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Surpreendente! - 29/03/2025, 09:00 - Dara Medeiros

Subúrbio de Salvador abriga belezas, cultura e culinária diversa

Região é uma das maiores da cidade e surpreende por riqueza de opções

Orla de São João do Cabrito
Orla de São João do Cabrito |  Foto: José Simões/Ag. A TARDE

Na contramão do significado negativo da palavra, o Subúrbio de Salvador é surpreendente e tem atributos únicos que o diferenciam de todas as outras periferias do Brasil. Considerado como uma das maiores regiões da capital baiana, ele possui incontáveis paisagens de arrancar o fôlego, praias encantadoras, uma ilha, espaços culturais, comércio intenso, uma gastronomia impecável e muito mais.

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Apesar de não estar presente nas primeiras indicações das agências de turismo da cidade, o Subúrbio Ferroviário é um destino que merece mais atenção. Há várias opções para visitar, conhecer e provar em tranquilidade e segurança, mas pode ser difícil saber por onde começar. Por isso, o MASSA! separou os principais pontos para curtir o que há de melhor no local.

Restaurantes suburbanos: culinária de dar água na boca

A área, que também é chamada de Suburbana pelos moradores, possui uma preciosidade imbatível: a culinária. Cheia de sabor e com um ‘precinho’ abaixo dos empreendimentos de outras regiões da cidade, a comida atrai muitas pessoas e as faz querer voltar para experimentar novos pratos.

Os bairros do Subúrbio têm restaurantes com várias especialidades, mas o destaque costuma ser em peixes e frutos do mar. Com uma orla extensa no ‘quintal’, os estabelecimentos da localidade oferecem aos clientes receitas deliciosas, preparadas com pescados frescos, comprados das mãos de pescadores e marisqueiros próximos.

Moqueca do Boca de Galinha é bastante conhecida
Moqueca do Boca de Galinha é bastante conhecida | Foto: Divulgação/Boca de Galinha

Entre tantos nomes, o restaurante ‘Boca de Galinha’ ficou conhecido como um dos melhores e mais conhecidos do Subúrbio. Com 35 anos de história, ele começou como uma simples barraca de madeira na beira da praia e acabou acompanhando de perto as transformações do local ao longo das décadas e o reconhecimento positivo da população de fora.

Vista do restaurante é encantadora
Vista do restaurante é encantadora | Foto: Divulgação/Boca de Galinha
Aspas

Nós começamos a chamar o pessoal para o Subúrbio, para conhecer o Subúrbio que muita gente ignorava

“É muito legal, muita gente de tudo quanto é parte daqui da Bahia, outros estados e países estão vindo para cá. E é diferente, porque há 35 anos atrás as pessoas não tinham essa visão tão legal do Subúrbio. Nós começamos a chamar o pessoal para o Subúrbio, para conhecer o Subúrbio que muita gente ignorava. O Subúrbio hoje está bem conhecido e já existem vários locais que não existiam”, comemorou Nilton Pereira de Souza, dono do restaurante.

Localizado na Rua Almeida Brandão, nº 58 A, no bairro de Plataforma, o Boca de Galinha também se destaca pelo clima de hospitalidade, afinal, a maior parte dos funcionários são membros da mesma família. Ele funciona de sexta-feira a domingo, das 11h30 às 17h30, e fica a cerca de 130 metros do Acervo da Laje, a próxima indicação do MASSA!.

Acervo da Laje

Seguindo o propósito de preservar a memória, compartilhar a história do Subúrbio Ferroviário de Salvador e mostrar toda a beleza e a arte presente na região, o casal de professores José Eduardo Ferreira Santos e Vilma Soares Ferreira Santos criaram a Associação Cultural Acervo da Laje, no bairro São João do Cabrito, no ano de 2010, a partir do estímulo do sociólogo Gey Espinheira.

“Eu tinha feito uma tese sobre repercussões de homicídio entre jovens no doutorado de saúde pública em 2008, na UFBA, no Instituto de Saúde Coletiva, e na banca de defesa do doutorado, o professor Gey Espinheira, que era um sociólogo, depois da banca, pediu que eu estudasse a beleza daqui, porque a gente só tinha estudado o Subúrbio a partir do viés da violência”, contou José Eduardo.

O que era para ser uma pesquisa acadêmica se transformou em uma missão muito mais profunda. Durante o processo de estudos, o casal descobriu que cinco artistas suburbanos morreram. Os dois procuraram obras deles em brechós e lojas e armazenaram as peças na laje da casa onde moravam. Pouco tempo depois, eles montaram uma exposição e abriram ao público. Daí veio o nome Acervo da Laje.

José Eduardo e Vilma Santos são os criadores do Acervo da Laje
José Eduardo e Vilma Santos são os criadores do Acervo da Laje | Foto: José Simões/Ag. A TARDE

“As pessoas iam visitar e depois diziam que não acreditavam que existiam esses artistas aqui no território”, relembrou o educador.

Sem ceder aos desafios e empecilhos, o projeto foi ganhando forma e ainda mais força. Não demorou muito e o Acervo da Laje abriu as portas para a pesquisa e a educação. Atualmente, o local é definido como “casa, museu e escola”, pois além de José e Vilma permanecerem morando no local e tendo mantido a estética de lar, eles passaram a fazer visitas guiadas, receber estudantes e professores de cursos relacionados à arte para estudos, promover mais exposições e também ofertar bate-papos e oficinas para crianças e famílias da comunidade, tudo feito com muito suor.

“A gente trabalha, a gente dá aula, a gente faz da oficina,a gente faz outras coisas que dão para manter o espaço. Eu sou professor, a Vilma é professora, então a gente tem outros meios de nos manter para além do acervo, e deixar a gratuidade do espaço é justamente porque ajuda as pessoas a terem uma inserção maior dentro do acervo. E a gente tem o apoio do Instituto Flávia Abubakir, que é um instituto que está ajudando a gente a pagar as contas mensais de três casas, serviços de manutenção, as estruturas, o material da oficina, almoço e alimentação das crianças, além de doações”, explicou ele.

Imagem ilustrativa da imagem Subúrbio de Salvador abriga belezas, cultura e culinária diversa
Foto: José Simões

Para Vilma Santos, é essencial falar sobre a arte suburbana e dar voz aos artistas locais, pois eles sempre produziram suas próprias obras, possuem talento e identidade, mas eram e ainda são invisibilizados na sociedade.

“Geralmente, as artes saem de dentro das periferias, a arte não fica, ela sai sem a identidade e as responsabilidades! Esses artistas não tinham nome, eles tinham arte, mas não tinha um nome, não sabiam quem eles eram”, refletiu ela.

Para conferir de perto o que está rolando no Acervo da Laje, agende uma visita pelo próprio Instagram @acervodalaje ou entre em contato pelo site www.acervodalaje.com.br. As visitas podem ser feitas de quinta-feira a domingo, sendo que de quinta a sábado os horários disponíveis são de 10h às 17h, e domingo das 10h às 14h.

Samba de Roda de Tubarão

Entre as manifestações culturais que pulsam no coração do Subúrbio Ferroviário de Salvador, o Samba de Roda de Tubarão tem ganhado espaço como uma expressão viva da ancestralidade baiana. O grupo faz o uso de atabaques e outros instrumentos percussivos, além de manter o característico ‘samba miudinho’, garantindo que a tradição local atravesse gerações e nunca se perca.

O projeto faz parte da Associação Cultural Quilombo Aldeia Tubarão (QUIAL) e tem como coordenadora a cantadeira, artista e produtora Natureza França. No seu surgimento, em 2014, o grupo foi batizado como A Corda Samba de Roda, mas passou por algumas mudanças e recebeu com essa nova proposta.

Coordenadora geral e cantadeira, Natureza França
Coordenadora geral e cantadeira, Natureza França | Foto: Uendel Galter / AG. A TARDE

Em 2024, quando completou uma década de existência, a história do Samba de Roda de Tubarão foi parar nas telinhas de cinema a partir de um filme que comemorou os “10 anos de continuidade” do projeto. A obra tem cerca de 30 minutos de duração e reflete sobre a importância cultural do trabalho realizado pelos integrantes.

Mais do que um grupo musical, o Samba de Roda de Tubarão se tornou uma expressão da própria comunidade, pois manifesta a cultura do Quial, e também propaga para as pessoas a importância do respeito pela ancestralidade.

Imagem ilustrativa da imagem Subúrbio de Salvador abriga belezas, cultura e culinária diversa
Foto: Uendel Galter / AG. A TARDE

As riquezas do Parque São Bartolomeu

Um lugar que não pode ficar de fora de um roteiro para conhecer o Subúrbio é o Parque São Bartolomeu. Localizado no bairro de Plataforma, ele funciona todos os dias, das 8h às 17h, e tem entrada gratuita. O parque abriga uma rica biodiversidade e também guarda profundas raízes históricas e religiosas.

Outro ponto alto do Parque São Bartolomeu é o fato dele ter várias trilhas e cachoeiras, permitindo a prática de diversas atividades esportivas, como caminhada, corrida, rapel, yoga, slackline e tirolesa, em contato direto com a natureza.

O Parque São Bartolomeu possui várias cachoeiras
O Parque São Bartolomeu possui várias cachoeiras | Foto: Clara Pessoa / Ag. A TARDE

Há modalidades com valores acessíveis e outras gratuitas, o que garante que todo o tipo de pessoa possa curtir o lugar e ter contato direto com um espaço que preserva o ambiente.

Praias e Ilha

O Subúrbio Ferroviário é repleto de praias e possui até uma ilha, batizada como Ilha de Maré. Entre os destinos mais procurados pelos banhistas estão a Praia de São Tomé, Praia de Tubarão, Praia de Base Naval, Praia de Itacaranha, Praia de Escada, Praia de Coutos e Praia de Periperi. Também há praias em Plataforma, Praia Grande, São João do Cabrito e Lobato.

São Tomé é uma das praias mais famosas da Suburbana
São Tomé é uma das praias mais famosas da Suburbana | Foto: José Simões

Ao atravessar o mar e chegar até a Ilha de Maré, os visitantes podem escolher à vontade se irão para a Praia das Neves, Botelho, Santana e Itamoabo. Com cenários dignos de filme, uma boa receptividade dos nativos e muitas comidas e bebidas gostosas, o passeio para lá deixa as pessoas completamente encantadas.

Praia das Neves é um dos principais destinos da Ilha de Maré
Praia das Neves é um dos principais destinos da Ilha de Maré | Foto: Uendel Galter/Ag. A Tarde

Bares do Subúrbio se destacam

O que também se destaca na Suburbana são os bares. Um dos principais motivos para tanto sucesso dos estabelecimentos é justamente a localização privilegiada da maioria, que aproveita a extensão da orla para unir os melhores petiscos e as bebidas mais geladas com as belezas naturais da região.

Quem entende e pode até dar aulas nesse quesito é o ‘Bar de Hosaná e Jó', em Itacaranha, que tem o combo completo para agradar qualquer cliente. Além de terem cozinheiros de mão-cheia, um freezer potente para deixar a cerveja trincando e uma estrutura boa para receber de famílias e casais apaixonados ao grupo de amigos solteiros, há também algo incomparável com os bares de outras localidades de Salvador: a vista.

Imagem ilustrativa da imagem Subúrbio de Salvador abriga belezas, cultura e culinária diversa
Foto: José Simões

Foi justamente a visão panorâmica, que vai da Ribeira até a Praia de São Tomé de Paripe, que fez a página de divulgação do bar ser uma febre na internet. Seja no amanhecer, no pôr do sol e até à noite, qualquer ângulo da praia parece ser uma pintura artística.

Nem quem se depara com o mesmo lugar todos os dias se acostuma. Segundo Caroline Borges, filha do Hosaná e administradora do bar, até os trabalhadores não resistem no fim do expediente e se jogam no mar.

“Aqui dá para ver a Ribeira e praticamente tudo! É lindo, muito lindo. Quando anoitece e o refletor bate na água, a gente desce e toma banho, todos os funcionários descem”, revelou.

Caroline Borges administra o bar Hosaná e Jó
Caroline Borges administra o bar Hosaná e Jó | Foto: José Simões/Ag. A TARDE

O clima amistoso e divertido entre os funcionários também se estende aos clientes, que são tratados como se estivessem na presença de velhos amigos, afinal, o bar carrega no nome e em sua essência uma linda história de amizade.

Caroline contou que o Bar Hosaná e Jó surgiu em 2002, quando o pai dela, um pescador que já tinha um “barraquinho” no local, conseguiu comprar um terreno e investiu na criação de um comércio. Ele convidou um grande amigo, Jó, para entrar no negócio e ser sócio dele. A parceria deu super certo por longos anos até que, infelizmente, Jó faleceu.

“Jó era o melhor amigo dele, e quando meu pai comprou, como eles andavam juntos, meu pai trouxe ele pra fazer sociedade com ele. Jó ficava aqui, todos esses anos ele ficou aqui com a gente, e é por isso que até hoje a gente não tira o nome dele. E eu já disse que o nome dele vai morrer aqui junto com a gente, porque é uma amizade além da vida. Ele foi padrinho do meu irmão mais velho, e esse nome vai seguir, vai permanecer para sempre ‘Bar do Hosaná e Jó’, porque é a história deles dois juntos”, declarou ela.

O bar tem dois andares
O bar tem dois andares | Foto: José Simões

Toda a família tem um carinho enorme pela praia de Itacaranha e mantém os costumes da época em que não eram tão conhecidos na região: “Isso aqui é a nossa vida, é uma coisa mesmo de família mesmo, é um negócio em que a família cresceu e que ajuda também os pescadores. Meu pai até hoje trata o peixe daqui, se você chegar, ele vai estar ali sentadinho, sozinho, porque para ele é ele que tem que tratar. Até hoje ele entra na cozinha se não estiver igual ao que ele fazia”.

O bar, que surpreendentemente não serve moqueca, mantém a tradição do peixe frito e dos caldos. O “carro-chefe” deles é a bicuda frita e o caldo de peguari.

Peixe frito é o carro-chefe deles
Peixe frito é o carro-chefe deles | Foto: José Simões

Para conferir essas e outras histórias de perto, eles estão localizados na R. Almeida Brandão, 2A, e funcionam todos os dias, das 9h às 18h, sendo que às segundas-feiras tem música ao vivo, com um partido para ninguém ficar parado. Uma novidade é que em breve o bar vai abrir à noite também, das 14h às 22h, e terá voz e violão.

A internet e o futuro do Subúrbio

O crescimento de estabelecimentos como o Bar de Hosaná e Jó não seria o mesmo sem o trabalho de influenciadores digitais que se dedicaram a criar conteúdos que mostrassem aquilo que há de melhor no Subúrbio de Salvador. Anderson Simplício, criador da página ‘Belezas do Subúrbio’, é um dos responsáveis por grande parte da popularização dos espaços públicos e estabelecimentos comerciais na região.

Anderson Simplício criou a página Belezas do Subúrbio
Anderson Simplício criou a página Belezas do Subúrbio | Foto: Reprodução/Instagram

"A página foi uma grande evolução, um grande impacto. Mostrou o que o Subúrbio realmente tem, deu um upgrade na região que antes era conhecida apenas pela marginalidade, pela violência que era vista nas mídias, ela transformou o subúrbio e outras páginas também foram sendo criadas para valorizar”, explicou Anderson ao MASSA!.

O trabalho dele e de outros blogueiros não apenas atraiu turistas, mas também inspirou outras páginas a surgirem, formando uma corrente virtual positiva. Negócios foram impulsionados e os estereótipos de muita gente foram desconstruídos.

Agora, as dicas culinárias, de passeios, esportes, cultura e lazer no Subúrbio Ferroviário estão espalhadas nas redes sociais e, consequentemente, pelo mundo afora. Ao que tudo indica, a tendência é amar e ainda mais as riquezas desse lugar.

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