
Com o tema “Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver”, o Shopping Center Lapa, em Salvador, deu início à 4ª edição do Julho das Pretas, um evento que vai até o dia 12 de julho com atividades gratuitas e foco na valorização da mulher negra. A iniciativa é fruto de uma parceria com o Fundo Agbara e o Instituto Odara, duas organizações voltadas à promoção dos direitos das mulheres negras e ao fortalecimento de seus empreendimentos.
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O evento ocorre na Praça de Eventos (L1) do shopping e integra a agenda nacional do Julho das Pretas, que neste ano chega à 13ª edição, com mais de 630 atividades em todo o país. Em Salvador, a programação também funciona como preparação para dois grandes atos: a Marcha Nacional de Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver, marcada para novembro em Brasília, e a Marcha das Mulheres da Bahia, que acontecerá no próximo dia 25 de julho, às 14h, na Praça da Piedade.
Entre o público presente, Ana Regina, 45 anos, destacou a importância do Julho das Pretas para a valorização da mulher negra na sociedade. “Hoje eu vejo mulheres negras desenvolvendo suas comunidades, criando seus próprios caminhos com credibilidade. Esse evento mostra que a gente sempre fez acontecer, mesmo com pouca estrutura. É uma força coletiva que inspira. O Estado ainda precisa investir mais, mas eventos como esse já são um grande passo”, afirmou.

A proposta do evento vai além da celebração simbólica: promove um ambiente de acolhimento, escuta e valorização dos saberes ancestrais e da força empreendedora das mulheres negras. Entre os destaques da programação estão rodas de conversa com representantes de movimentos sociais, oficinas de autocuidado, serviços gratuitos com trancistas e fotógrafas, além da Mostra Fotográfica com registros das marchas passadas.
A Feira de Afroempreendedoras é um dos pilares da ação. Produtos de moda, acessórios, aromaterapia, arte e beleza ocupam o espaço com identidade e potência.
Juliana Lima, por exemplo, iniciou seu negócio de aromaterapia com apenas R$ 40, e hoje exporta para países como Itália, República Tcheca e Portugal. “Minha empresa nasceu com uma necessidade pessoal de cura. A aromaterapia me salvou em momentos de crise e entendi que podia também curar outras pessoas. Hoje sou parceira do Sebrae, da Vale do Dendê, e atendo 23 marcas, muitas delas de mulheres vítimas de violência doméstica”, conta.
Já Evelyn Cunha, artesã e fundadora da marca Fiosdeafrica, transforma alumínio em joias que resgatam a ancestralidade africana e indígena. “Minhas peças não são apenas acessórios, são histórias contadas com as mãos. É arte ancestral com design futurista. Quero que as pessoas se reconheçam nelas, que sintam pertencimento”, relata. Ela integra o Afro Fashion Day e também atua junto ao Programa do Artesanato da Bahia.

A gerente de marketing do Shopping Center Lapa, Aline Ferraz, destaca o compromisso da instituição com a diversidade: “Temos o selo de diversidade étnico-racial e pensamos em pessoas pretas 365 dias por ano. O Julho das Pretas é uma forma de traduzir isso em ação, oferecendo espaço para roda de conversa, geração de renda e autoestima. É uma vitrine de conhecimento e transformação”.
Além de destacar iniciativas empreendedoras, o evento também promove reflexão sobre os desafios enfrentados por mulheres negras. Alane Reis, jornalista e ativista do Instituto Odara, defende que a juventude negra assuma o protagonismo das suas lutas. “É preciso denunciar violências, reivindicar direitos, ocupar espaços com alegria e ancestralidade. Precisamos de políticas públicas que nos vejam, nos ouçam e invistam em nós”, afirma.
A programação completa pode ser conferida nas redes sociais: @centerlapassa e @julho_das_pretas.