
Com três centros de tratamento de queimados na rede de assistência estadual, a Bahia é referência para o cuidado de pacientes vítimas de acidentes que provocam queimaduras. Os serviços estão instalados no Hospital Geral do Estado (HGE), em Salvador, no Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus (HRSAJ) e no Hospital do Oeste, em Barreiras. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), que administra as unidades, as três estarão com equipes reforçadas durante o São João para garantir a assistência em caso de necessidade.
A iniciativa faz parte do pacote de ações de R$ 12,2 milhões que o governo do Estado anunciou para os festejos juninos. O superintendente de Atenção Integral à Saúde da Sesab, Karlos Figueredo, afirma que esta preparação é essencial para garantir a assistência. “Nossa ideia é dar tranquilidade a quem vai curtir o São João, assegurando atendimento para quem precisar”, afirma.
De acordo com a Sesab, o reforço no atendimento se dá principalmente por conta do histórico de aumento de internações por queimaduras causadas por fogos de artifício nesta época do ano. Os dados apresentados pela pasta apontam que o mês de junho concentram os maiores índices de internação por acidentes desse tipo. Ao longo de 2024, foram 75 internações, sendo 32% somente em junho. Em 2023, este mês concentrou 30% das 69 internações registradas.
A preparação da rede de atendimento é essencial para atender vítimas como o motorista por aplicativo Josimar Lima Rodrigues. Ele conta que, nas festas juninas de 2021, precisou ser atendido em uma unidade de saúde por conta de uma queimadura. “Estava olhando algumas pessoas soltarem espadas, quando de repente uma delas veio em minha direção”, lembra. “Ainda tentei afastar, mas acabei queimando minha panturrilha. Busquei logo atendimento, fiquei com uma cicatriz e hoje evito ao máximo ficar em locais em que estejam soltando fogos”.
O médico Marcos Barroso, que é coordenador do Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Geral do Estado (HGE), recomenda que, em casos de queimaduras, a única coisa que deve ser feita é lavar o local com água corrente e buscar um serviço de saúde. “Soluções caseiras não devem ser utilizadas de maneira nenhuma”, ressalta. “Passar produtos como manteiga, pasta de dente ou borra de café só agravará o ferimento”.
O médico ainda aconselha que, caso a roupa fique grudada na pele, a orientação é não tentar retirar. Segundo o médico, o ideal é que este serviço seja realizado em uma unidade de saúde.
Quem também precisou de atendimento por conta de queimadura foi a bancária Monalisa Torres. Ela estava em Senhor do Bonfim, no interior baiano, quando sofreu uma queimadura ao ser atingida por uma espada. “Estava assistindo algumas pessoas soltarem espada e fui atingida”, conta. “Demorei de lavar o local ou buscar o atendimento. Acredito que isso tenha contribuído para aumentar a extensão do ferimento”. Ela diz que, depois desse episódio, passou a se proteger mais quando vai a algum lugar que tenha gente soltando espada.

Cuidados
Tradição nas festas juninas, os fogos de artifício despertam fascínio. “No contexto nordestino, o uso dos fogos de artifício transcende a mera estética, ele cumpre uma função celebratória e identitária, quase como um idioma próprio”, destaca Leonardo Santolli, pesquisador de Cultura Junina. “O ritual começa, claro, com a queima das fogueiras, mas logo se desdobra em balões, traques, rojões e bombas, instrumentos sonoros que, ao longo da madrugada, marcam a celebração”.
O tenente bombeiro militar Romualdo Costa Filho, porém, destaca que essa tradição merece cuidados que devem ser observados desde a compra até o correto manuseio. “Na compra desses artefatos, é fundamental observar se o fabricante está devidamente autorizado pelo Exército Brasileiro e se os produtos possuem selo de conformidade que ateste a qualidade e a segurança do material”, afirma. O tenente ainda chama atenção para o local da compra. “Importante comprar em locais de venda licenciados”.
O tenente ainda explica que, antes de soltar os fogos, é indispensável a leitura das instruções de uso e verificação da classificação de risco. “No momento de soltar os fogos, é fundamental escolher locais abertos e livres de obstáculos, mantendo distância de pessoas, edificações, veículos e vegetação”, acrescenta.
Costa Filho acrescenta que as fogueiras, outra tradição junina, também devem ser cercadas de cuidados para se evitar queimaduras. Elas devem ser montadas apenas em locais abertos, afastadas de redes elétricas, vegetação, construções e produtos inflamáveis. “Nunca utilize líquidos inflamáveis para acender a fogueira, pois isso aumenta consideravelmente o risco de acidentes”, ressalta.
“No caso de acidente que provoque fogo, a primeira ação deve ser tentar conter as chamas com água, extintor ou abafadores, desde que isso possa ser feito sem risco pessoal”, pontua o tenente. “Se o fogo estiver fora de controle ou as queimaduras forem graves, a orientação imediata é ligar para o Corpo de Bombeiros, no telefone 193, solicitando auxílio especializado”.

HGE é referência no tratamento de queimados
O Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) do Hospital Geral do Estado (HGE) é uma das unidades do gênero mais equipadas no país. O serviço dispõe de centro cirúrgico próprio e unidade de terapia intensiva (UTI), além de leitos de enfermaria adulto e pediátrico. As instalações do CTQ foram projetadas especialmente para atender as necessidades dos pacientes vítimas de queimaduras. São cerca de 200 profissionais capacitados especificamente para o tratamento de queimaduras.
“Temos, no CTQ, instalações modernas e profissionais preparados para dar assistência completa às pessoas vítimas de queimadura que precisam ser internados”, destaca o coordenador do CTQ do HGE, o médico Marcos Barroso. De acordo com ele, o centro está preparado para receber casos de acidentes durante o São João, incluindo queimaduras causadas por fogos. “Possuímos tecnologia avançada e profissionais especializados para proporcionar um atendimento eficiente e de alta qualidade”.
O coordenador acrescenta que a unidade está equipada para atender os pacientes com cuidados especializados e abrangentes, buscando sempre os melhores resultados de recuperação e reabilitação. “O destaque nacional é reflexo do compromisso de toda equipe do HGE com a excelência no tratamento de queimaduras e na promoção da saúde”, completa o coordenador.
O HGE também é referência para o atendimento a vítimas de explosão de bombas. Em 2024, foram 116 casos. Este ano, já são 24 registros. O médico cirurgião Marius Wert, coordenador do Serviço de Cirurgia de Mão do HGE, alerta para os riscos com os artefatos. “As bombas devem ser acesas em alguma superfície, sem segurá-las com as mãos”, recomenda. Ele acrescenta que acidentes com bombas costumam deixar sequelas, podendo até causar amputação da mão.