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dicas valiosas! - 20/06/2025, 10:00 - Bruno Dias - Atualizado em 20/06/2025, 10:14

Mesmo em baixa na Bahia, queimaduras acendem alerta no São João

Uso inadequado de café e pasta de dente pode ser 'tiro no escuro'

Casos de queimaduras aumentam durante o São João
Casos de queimaduras aumentam durante o São João |  Foto: Ilustrativa/Reprodução/Freepik

Com a chegada das festividades de São João, além dos forrós e comidas típicas da época, também ficam em evidência os casos de queimaduras. Mesmo com uma redução no número de acidentes envolvendo o fogo nos últimos dois anos, médicos de plantão e os agentes do Corpo de Bombeiros seguem em alerta no período de Junho.

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De acordo com dados divulgados pela Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), apenas durante o São João de 2024, entre os dias 20 e 25 de junho, foram registrados cerca de 66 atendimentos nas unidades de saúde. O número representa uma baixa de 7% em relação ao mesmo período de 2023, quando foram contabilizados 71 casos.

Em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, o comandante-geral dos bombeiros, coronel BM Aloisio Mascarenhas Fernandes, apontou que os acidentes com fogos de artifício são os de maior incidência, superando os relacionados a fogueiras e outras práticas. Ele acrescentou, no entanto, que a corporação está orientada a conscientizar a população sobre o manejo seguro desses dispositivos.

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O acidente de queimadura, ele é mais propício de acontecer no período junino, uma vez que essa festa, ela traz como elemento da sua própria cultura o fogo

Coronel BM Aloisio Mascarenhas Fernandes

“Nós trabalhamos no aspecto preventivo, no sentido de orientar um manejo seguro desse fogo, seja no momento de soltar fogos de artifício, seja no momento de criar fogueiras, para que a gente possa evitar. Reforçamos as equipes de atendimento pré-hospitalar, aproximamos os locais de maior concentração de público para que o socorro seja prestado de forma mais rápida”, diz.

Coronel BM Aloisio Mascarenhas Fernandes
Coronel BM Aloisio Mascarenhas Fernandes | Foto: Bruno Dias / Ag. A TARDE

Reflexo da fala do coronel foram as 32 vítimas atendidas por explosões de bombas e outras 15 por queimaduras diversas no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador - totalizando 47 ocorrências, mesmo número registrado nos dois últimos anos. Metade dos pacientes era do interior da Bahia, sendo 21 menores de 13 anos, o que representa aproximadamente 44,6% dos casos.

Higienização pós-queimadura

Todo cuidado é importante quando o assunto é queimadura e, por isso, qualquer lesão derivada do fogo deve ser tratada com atenção, seja de primeiro, segundo ou terceiro grau, conforme destacado pela médica cirurgiã com especialização em dermatologia e tratamento de feridas, doutora Gabriela Kruschewsky, em ‘bate-papo’ com a reportagem do MASSA!.

Médica cirurgiã com especialização em dermatologia e tratamento de feridas, doutora Gabriela Kruschewsky
Médica cirurgiã com especialização em dermatologia e tratamento de feridas, doutora Gabriela Kruschewsky | Foto: Uendel Galter / Ag. A TARDE

Ela reforçou que, mesmo as queimaduras que deixam apenas a pele vermelha, sem machucados mais graves, devem ser tratados com uma atenção especial. Além disso, explicou um passo a passo do que deve ser feito após o ferimento, com higienização e cuidado, antes de buscar ajuda médica.

“O primeiro ato que eu devo ter após me queimar, mesmo que eu não saiba nada sobre queimadura, nem saiba como, claro, classificar, porque sou leigo, é ir para debaixo da água corrente. Botar uma água corrente pelo menos por 10 minutos em cima daquele lugar”, inicia.

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Quando a queimadura acontece, você tem uma alta reação de inflamação naquele local, com aumento da temperatura. Então, a água serve para dar o alívio da dor e também para diminuir a temperatura local

Doutora Gabriela Kruschewsky

Na sequência, o recomendado é observar a área afetada com atenção e identificar o possível surgimento de bolhas. “Quando a queimadura surge as bolhas já é o momento de procurar uma assistência médica. Então as queimaduras de segundo grau e terceiro grau, que são queimaduras inclusive mais profundas, precisam de uma avaliação médica”, continua.

Nos casos mais graves de terceiro grau, a doutora explica que a situação é ainda mais séria. As camadas da pele ficam destruídas, muitas vezes com uma ferida profunda e exposta na região afetada. Nessas circunstâncias, é necessário recorrer a uma cirurgia para o devido tratamento.

Em seus 24 anos de experiência, Dra. Gabriela ressalta que é importante considerar a parte do corpo afetada pela queimadura, pois existem regiões que são mais sensíveis e mais propensas a complicações, como o pescoço e o rosto.

“Eu gosto de falar também de área corpórea afetada. Porque muitas vezes você pode ter até uma área queimada pequena, mas uma área nobre. Então, tem áreas que não tem que só avaliar a questão da profundidade da queimadura, mas também a área que foi afetada e a quantidade de área que foi afetada”, apontou.

Pó de café e pasta de dente

Com a incidência dos casos, muitas vítimas ainda costumam seguir mitos antigos, normalmente repassados pelos mais velhos, e recorrem a tratamentos caseiros improvisados para amenizar a dor e cuidar da queimadura.

Elementos como o pó de café, a pasta de dente, manteiga, alguns chás 'curativos', entre outros, são usados de forma errada sobre as feridas, o que pode ocasionar problemas ainda mais graves, prejudicando a cicatrização.

“Quando a gente pega uma ferida com borra de café, com pasta de dente, com manteiga, a maior dificuldade é limpar. Então, você vai traumatizar a pele ainda mais. Porque vai ter que esfregar, literalmente, tirar todo o resíduo dessas substâncias. Além de aumentar a dor, aumenta a resposta inflamatória e, com isso, também piora a condição daquela ferida e o risco de pegar a infecção”, explica.

Doutora Gabriela aponta para mitos que podem prejudicar a cicatrização
Doutora Gabriela aponta para mitos que podem prejudicar a cicatrização | Foto: Uendel Galter / Ag. A TARDE

Em casos como esses, cicatrizes podem surgir devido ao mau cuidado e acabar acompanhando o paciente pelo resto da vida: “A queimadura em si, geralmente, quando não é bem tratada, vai deixar uma cicatriz. Porque toda lesão de pele, toda hora que a gente quebra a barreira da nossa pele a cicatriz é a sequela. A gente tem que lembrar que, no processo de cicatrização, quem manda é o nosso organismo".

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A queimadura traz consigo uma sequela emocional, uma sequela social, uma sequela econômica, porque, a depender disso, a pessoa vai ficar com uma marca, uma cicatriz que pode atingir a autoestima dela

Doutora Gabriela Kruschewsky

Cuidados e tratamentos

Nos dias atuais, existem tratamentos especializados que podem oferecer melhores resultados para lesões causadas por queimaduras. Curativos apropriados, que não precisam ser trocados todos os dias, e tecnologias como a laserterapia são alguns dos recursos desenvolvidos para acelerar a recuperação do paciente e minimizar as cicatrizes na pele.

"O laser pode ser usado de imediato, seja na queimadura que for. Porque um paciente que teve queimadura de terceiro grau, com certeza, em outras áreas do corpo, ele também teve de segundo grau. Há chance das marcas da cicatriz, das retrações, porque queimadura quando ela cicatriza, ela retrai o tecido", garante.

Além disso, a Dra. Gabriela recomenda que as pessoas montem um pequeno kit de primeiros socorros, especialmente quem tem o costume de 'brincar' com fogos de artifício ou ficar perto de fogueiras, visando estar 'ligado' para possíveis acidentes.

"É importante também fazer aquele kit de viagem básico. Então eu vou viajar, vou comprar minha gase ali, vou comprar uma pomada, um creme com base de aloe vera e vou botar ele em cima daquela lesão. [...] E se caso eu sinta dor, eu tomar um analgésico que eu já sei que eu não tenho nenhum tipo de alergia", conclui.

Pequeno kit de primeiros socorros recomendado pela doutora
Pequeno kit de primeiros socorros recomendado pela doutora | Foto: Uendel Galter / Ag. A TARDE

Centros de tratamento do HGE

Referências no tratamento e cuidado as vítimas de queimaduras, com foco maior no São João, a Bahia conta com três centros de tratamento, localizados no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, no Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus (HRSAJ) e no Hospital do Oeste, em Barreiras.

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Nesses centros, os pacientes recebem tratamentos diferenciados, que depois podem ser ampliados para mais pessoas

Dra Gabriela Kruschewsky

"O HGE é uma grande unidade nesse sentido, uma referência nacional no tratamento de grandes queimados. O paciente vai encontrar lá os cuidados necessários. E é importante que, além do tratamento, ele também aposte no processo de recuperação. Fora os casos mais graves, é essencial que essas pessoas procurem o lugar certo para serem acompanhadas", conclui.

Nesse período, as equipes estarão reforçadas como parte do pacote de ações de R$ 12,2 milhões que o governo do Estado anunciou para os festejos juninos. Segundo a Sesab, o reforço no atendimento se dá pelo histórico de aumento de internações por queimaduras causadas por fogos de artifício nesta época.

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