Os moradores das regiões de Tancredo Neves e Engomadeira, em Salvador, viveram momentos de tensão e terror nesta semana. Na localidade foram registradas cinco ocorrências. O segundo sequestro ocorreu na última segunda-feira (17). Na ocasião, uma adolescente de 16 anos foi feita refém pelo próprio namorado, apontado como líder do tráfico de drogas de um 'bonde' da região. A vítima foi libertada após quatro horas de cárcere privado, e o suspeito foi conduzido para o Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (Dracco).
Na terça-feira (18), bandidos voltaram a aterrorizar moradores e invadiram uma residência na mesma localidade. Ousados, os sequestadores ainda transmitiram ao vivo pelo Instagram de uma das vítimas toda a ação. Entre os pedidos deles estavam coletes à prova de bala, assim como a presença da imprensa e do Bope no local. Ao mesmo tempo, também em Tancredo Neves, criminosos fizeram uma mulher grávida refém.
Os casos aconteceram após o bairro de Tancredo Neves receber reforço policial depois de ter sido alvo de atos violentos recorrentes. Na quarta-feira (12), uma criança de seis anos, uma idosa e dois adultos também foram feitos reféns na localidade. O sequestro durou cerca de sete horas e os quatro suspeitos envolvidos foram presos pela polícia.
Em conversa exclusiva com o Portal Massa!, o major Fábio Boaventura, comandante do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), explicou como a corporação é preparada para enfrentar casos de sequestros, que necessitam de negociação.
Inicialmente, quando o refém não é localizado nas ocorrências, a Polícia Civil é responsável por atuar no caso. A Polícia Militar será acionada quando a vítima for localizada, como aconteceu no caso da manhã desta segunda: a 23ª Companhia Independente da PM (CIPM), responsável pelo policiamento da localidade, acionou o Bope.
"A Polícia Militar que atua na área vai acionando, conforme a necessidade de resposta, os outros níveis de esforços da corporação. O Bope está no sexto nível de esforço. Ele atua quando, de fato, o CEC (causador do evento crítico) faz refém, coloca a vida de algumas pessoas em risco. O Bope é acionado para atuar com as alternativas táticas, que são: negociação, emprego do tiro policial de precisão (sniper), a intervenção com equipe tática e a utilização de meios não letais através das munições químicas", explicou o comandante Fábio Boaventura.
Para a ocorrência em Tancredo Neves, o Bope enviou uma equipe com 13 militares, sendo que três eram especialistas em negociação, um das especialidades necessárias para solucionar momentos de crise. De acordo com o major, ao todo, o Bope tem 10 militares especialistas em firmar acordos com o causador do evento crítico.
"O CEC tinha o objetivo bem claro: sair vivo. Ele estava fazendo algumas exigências, de presença de imprensa. Quando as exigências são legais, nós atendemos, com o objetivo de manter a segurança e salvar a vida de todos que estão no cenário. Ele se entregou com a presença da imprensa e o conduzimos para formalizar a ocorrência no Draco, da Polícia Civil da Bahia."
Preparação para negociações
Ainda conforme o comandante, após a formação no curso de Operações Especiais, necessário para integrar o batalhão, os militares que apresentam um perfil de negociação são alocados para tal especialidade.
"Para o militar entrar no Bope, ele precisa ser formado no curso de Operações Especiais. Ele é empregado nas companhias de serviço por determinado período, quando ele vai ser observado em diversos atributos e, depois, o alocamos para especialidades do perfil dele", afirmou.
Além da formação específica, os agentes possuem um certo 'ritual', denominado como "passagem de serviço" pelo major Boaventura. Antes começar o serviço, os militares do Bope fazem uma oração.
"Ao assumir o serviço na base, existe uma passagem de serviço por volta das 8h, nós proferimos essa oração e já ficamos prontos para atuar durante todo o dia", finalizou o comandante.