
Até mesmo um processo delicado como uma crise existencial pode ser abordado com um toque de humor. O espetáculo Véspera – Tome Isto Que a Vida Te Dá, que estreia neste sábado, acompanha a história de Doralice, uma mulher que embarca em uma jornada de autoconhecimento para entender mais sobre si e suas qualidades. A peça estará em cartaz no Teatro Gamboa, com sessões sempre às 17h.
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Vivenciar uma crise existencial pode ser algo comum na vida adulta, mas nunca é um processo fácil. Por conta disso, conduzir uma história que aborda esse tema requer um certo cuidado a mais. “Eu acho que a maior dificuldade é criar esse compromisso com a personagem, de não cair em estereótipo, não ser desrespeitosa com a visão e com as decisões que da personagem, ter essa responsabilidade de apresentar para o público de forma íntegra”, disse Véu Pessoa, atriz que dá vida a protagonista, em entrevista ao MASSA!.
Com 21 anos de carreira, esse é o primeiro solo da atriz. Ela conta que a experiência de estar sozinha em cena é bem diferente e exigiu bastante de sua preparação. “Afinal, sou eu sozinha ali na cena, horas falando, me comunicando, mostrando a personagem, dando conta da representação. Não me sinto tão sozinha, mas o ritmo e energia do espetáculo está todo em minha mão, então eu acho bastante cansativo”, pontuou.
Val admite que se identificou com alguns dilemas encarados por Doralice ao longo da história. Para ela, a protagonista é alguém com quem qualquer um pode se enxergar. “Eu acho que Doralice é universal, porque ela é humana. Eu me identifico com a percepção da falha dela na tentativa de controle, no desabrochar para a transmutação. Ela é humana, todo mundo vai se identificar”, defendeu.

Um dos principais atrativos de Véspera – Tome Isto Que a Vida Te Dá é seu apelo imagético. Paula Lice, diretora da peça, conta que foi um desafio pensar em como ela iria conduzir essa história em termos visuais. “É um texto que é muito imagético. Em termos de encenação, eu poderia ir para 30 caminhos diferentes. É difícil fazer escolhas, porque ele dá muitas possibilidades, o que é maravilhoso”, afirmou.
Paula ressalta que um dos principais tópicos abordados pelo espetáculo é o controle. A peça convida a uma reflexão sobre como existem algumas coisas que não podemos controlar. “Acho que a gente passa a vida aprendendo a controlar certas coisas para viver, vai envelhecendo e descobrindo que é um controle pontual. Pensamos que temos controle, mas, na verdade, não temos muito controle sobre nada”, acrescentou.
A diretora ainda garante que o público pode esperar bastante emoção durante a peça. “A gente está ali o tempo inteiro desenhando uma curva emocional para que a plateia embarque com a gente junto nessa história. Para mim, a palavra de ordem sempre será emoção”
A mulher no teatro
Por ser protagonizado por uma mulher, o espetáculo também aborda a perspectiva feminina diante a vida. Apesar desse não ser o tópico principal do enredo, existem alguns tópicos que apenas as mulheres vão entender. “É claro que, por ser uma mulher, tem alguns recortes que só quem é mulher vai sentir de forma mais potente, já que socialmente somos tratadas diferentes, colocadas em lugares específicos por sermos mulheres”, afirmou.

Esse olhar mais feminino levanta questões que vão para além do espetáculo. Véu destacou que, assim como em outros setores da sociedade, o machismo ainda é muito presente dentro do teatro. “A gente consegue observar algumas coisas, como a falta de mulheres ocupando determinadas posições, a falta de mulheres em indicações de prêmios, esse tipo de coisa que denuncia que o machismo está ali presente”, pontuou.
Apesar da presença masculina ainda ser majoritária, o que não falta são exemplos de grandes mulheres nessa arte. A baiana destaca que possui grandes inspirações femininas. “Eu tenho grandes ídolas no teatro. Tenho amigas e conhecidas do teatro de Salvador que eu admiro muito. Acho que tem muita mulher incrível aqui em todas as áreas do espetáculo. Eu quero que a gente siga ocupando esses espaços”, ressaltou.
E assim como é inspirada, Véu também inspira. A diretora Paula Lice rasgou elogios para a performance da colega de trabalho. “Eu já tenho ela como uma das grandes atrizes que eu já vi na vida. Acho o poder dela de interpretação, de entendimento de texto, de articulação, de corpo e voz, algo realmente impressionante”, defendeu.
Serviço
O que é: Véspera – Tome Isto Que a Vida Te Dá,
Quando: de 10/05 à 01/06, sempre às 17h;
Onde: Teatro Gamboa, no Largo dos Aflitos, em Salvador;
Ingressos: Plataforma Sympla.
*Sob supervisão do editor Jefferson Domingos