
A megaoperação policial realizada no Rio de Janeiro, nesta terça-feira (28), se tornou a mais letal da história, com, até o momento, 107 mortes confirmadas e 133 pessoas presas. Entre os alvos da ação, 17 eram baianos que estavam foragidos com auxílio do Comando Vermelho (CV) na capital fluminense.
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Os 17 traficantes baianos localizados durante a operação já possuíam extensa ficha criminal. São eles: Alan Barbosa Fonseca, Anailton Conceição dos Santos, Armando Santos de Jesus, Carlos Anderson Mattos Conceição, Carlos Henrique Souza dos Santos, Danilo Ferreira do Amor Divino (Dani ou Mazola), Diogo Garcez Santo Silva, Fábio Francisco Santana Sales, Felipe de Jesus do Rosário, Felipe Neves da Silva, Lucas Santos Barbosa, Marlon Nisa dos Santos Júnior, Pedro Henrique Mascarenhas, Robert da Silva de Jesus, Rauflan Santos Costa e William Pinheiro Moura.
O especialista em segurança pública, professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) e sociólogo Antonio Mateus Soares, explicou que, além da tentativa de escapar da Justiça, os criminosos costumam mudar de estado por conta da logística do tráfico.
“Eles têm assessores. Eles trabalham como uma corporação. Há troca de gerências nos estados, há recrutamentos e há mudanças. Há uma hierarquia, há um cronograma hierárquico. E quando tal gerente do ilegalismo não está funcionando bem em um estado, ele é trocado para outro estado. Nesse cronograma do crime, há uma dinâmica, uma rotatividade dos posicionamentos dos gerentes do tráfico. Ou seja, o que eles chamam de líder da boca. Então, eles podem ser transferidos para outro estado. O que acontece nas grandes corporações e empresas acontece também no crime organizado”, destacou o especialista.

Facções funcionam como empresas
Traçando um paralelo com o mundo corporativo, Mateus explica que facções como o Comando Vermelho (CV) e o Primeiro Comando da Capital (PCC) dividem as atividades do tráfico entre vários membros. Essas subdivisões, muitas vezes dentro do mesmo comando, acabam gerando disputas por território.
“Eles criam franquias. Agora, essas franquias recebem outros nomes, como Katiara e Bonde do Maluco — esses pela Bahia. Nisso, os comandos acabam se subdividindo e criando uma guerra por territórios e, consequentemente, por maior influência.”
O que explica o crescimento das facções?
O sociólogo também relaciona o crescimento das facções criminosas no Brasil à ausência do Estado nas comunidades. Segundo ele, no Rio de Janeiro, por exemplo, o histórico de corrupção e ineficiência governamental é evidente, citando que cinco ex-governadores já foram presos.
“Na ausência de políticas públicas de educação, emprego, saúde, lazer, escola e projetos de vida, as situações de vulnerabilidade social tornam esses jovens alvos fáceis para a cooptação. Eles conseguem isso porque percebem que esses jovens estão abandonados pelo poder oficial”, avaliou.
Mateus também destaca que o tráfico está intrinsecamente ligado à desigualdade social e à topografia das cidades. Ele citou regiões de Salvador que enfrentam forte marginalização e acabam se tornando foco da violência urbana.
“Na Bahia, você tem bolsões de pobreza. E onde eles se localizam? Nos bairros às margens da BR-324, no Subúrbio Ferroviário de Salvador — que tem mais de meio milhão de habitantes —, e nos bairros do miolo urbano, como Engomadeira, Tancredo Neves e Cajazeiras. Já na orla atlântica, mais abastada e segura, ainda há manchas de vulnerabilidade, como no Nordeste de Amaralina e em Itapuã”, explicou.
Traficantes baianos que já rodaram em outros estados
Além dos 17 localizados na megaoperação, já rolaram vários outros casos de traficantes baianos capturados em outros cantos do país. Um dos mais recentes foi o de João Ivan Oliveira Rodrigues, de 32 anos, preso no dia 11 de abril, em Campina Grande (PB).
Conhecido como “Meiquinho”, o cara era peixe grande no tráfico de Camaçari. Vivia se escondendo com documentos falsificados, mas acabou sendo localizado e preso pela Polícia Civil.
Em 2021, outro que rodou foi “Jau”, figurinha carimbada no Baralho do Crime da SSP. Ele foi preso na Cidade de Deus, no Rio de Janeiro. O criminoso estava sendo protegido por membros do Comando Vermelho (CV), mas vacilou e deu ruim.
Só em 2024, pelo menos cinco chefões do crime foram localizados em São Paulo. Entre eles, os conhecidos “Cientista”, “Motoboy” e “Nito”, todos com atuação pesada no interior.
