
Um dos esportes mais populares do mundo, o futebol ainda é palco de cenas tristes em alguns estádios. Além das brigas entre membros de torcidas organizadas, um outro assunto acende o alerta para um debate mais amplo na sociedade: o racismo no esporte.
Leia Também:
Tristes episódios entre torcedores e jogadores vêm sendo cenas comuns nos últimos tempos e aumentando a cada ano que passa, segundo dados divulgados pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol. Quando começou a analisar os números no Brasil e no mundo, em 2014, o relatório do Observatório apontou 36 casos de racismo pelo planeta e estes crimes foram só aumentando como o passar dos anos.
Em 2019, cinco anos depois do primeiro estudo, o número já estava em 159 casos. No ano seguinte, 2020, devido ao início da pandemia, foram 81 ocorrências. Contudo, os casos voltaram a subir para 158, em 2021; para 233, em 2022; e para 250, em 2023, última edição publicada até o momento.
Em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, o diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, Marcelo Carvalho, destacou o aumento em crimes de racismo no esporte, mas ressaltou que também houve o aumento do debate acerca do tema.
“Existe um aumento, de fato, de 2014 pra cá, o que a gente tem percebido é uma curva que só cresce das denúncias de racismo no futebol, mas o que pra mim tem sido determinante é a conscientização e a educação que a gente tá fazendo nos últimos anos”, iniciou.
As pessoas estão entendendo que vai muito além disso e estão denunciando
Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
“O debate muito mais ampliado está fazendo com que jogadores, torcedores, jornalistas entendam o que é racismo, estejam mais atentos e denunciando mais. Por isso, nesse primeiro momento a gente vai ter ainda um aumento das denúncias, porque o que antes era dito como racismo, que era só insulto, xingamento, as pessoas estão entendendo que vai muito além disso e estão denunciando”, completou Marcelo.
Casos recentes
Nos primeiros quatro meses deste ano, alguns episódios já aconteceram nos quatro cantos do mundo. O melhor jogador do mundo, Vinícius Júnior, foi chamado de "macaco" por torcedores do Atlético de Madrid, na partida de volta das oitavas de final da Liga dos Campeões.
Outra situação que chamou bastante atenção foi do atacante da equipe sub-20 do Palmeiras, Luighi. Em partida válida pela Copa Libertadores da categoria, o atleta sofreu insultos de torcedores do Cerro Porteño-PAR, que fizeram gestos de um macaco para ofendê-lo. O jovem palmeirense não segurou as lágrimas ao deixar o gramado e cobrou punição aos envolvidos.

Por fim, um caso registrado no Brasil também chamou atenção nas últimas semanas. No dia 31 de março, no confronto entre Internacional e Sport, pelo Campeonato Brasileiro Feminino, uma atleta da divisão de base do clube gaúcho, que estava assistindo à partida, jogou uma casca de banana em direção ao banco de reservas da equipe pernambucana.

O Colorado foi punido com a perda de três mandos de campo, a atleta teve o contrato rescindido com o clube gaúcho e as jogadoras do Sport ficaram com a marca da violência racista sofrida.
Racistas punidos
Além da conscientização por parte dos clubes e de todos envolvidos no futebol, existe também uma cobrança para que a Justiça atue de maneira rígida para punir os autores dos crimes.
Não interessa se é dentro de um estádio ou fora, a gente tem que identificar o autor das ofensas, abrir processos contra ele
Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
“As respostas que as autoridades devem tomar é aquilo que está na lei, previsto na lei no Brasil, da questão do racismo em injúria racial. Não interessa se é dentro de um estádio ou fora, a gente tem que identificar o autor das ofensas, abrir processos contra ele. Ele precisa responder isso criminalmente”, destacou.
Ainda segundo Marcelo, a sensação de impunidade colabora para que as pessoas cometam os crimes. “Não basta aprender num primeiro momento quando o ato acontece, a gente precisa levar esse caso para julgamento e que esse agressor, que esse infrator seja punido”, cobrou.
Responsabilidade dos clubes
Na opinião de Marcelo, mesmo com a identificação do criminoso e a punição por meio da Justiça, os clubes também devem ser cobrados.
Palestras para as categorias de base, para os torcedores associados, funcionários
Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
“A gente precisa responsabilizar o clube, para que o clube faça ações antirracistas. Palestras para as categorias de base, para os torcedores associados, funcionários, que prepare uma equipe para que esteja atenta e identifique os agressores. Isso deveria ser voluntário”, aponta o diretor-executivo do observatório.
Engajamento geral
“A gente precisa que de fato as pessoas sejam antirracistas e identifiquem o agressor, chamem a polícia, sejam testemunha para que de fato a gente tenha um ato antirracista. Para que de fato a gente possa dizer aquela frase, 'no meu estádio racista não se cria'”, projetou Marcelo.
Ainda de acordo com o diretor-executivo, o engajamento de todos envolvidos na situação é de extrema importância para que não haja retrocesso em uma causa tão importante.
Se nada for feito, a gente vai voltar há anos atrás
Marcelo Carvalho, diretor-executivo do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
“O atleta de futebol vem cada vez mais denunciando o racismo que ele sofre em campo ou fora dele, mas se nada for feito, a gente vai voltar há anos atrás, que nem são tão lá atrás, onde o jogador dizia que acontece em campo, fica em campo, que ele não ia denunciar racismo porque nada acontece”, pontuou Carvalho.