
Um mar de conquistas marcou a estreia da categoria PCD (Pessoas com Deficiência) na 44ª edição da tradicional Regata Marcílio Dias, realizada no início do mês de junho na Baía de Todos-os-Santos. Pela primeira vez, a competição promovida pela Marinha do Brasil abriu espaço para a canoagem adaptada, e os atletas baianos do projeto Remo Sem Fronteiras fizeram história ao conquistar medalhas de ouro, prata e bronze.
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A participação inédita reuniu 30 atletas com deficiência física, visual e auditiva, integrantes da Associação de Remo Salvador e do clube de canoagem Kaiaulu Va’a. Eles disputaram uma prova de cinco quilômetros em canoas havaianas e emocionaram ao mostrarem que o esporte pode ser uma poderosa ferramenta de inclusão, autoestima e transformação.
“O Remo Sem Fronteiras nasce do desejo profundo de tornar o oceano acessível a todos. Acreditamos que o mar é um espaço de cura, força e pertencimento, e que ninguém deve ser privado dessa conexão por limitações físicas, estruturais ou sociais”, afirma Lorena Lago, diretora da Kaiaulu e idealizadora do projeto.
Entre os destaques, está a atleta Patrícia Gamboa, que perdeu a perna direita aos 12 anos por conta de um câncer. Desde então, encontrou no esporte um novo sentido para viver. “Foi uma emoção muito grande fazer parte, participar da regata com a Marinha e ver o reconhecimento que eles têm com a gente”, conta

Ela conta que foi o esporte que transformou sua vida após a amputação. “Depois que perdi a perna, foi o meio que comecei a gostar de fazer esportes. O primeiro esporte que me apaixonei foi o remo. Depois veio a canoagem, o boxe e o futebol de amputado, que tive o prazer de participar do mundial na Colômbia, sendo convocada para a Seleção Brasileira. Eu jogo no Bahia de Amputados e o esporte mudou minha vida e tem mudado a cada dia”, atesta a atleta.
Além da performance, o acolhimento oferecido pelo Remo Sem Fronteiras é o que mais marca a atleta. “Impactou desde o primeiro dia pela dedicação com a gente, pelo apoio, pelo incentivo que tem dado a cada dia com o projeto social. Espero que venha melhorar a cada dia mais”.
Entre a dor e o pódio
Aos 39 anos, Moisés Nunes perdeu a visão e precisou reaprender tudo: mobilidade, rotina e profissão. Ex-rodoviário, hoje ele é massoterapeuta e encontrou no remo uma nova razão para seguir em frente. “Foi muito emocionante ganhar a medalha na regata. Saber que somos úteis mesmo após perder a visão é algo que não dá pra descrever”. Sobre a emoção na Regata Marcílio Dias, ele não esconde a alegria. “Foi muito emocionante, né? Sabendo que na Marcílio Dias a gente subia ali no pódio ganhando aquela medalha. Foi muito emocionante, porque a gente tá no caminho certo. A gente ganhou a primeira batalha, não ganhamos a guerra, não”, disse. “Emociona saber que mesmo depois de perder a visão, a gente é útil para a sociedade, para todo mundo ali. É um trabalho maravilhoso”, conclui o atleta.
Superação dentro do mar
Divanildo Oliveira, pessoa surda, participou de sua primeira competição e levou medalha de prata.
“Foi muito emocionante a minha primeira competição e ganhei a medalha do 2º lugar na Regata Marcílio Dias. Foi desafiante, mas me esforcei, treinei com muita dedicação e superei os obstáculos”.

Professor de Libras e servidor público, ele conta que o Remo Sem Fronteiras lhe trouxe perspectiva. “Fico satisfeito em poder remar e romper a barreira da comunicação, pois no grupo temos pessoas com deficiência visual, física e auditiva”, diz.
Divanildo também deixa um recado para quem ainda sente medo de se arriscar. “Diria às pessoas que elas são capazes, que precisamos quebrar as barreiras do preconceito. Precisamos sair da zona de conforto. Não podemos desistir”, ressalta o remador.