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Te chama - 10/04/2025, 10:00 - Artur Soares - Atualizado em 10/04/2025, 10:22

Após 18 anos, Lobão reencontra Salvador, 'terra de desafetos', com show na Concha

Com histórico de brigas com Caetano e Gil, roqueiro volta à capital baiana com show nesta sexta-feira

Lobão traz show cheio de hits para Salvador
Lobão traz show cheio de hits para Salvador |  Foto: Eduardo Firmo / Divulgação

“No dia que eu deixar de provocar, pode me enterrar”. Assim brada Lobão, uma das figuras mais importantes e controversas da música brasileira. Nunca teve medo de expressar opiniões, o que obviamente gerou alguns desentendimentos. Sua relação com Salvador, cidade que tenta visitar há quase 20 anos, é um tanto quanto agridoce. A capital baiana é lar de Caetano Veloso e Gilberto Gil, com quem o roqueiro teve desafetos no passado. Em contrapartida, foi enquanto chegava na capital, em 2007, que recebeu a notícia de que havia vencido o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock do Brasil pelo seu Acústico MTV.

Depois de 18 anos, o Lobo Expiatório retorna para a Bahia com fome de música com seu show 50 Anos de Vida Bandida. A apresentação ocorre na sexta-feira (11), às 19h, Concha Acústica do TCA, e promete emocionar tanto os fãs, quanto o próprio artista.

Aspas

Para mim, voltar a Salvador agora, depois de tantas tentativas de poder tocar e não ter conseguido, é quase que uma conquista épica. É muito valiosa a possibilidade de estar voltando a tocar novamente em Salvador após 18 anos tentando. É uma grande vitória e com certeza isso vai refletir no show sob o aspecto emocional”

Lobão em entrevista exclusiva ao MASSA!

O dia em que ganhou o Grammy com o álbum Acústico MTV também marcou a última passagem do músico por Salvador. A vontade de voltar para a capital baiana existia, mas parece que nem todo mundo gosta de dar palco para um provocador.

“Eram negativas misteriosas que eu recebia o tempo todo. Tentei, tentei, até conseguir uma afirmativa e estou muito feliz por isso. Passei esse tempo todo a margem, sem poder tocar, tendo um amor muito grande pela Bahia em geral”, detalhou

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Repertório de hits e surpresas

O espírito indomável do cantor está presente até na escolha do repertório. Em vez de apenas tocar as músicas queridinhas do público, Lobão selecionou as canções com base no que elas falavam sobre o ele atual. “Eu jamais me rendo aos maiores clássicos. É claro que eu tenho uns 30 hits nacionais que me fazem ficar muito confortável na escolha do repertório, mas seria um absurdo. Eu coloco músicas que, antes de serem ou não serem sucessos, são pertinentes com a minha realidade atual”, explicou.

O show deste ano tem uma pegada diferente do que a última turnê. Dessa vez, o público pode esperar uma apresentação ainda mais livre. “Por uma direção do meu antigo empresário, eu não tocava música dos outros, tocava mais sucessos do que eu toco agora. Agora eu estou tocando, por exemplo, Disparada, do Geraldo Vandré e Théo de Barros, músicas do Legião (Urbana), músicas dos Beatles. Então, eu tenho muito mais abrangência de repertório do que eu tinha no ano passado”, revelou.

A noite na Concha Acústica também será a oportunidade de mostrar um pouco das músicas do seu próximo projeto, o álbum Vale da Estranheza. O nome é inspirado em uma síndrome real, caracterizada pela sensação de desconforto que surge quando pessoas encontram algo não-humano que simula a aparência humana. “Eu acho que quando esse disco estiver pronto, eu quero que a pessoa que comece a ouvir ele de cabo a rabo tenha a sensação de que ela vai pegar uma asa enorme, colocar nas costas e sair voando”, garantiu.

Imagem ilustrativa da imagem Após 18 anos, Lobão reencontra Salvador, 'terra de desafetos', com show na Concha
Foto: Eduardo Firmo / Divulgação

Além da robótica, outro tema que será importante dentro desse projeto é a desterritorialização. Se autoproclamando alguém sem lado político, o compositor considera que todo “engavetamento é um reducionismo”. “O disco é uma ode a desterritorialização. Eu sou um homem completamente desterritorializado, eu não tenho pátria, time de futebol, partido político, turma, religião, eu não tenho nada marcado no Universo que possa dizer ‘isso aqui eu começo, isso aqui eu termino’”, afirmou.

Inspiração no Nordeste

A viagem de volta a Salvador também possibilitou que o músico explorasse ainda mais sua criatividade. Foi durante as viagens, principalmente no Nordeste, que Lobão compôs suas novas produções. “A região Nordeste toda eu estava há muitos anos sem ir. Desde o final do ano passado eu visitei muito o interior de Pernambuco, do Ceará, fui várias vezes lá agora. Eu compus muita coisa na viola caipira e muita coisa que está me influenciado são os lugares em que eu estou indo”.

Encanto pela Bahia

Falando sobre a Bahia, além de desafetos, a terra também é fruto de muita inspiração. O compositor rasgou elogios à cultura do estado. “Eu acho que o cenário da música baiana é de uma riqueza. Eu tenho uma paixão pela música do Recôncavo Baiano, o violão do Recôncavo é uma coisa que eu tenho admiração. Eu gravei o Expresso 2222, do Gil, depois eu estudando vi que aquela levada de violão é típica do Recôncavo. Tem o Luiz Caldas, que é um gênio, uma pessoa que eu admiro para caramba”, acrescentou.

Lobão começou a carreira ainda jovem e com 17 anos entrou na banda Vímana, ao lado de nomes como Lulu Santos, Patrick Moraz e Ritchie.

Ao longo de 50 anos de carreira, colecionou diversas polêmicas, seja no mundo da música ou na política. Entretanto, a opinião pública nunca o impediu de tecer seus comentários ácidos. “Se eu fosse me preocupar com esse tipo de dilema, eu seria um canalha, porque o artista é feito para provocar. Você está ali para provocar, se você não é um provocador enquanto artista, você é um mero entretor. A posição gravitacional de um artista é provocar quem está observando sua arte”, comentou.

Sobre o cenário atual do rock, o cantor fez como Pilatos e resolveu lavar suas mãos. Mesmo que não se preocupe com o que acontece com a cena, ele parece ter uma visão otimista sobre como está o rock no Brasil. “Eu estou olhando para o meu próprio umbigo. Acho que estou em um momento raro para minha história como compositor, eu tô percebendo que estou fazendo um repertório de um disco que vai ser um marco. Posso concluir que, se eu tô bem, o rock está bom. Se eu estou melhor do que nunca, então o rock está melhor do que nunca”, argumentou.

Se o tempo é rei, como diz Gilberto Gil, talvez ele tenha transformado a forma de viver de Lobão. O artista vive uma nova fase em sua carreira, estando focado apenas em produzir o seu próximo álbum. Apesar disso, a ferocidade de um lobo ainda continua andando ao seu lado. “Eu não me sinto uma pessoa domesticada atualmente, eu simplesmente sinto que estou um pouco mais inteligente do que era. Estou artisticamente mais refinado, posso produzir coisas bem mais provocativas e bem mais eficazes em relação à provocação que eu vou lançar no ar”, contou.

Imagem ilustrativa da imagem Após 18 anos, Lobão reencontra Salvador, 'terra de desafetos', com show na Concha
Foto: Rui Mendes / Divulgação

Admiração por Caetano e Gil

A relação do músico com Caetano Veloso e Gilberto Gil foi repleta de altos e baixos. Lobão já disparou algumas críticas contra os dois baianos, seja por suas produções musicais, seja por opiniões políticas. No passado, o roqueiro se referiu a ambos como membros da “máfia do dendê”, expressão popularizada pelo jornalista Cláudio Tognolli e que abrange os artistas da MPB que exercem influência no cenário musical brasileiro.

Em 2016, as coisas entre os três ficaram mais calmas, com Lobão pedindo desculpas para os dois e reconhecendo o talento de ambos por meio de uma carta aberta publicada no Facebook. Apesar de considerá-los grandes artistas, ainda existem alguns pontos sobre os dois que não agradam muito ao roqueiro. “Os meus sermões com eles continuam os mesmíssimos. Eu sempre deixei claro que eu acho eles artistas excelentes, mas não significa que eles sendo artistas excelentes que eu vá concordar com determinados tipos de conduta, determinados tipos de atitude”, afirmou.

O cantor é uma verdadeira afronta a qualquer tipo de visão binária. Defensor de que a vida é algo complexo demais para ser definida por binarismos, o dono dos hits Me Chama e Rádio Blá argumenta que é completamente possível gostar de alguém e discordar dela. “Você não pode chegar assim ‘esse cara é isso, então tudo eu vou colocar num pacote e detonar o cara’. Eu acho que isso é muito burro, mesquinho, cruel e não é legal”, acrescentou.

Quase dez anos depois, a postura do autor da carta aberta não parece ter mudado. A admiração pelos gigantes da MPB continua a mesma, apesar de reiterar que não concorda com certos posicionamentos políticos dos baianos. “Eu acho que o mais honesto na vida é você ter essa multiplicidade de facetas, ainda mais em um artista, que tem essa riqueza de facetas e que às vezes você pode concordar e às vezes não. Não é tudo que eu acho sensacional no Caetano e no Gil, mas acho eles excelentes artistas e tenho mó respeito como artistas”, completou.

Para o álbum Canções de Quarentena, o roqueiro gravou tanto Expresso 2222, de Gilberto Gil, quanto Você Não Entende Nada, de Caetano Veloso, o que mostra o seu reconhecimento pelo trabalho de ambos. Mesmo com as discordâncias políticas, o ex-Blitz defende que é difícil não ter um laço afetivo com os baianos. “Você tem uma memória afetiva desses caras que é inevitável você ter um sentimento até de parentesco, de família, a pessoa que te acompanha na vida o tempo todo”, contou.

SERVIÇO
CONCHA PARA TODOS | LOBÃO: 50 ANOS DE VIDA BANDIDA

Quando: 11 de abril (sexta-feira), às 19h;
Onde: Concha Acústica do TCA (av. Alberto Pinto, 11, Campo Grande)
Quanto: R$ 45 (meia) e R$ 90 (inteira), com vendas na bilheteria do TCA e pelo Sympla;
Classificação: 18 anos.

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