Considerado o maior reduto político do PT no país, a Bahia pode ter um papel de protagonista no governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, que começa em janeiro de 2023. Desde a vitória do petista, no dia 30 de outubro, nomes como o governador Rui Costa, o senador Jaques Wagner, a cantora Daniela Mercury e o ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, passaram a ganhar força na composição dos ministérios.
Prestes a deixar o Palácio de Ondina, o governador Rui Costa é o nome baiano mais turbinado e ventilado nas especulações até o momento. Entre as possibilidades para o gestor petista, estão o Ministério da Cidade, Infraestrutura, Fazenda e Casa Civil. Até mesmo a presidência da Petrobras foi vista como o futuro do político, o que foi descartado pelo próprio Rui recentemente.
"Pela lei atual, eu nem posso assumir direção nem presidência de empresa nenhuma, porque mudaram a lei das estatais, que proíbe quem ocupou cargo eletivo nos últimos quatro anos assumir a presidência de empresas”, explicou Rui à imprensa na segunda-feira (21).
A favor de Rui, pesa a expressiva votação obtida por Lula no estado no segundo turno contra o presidente Jair Bolsonaro: 6.097.815 votos contra 2.357.028 obtidos pelo atual mandatário. Além disso, Rui conseguiu emplacar o seu sucessor no Palácio de Ondina, Jerônimo Rodrigues (PT). O portal Massa! apurou com nomes ligados ao governador que a sua indicação para algum cargo do primeiro escalão do governo é dada como certa.
O cientista político Cláudio André de Souza, mestre e doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), professor de Ciência Política da Unilab e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação de Políticas Sociais e Cidadania da Universidade Católica do Salvador (UCSAL), diz acreditar que a Bahia pode conseguir algo em torno de quatro ministérios no governo Lula, ou duas pastas e outros cargos de segundo escalão.
“A Bahia tem o quarto eleitoral e foi um dos estados decisivos para a eleição de Lula e é talvez onde o PT seja mais forte no Brasil. Eu não consigo dizer onde o PT é mais forte talvez no Piauí ou Ceará, mas a Bahia tem uma constância. De fato, você tem uma força política enorme para Lula, conforme a série histórica de votação. Eu entendo que no cenário que está colocado, a Bahia terá ministérios importantes e terá uma quantidade importante de ministérios. Dois, três, quatro, a gente não sabe. Ou terá dois ministérios e dois cargos de segundo escalão”, explicou o professor, que também pontuou o fato dos maiores colégios eleitores serem priorizados na hora da distribuição dos cargos.
“O funcionamento do nosso sistema político impõe que você tenha clivagens partidário-regionais. O que isso quer dizer? Que na montagem dos governos é importante levar em consideração os grandes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia. Então, do ponto de vista da montagem, da governabilidade, a representação dos grandes estados, onde estão a maior parte do eleitorado, de fato é uma coisa muito importante”, afirma.
Com um vasto currículo político, o senador Jaques Wagner é outro petista baiano cotado para fazer parte do grupo de ‘superministros’. Ex-titular dos ministérios do Trabalho, Defesa e Casa Civil, o parlamentar, que ainda tem mais quatro anos de mandato no Senado, já teve seu nome vinculado ao Itamaraty e à Defesa. Na última semana, Wagner também foi cogitado no Ministério do Meio Ambiente, uma das pastas mais cobiçadas. A informação divulgada por uma coluna foi negada em primeira mão pela assessoria do político ao Massa!. Rui e Wagner também são colocados com frequência no ‘balaio’ dos possíveis sucessores de Lula, que já afirmou que não pretende disputar a reeleição, no pleito de 2026. Questionado pela reportagem se existe algum ministério que possa dar maior projeção e bagagem para que os petistas disputem o Palácio do Planalto daqui a quatro anos, Cláudio André deu exemplos de outras passagens marcantes de baianos ilustres por cargos menores ou longe dos holofotes.
“Eu não sei se tem um ministério ideal para ter essa projeção nacional. Algumas vezes, você tem um ministério menor, mas que ganha visibilidade, como o caso de Gilberto Gil, que foi ministro da Cultura, o caso de Gabrielli (Sérgio Gabrielli) que tinha a presidência da Petrobras, uma grande estatal, uma das grandes petrolíferas do mundo. Isso também dá uma visibilidade pública, uma relevância. Eu acho que só o fato de estar em um ministério já é uma boa projeção nacional. O ideal é que esteja em ministério que tenha uma grande arrecadação, um grande orçamento, sendo esse ministério às vezes não é o mais importante”, acredita o cientista político, que prefere colocar um ‘freio’ ao comentar sobre a próxima eleição presidencial.
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“Eu acho que só de estar no primeiro escalão e em ministérios já traz uma relevância nacional e na relação com o PT. Eu acho que não há condição da gente fazer um cálculo do que será a sucessão de Lula em 2026. A gente pode ter um cenário em que Lula faça um bom governo e consiga se candidatar à reeleição e ir para o sacrifício pessoal. Então, acho que isso não está colocado. Quanto à sucessão em si, a gente vai ter que entender a performance do governo e dos seus ministros, porque qualquer nome, se Lula fizer um bom governo, que seja colocado por ele, já tem uma vantagem, um cenário mais positivo. Eu acho que neste momento não dá para cravar quem pode ser o sucessor. São vários [...] pode ser Dino, Haddad, Wagner, pode ser também Rui Costa. Não dá para descartar. Eu acho que a gente tem ainda que esperar para entender, acho que está muito em aberto. O debate da sucessão vai ter como condicionante a performance do governo”, afirma.
A Bahia também tem no páreo dois nomes para o Ministério da Cultura. O primeiro é o do ex-ministro Juca Ferreira, que esteve no comando da pasta, hoje com status de secretaria, por duas oportunidades nos governos Lula e Dilma Rousseff (PT). O segundo nome lembrado é o da cantora Daniela Mercury. A artista ‘deu tudo’ na campanha do presidente eleito e chegou a fazer uma ‘festança’ para o ainda pré-candidato em março deste ano, quando o petista esteve em Salvador para o lançamento da pré-candidatura de Jerônimo ao governo do estado. Uma reportagem do jornal O Globo diz que a cantora é uma preferência da esposa de Lula, Janja da Silva. Quem assumir o posto, que deve voltar a ser de ministro na próxima gestão, terá a árdua missão de ‘refundar’ as políticas de incentivo e ajuda ao setor, desmontadas pelo presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com menor alarde, os deputados federais Jorge Solla (PT) e Valmir Assunção (PT) também despontam como alternativas para representar a Bahia na Esplanada dos Ministérios a partir de janeiro. O primeiro nome seria indicado para comandar a Saúde, que teve a imagem manchada durante a pandemia. Como experiência em gestão na área, o médico tem sua elogiada passagem como secretário estadual de Saúde. Já Valmir, representante do Movimento Sem Terra (MST), seria indicado para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, que deve ser recriado por Lula. Sua ida já teria sido abençoada até mesmo pelos movimentos sociais e de reivindicação da redistribuição de terras e políticas voltadas para o trabalhador do campo.
A equipe de ministros de Lula só deve ser anunciada em dezembro. Desde a semana da vitória do petista, alguns políticos, incluindo a maioria dos citados na matéria, participam da colaboração do chamado processo de transição de governo.