O que começou com engradados de cerveja empilhados e uma lona improvisada há 13 anos, hoje é uma das festas juninas mais queridas de Itapuã. O Arraiá da Tradição, idealizado por moradores do bairro em 2012, encerrou na terça-feira (24) mais uma edição marcada por alegria, inclusão e valorização da cultura local.
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A festa, que inicialmente durava apenas um dia, ganhou força e hoje ocupa três dias do calendário junino, reunindo famílias, artistas, ambulantes e visitantes. Com mais de 70% das atrações oriundas da própria comunidade, o evento prova que é possível manter viva a tradição sem abrir mão da originalidade e do protagonismo popular.
“O São João aqui é diferente. É onde conseguimos viver a tradição sem sair de perto de casa. A festa é feita com o coração, é memória afetiva”, emociona-se Leonice Gomes, pedagoga de 66 anos e moradora histórica do bairro. Ela lembra com carinho da mãe, dona Nissu, considerada uma das precursoras do Arraiá, que batia de porta em porta entoando “Ô João, ô João, São João passou por aqui”, unindo vizinhos em torno de comidas e alegria.
A estrutura deste ano foi possível graças à colaboração voluntária e ao apoio do projeto Forró Comunitário da Bahia, iniciativa do Governo do Estado que busca resgatar as origens das festas juninas nos bairros. “É um projeto de fundamental importância. Ele celebra o São João dentro da comunidade e ainda gera renda local”, destaca Celso Lázaro Gomes, idealizador do evento.
O palco, que já foi sustentado por bambus, hoje conta com equipamentos profissionais – muitos cedidos por apoiadores. Mas nem tudo são flores. Segundo Celso, ainda há lacunas no apoio público: “O órgão responsável por medir o som chega sempre na hora de acabar a festa, mas para ajudar com banheiro químico, por exemplo, ninguém aparece”.
Apesar das dificuldades, a segurança do evento foi garantida. Bombeiros civis e policiamento marcaram presença, e, desde 2012, nunca foi registrado um único caso de violência. “É um evento voltado para a família, para a comunidade. Aqui a gente celebrar com os nossos”, afirma Celso.
Além de cultura, o Arraiá da Tradição também é sinônimo de oportunidade para quem depende da economia informal. Andrea, de 36 anos, montou sua barraca de bebidas como alternativa ao trabalho na praia, prejudicado pelas chuvas: “Todo ano essa festa me ajuda. Os preços são justos, e todo mundo se ajuda. A renda daqui ajuda a cobrir o que perdemos na praia”.
Com direito a muito forró, samba e pagode, gêneros que compõem a diversidade do São João na capital baiana, a festa teve apresentações de grupos como Male Debale, Pagode do LP e Junior no Balanço. A programação foi pensada para representar a identidade do bairro e oferecer lazer acessível à comunidade.
O encerramento, deixou um gostinho de quero mais. “Já estou com o coração apertado. A gente precisa manter essa festa em 2026. É nossa, é do povo”, destaca dona Leonice.
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