
O cantor Lobão retorna a Salvador nesta sexta-feira (11) com o show 50 Anos de Vida Bandida, às 19h, na Concha Acústica do TCA, como parte do projeto 'Concha Para Todos'. Conhecido por sua postura ácida, o artista colecionou muitas tretas ao longo da carreira. Um de seus maiores alvos de crítica eram os cantores Caetano Veloso e Gilberto Gil, considerados membros da “máfia do dendê”, expressão utilizada por Lobão para se referir aos grandes nomes da MPB que exerciam influência no cenário musical brasileiro.
As motivações para as críticas variavam, algumas vezes sendo direcionadas para as produções musicais, outras sendo voltadas para o campo político. Em 2016, por meio de uma carta aberta publicada no Facebook, Lobão pediu desculpas para Gil e Caetano e reconheceu o talento dos baianos.
Quase uma década depois, ele explica que, apesar de considerá-los grandes músicos, ainda possui algumas divergências.
Os meus sermões com eles continuam os mesmíssimos. Eu sempre deixei claro que eu acho eles artistas excelentes, mas não significa que eles sendo artistas excelentes que eu vá concordar com determinados tipos de conduta, determinados tipos de atitude"
Lobão, em entrevista ao MASSA!
O dono dos hits Me Chama e Rádio Blá argumenta que é completamente possível gostar de alguém e discordar dela. Para as pessoas que olham tudo de forma binária, o cantor afirma que essa é uma oportunidade de entender que a vida é algo mais complexo que o binarismo.
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“Você não pode chegar assim ‘esse cara é isso, então tudo eu vou colocar num pacote e detonar o cara’. Eu acho que isso é muito burro, mesquinho, cruel e não é legal”, acrescentou.
Mesmo dez anos depois de sua carta aberta, a admiração por esses dois nomes da MPB não mudou. Apesar de não concordar com o que eles pensam, Lobão voltou a enfatizar o carinho que sente por Caetano e Gil.
“Eu acho que o mais honesto na vida é você ter essa multiplicidade de facetas, ainda mais em um artista, que tem essa riqueza de facetas e que às vezes você pode concordar e às vezes não. Não é tudo que eu acho sensacional no Caetano e no Gil, mas acho eles excelentes artistas e tenho mó respeito como artistas”, completou.
Um afeto construído ao longo dos anos
Para o álbum Canções de Quarentena, o roqueiro gravou tanto Expresso 2222, de Gilberto Gil, quanto Você Não Entende Nada, de Caetano Veloso, o que mostra o seu reconhecimento pelo trabalho de ambos. Mesmo com as discordâncias políticas, o ex-Blitz defende que é difícil não ter um laço afetivo com os baianos. “Você tem uma memória afetiva desses caras que é inevitável você ter um sentimento até de parentesco, de família, a pessoa que te acompanha na vida o tempo todo”, contou.
A relação do músico com Gilberto Gil é algo que começou ainda na infância. O artista relembrou de um episódio que aconteceu em 1967, quando ele tinha por volta de seus 9 anos. “Me lembro de quando era criança, eu tava batendo pelada na rua, acho que o Gil estava lançando seu primeiro compacto, ele estava de terninho e gravata, meio gorduchinho. A bola bateu na canela dele e daí eu comecei a cantar a música dele ‘o dinheiro que eu lhe dei, não é meu, não’ e aí ele cantou o refrão comigo”, contou entre risos.
Apesar de seus elogios aos gigantes da MPB, Lobão faz questão de se manter como alguém que “não beija a mão de ninguém”. Sobre a expressão “máfia do dendê”, o artista defendeu que no Brasil existe uma cultura de coronéis. “O Brasil é uma capitania hereditária, a gente tem que entender isso, não é possível as pessoas discordarem de uma coisa tão óbvia dessas. Esse coronelato existe em todas as categorias, no Judiciário, no Executivo, em todas as classes, inclusive na música”.