheiro por doações feitas via PIX dentro da Record TV Itapoan, o delegado Charles Leão, titular da Delegacia de Repressão a Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), afirmou durante coletiva, nesta terça-feira (20), que os indiciados, Marcelo Castro, Jamerson Oliveira e o amigo de infância de um deles, não apresentaram provas para as alegações feitas nos depoimentos prestados. Por isso, ele pontua que prefere acreditar, neste momento, nas vítimas.

“Até o presente momento, posso falar que todas as alegações trazidas não foram alicerçadas com qualquer documento. Isso me permite a ter convicção de que acredito nas vítimas, mães e pais, pessoas com graves doenças, do que uma afirmativa separada de qualquer fundamento. Estão indiciados pelos crimes de estelionato, associação criminosa e lavagem de dinheiro”, explicou o delegado, que ainda pontuou que todo o processo tem sido tratado com cuidado para que a verdade seja descoberta.

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“É uma investigação demorada. Estelionato por si é demorado. Nosso compromisso é com a verdade. Eu já ouvi 61 pessoas, cada depoimento desses implica aproximadamente uma hora. Essa demora na prestação da informação é pelo compromisso com a verdade, para que inocentes não venham a ser elencados. Se uma pessoa, por exemplo, emprestou a chave PIX, eu preciso ter a certeza de essa pessoa estava intencionada nessa associação criminosa. Eu não posso indiciá-lo só porque é uma pessoa pobre e mora na periferia”, continuou Charles.

Ao todo, 61 pessoas já foram escutadas até o momento, com 14 investigados. O perfil das vítimas, de acordo com o delegado, tem algo em comum: são pessoas em situação de vulnerabilidade social.

“Temos 11 casos noticiados pela empresa vítima (Record TV Bahia). Nesse decorrer, nos procuraram mais duas outras pessoas. Tem uma senhora no Curuzu que está sendo feita diligências para localizá-la. Também tem um caso em uma cidade a 400 km daqui, ela se comprometeu a vir para Salvador, mas não teve recursos. É um caso de uma mãe que tem uma criança autista queimada. São essas as vítimas, pessoas em extremo caso de vulnerabilidade, crianças com câncer, hidrocefalia. Estamos tratando de vidas que tiveram impacto”, completou.

O delegado ainda garantiu que, caso algum dos investigados tente obstruir as investigações ou ameace qualquer testemunha, ou vítima, será necessário o pedido da ‘cana’.

“Se houver obstrução de qualquer um deles durante a investigação, se for noticiado – alguns relataram medo porque um tem arma, um tem envolvimento com rifeiro -, mas não trouxeram nenhum fato objetivo. Agora, posso falar firmemente, se obstruir a Justiça, só me resta pedir a prisão de quem assim praticar essa conduta”, disse.

O esquema

Dos casos divulgados até o momento, o de maior repercussão envolveu uma doação para o tratamento de uma criança com câncer. A família precisava de R$ 350 mil, e o jogador Anderson Talisca doou cerca de R$ 70 mil. A reportagem ainda conseguiu R$ 109 mil, mas uma parte ficou retida pelos indiciados. A retirada e distribuição da grana era feita por meio de boletos. Um doador ‘fake’ também utilizado no esquema; um rifeiro.

“A empresa vítima fez uma notícia crime [...] Os elementos que eles tinham naquele momento é que uma das pessoas, no caso de um jogador de futebol, seria um rifeiro, mas se detectou que ele era cabelereiro. Também ficou constatada a participação de um rifeiro. Havia pessoa sempre com o mesmo jornalista, e esse mesmo jornalista dizia “fulano de tal está fazendo uma doação” e sempre citava quatro ou cinco pessoas, incluindo esse rifeiro. Ele foi ouvido e o que se percebeu é que aquela afirmação era uma fraude, não havia doação nenhuma para quem estava precisando. Passava-se a imagem da pessoa e na verdade não havia doação nenhuma. Os indiciados informaram que sabiam que era antiético, mas não ilegal. O rifeiro traz vários comprovantes bancários que indicam que esses jornalistas recebiam nas suas contas correntes valores, e todos eram o mesmo. Eles falaram que era um merchandising”, explicou o delegado, que afirmou que a Record TV Itapoan nega a informação de que a grana seria de ‘merchan’.

“Esse cabelereiro corta o cabelo do amigo de infância de um jornalista. Se verificou que no dia 28 de fevereiro, nessa reportagem, se conseguiu a doação de R$ 109 mil. Esse dinheiro, pelo que percebi no extrato, como ele sai da conta? Paga-se cinco boletos de R$ 15 mil, outro boleto de R$ 5 mil, outro de R$ 12.882 mil. Sai pagando boleto, o que pra mim se implica como lavagem de dinheiro”, meteu Charles.

“No caso do jogador, eu posso informar que ficou retido R$ 70 mil. O amigo do jornalista manda para a conta da mãe da criança que necessitava de cuidados médicos, teve câncer no olho e passou para a garganta [...] Querem que acredite que a mãe entrou em um plano fraudulento com esse amigo de infância. Eu acredito nessa mãe e em todas as mães que ouvi [...] Prefiro acreditar nessas vítimas do que em versões sem qualquer fundamentação documental ou testemunhal”, fechou o delegado.

Aspas

Prefiro acreditar nessas vítimas do que em versões sem qualquer fundamentação documental ou testemunhal

O titular da DreofCiber não confirmou que o valor total chega a atingir R$ 800 mil, como divulgado anteriormente por veículos de imprensa, mas confirmou que a quantia é “considerável”. Apesar de não pedir a prisão preventiva dos três indiciados, o delegado disse entender que será necessário, em algum momento, mandar as investigações para que o Ministério Público o que será feito.

Delegado da DreofCiber, Charles Leão coletiva
Delegado da DreofCiber, Charles Leão coletiva | Foto: Shirley Stolze/Ag. A TARDE

“É um valor considerável. O que eu posso falar é o caso do jogador de futebol. O jogador fez a doação para a família, para a conta da mãe, não tem mistério. A chave PIX que apareceu na tela não era da família. Quando o assessor do jogador fala com o jornalista, o jornalista disse “eu disse para ele depositar na conta da mãe”. Então, ele sabia que a chave PIX não era da mãe”, disse o delegado.

“Vai ter um momento que eu vou ter que entender que é necessário remeter esse procedimento para o Ministério Público, até para fim de maior transparência para que o promotor possa analisar, requerer diligências ou denunciar. Até o presente momento são 61 pessoas”, admitiu.

Os indiciados vão responder pelos crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e organização criminosa, de acordo com o delegado responsável pelas investigações.

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