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É preciso dar um jeito - 01/03/2025, 10:00 - Yan Inácio

'Ainda Estou Aqui' reacende debate sobre última escola na Bahia com nome de ditadura

Sucesso do filme, que concorre a três Oscar neste domingo (2), reaviva a memória do regime militar

Adolescentes em sessão de 'Ainda Estou Aqui' no Cinema Saladearte UFBA
Adolescentes em sessão de 'Ainda Estou Aqui' no Cinema Saladearte UFBA |  Foto: Carlos Zacarias/Arquivo pessoal

É um fato que o sucesso de 'Ainda Estou Aqui' trouxe à tona os horrores da ditadura militar e a reacendeu debates sobre o período histórico no Brasil. Em fevereiro deste ano, por exemplo, por conta da repercussão do filme dirigido por Walter Salles, o Supremo Tribunal Federal (STF) voltou a analisar a Lei da Anistia, que perdoou crimes cometidos pelos militares durante o regime.

Mas não foi só na Justiça Federal que o debate fez com que as lembranças do regime fossem revisitadas. O longa de Walter Salles também está sendo usado como ferramenta pedagógica. Em Salvador, o professor do Departamento de História da Universidade Federal (UFBA) Carlos Zacarias tem promovido debates sobre a memória desse momento histórico nas escolas da capital soteropolitana.

Assista ao trailer do filme:

Por meio do projeto de extensão "História e Memória da Ditadura Militar na Bahia a partir do nome de unidades escolares em Salvador" com estudantes da graduação, a exibição do filme que concorre a três prêmios do Oscar está colaborando para conscientizar estudantes e a população em geral sobre o último colégio com um nome que homenageia um líder do regime militar na Bahia.

Cinema e política

Em 1968, o então presidente Arthur da Costa e Silva foi responsável por instituir o AI-5, decreto que instaurou um dos períodos mais sombrios da ditadura militar. Além do fechamento do Congresso Nacional, da concessão de poderes totais ao mandatário e a censura indiscriminada de meios de comunicação, se espalhou no Brasil o modus operandi da tortura, desaparecimentos e assassinatos às pessoas que fossem contra o regime.

O ditador dá nome a um colégio estadual localizado na Ribeira, que é a última instituição de ensino a homenagear um líder autoritário no estado, de acordo com Carlos Zacarias. Uma das recomendações da Comissão Nacional da Verdade - instituída em 2012 com o intuito de promover o direito à memória e apurar violações aos direitos humanos durante o regime militar - é que governos federais, estaduais e municipais removam as homenagens a figuras que serviram à ditadura.

Zacarias conta que não tem o objetivo de levar a proposta de mudança de nome ao colégio, mas tem organizado ações para conscientizar os alunos em relação à memória do período autoritário. O lançamento de 'Ainda em Estou Aqui', em novembro do ano passado, foi a oportunidade perfeita para tratar da questão com os adolescentes do ensino médio.

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Dentro da proposta do projeto de pesquisa com estudantes de licenciatura em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA), eles conseguiram dois ônibus para levar os alunos do Costa e Silva ao cinema Saladearte da UFBA.

"Esses alunos ficaram muito interessados com a possibilidade de conhecer essa história, a ideia é que a gente desenvolva esse projeto e reflita sobre esse significado e envolvendo não só estudantes, mas também professores e até a comunidade do entorno do colégio para saber o tipo de percepção que eles têm da ditadura e do nome que homenageia o ditador Costa e Silva", conta.

Além do aspecto pedagógico, levar os adolescentes do colégio na Ribeira também colaborou para democratizar o acesso deles a espaços antes desconhecidos: "Poder levar esse filme a estudantes da escola pública foi fantástico, eles sequer conheciam a sala de arte da UFBA, o que é também uma coisa incomum."

Lembrar para nunca mais esquecer

Em 1979, ainda durante o regime militar, foi promulgada a Lei da Anistia, que concedeu perdão aos condenados pelo regime autoritário e autorizou o retorno de figuras exiladas como Paulo Freire e Darcy Ribeiro ao Brasil. A legislatura também provocou controvérsias por dar liberdade àqueles que foram favoráveis à ditadura e cometeram torturas, assassinatos e perseguições.

Os 15 anos posteriores foram de silêncio em relação à violência da ditadura. "Para essas pessoas que foram perseguidos políticos, esquecer não é uma alternativa. Mas para quem não teve relação direta com esse processo de perseguição, ou não tem um familiar que foi desaparecido, é bola para frente, toca a vida", explica o professor do Departamento de História da UFBA Carlos Zacarias.

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