Jailson Santos, 38 anos, é catador de material reciclável, vendedor de amendoim, pedreiro, Papai Noel e tudo mais que a comunidade do bairro São João do Cabrito, no Subúrbio Ferroviário, em Salvador, precisar. Ainda que com dificuldades, o morador da Rua 1° de Novembro realiza, há 15 anos, trabalhos voluntários em prol dos vizinhos da região.
A atuação de Jailson no Parque São Bartolomeu, Rua 19 de Março, Boiadeiros e Estrada Velha do Cabrito começou quando ele percebeu que a comunidade enfrentava cada vez mais desafios, enquanto as pessoas mais necessitadas não recebiam qualquer apoio.
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“Comecei a fazer porque eu vi que a comunidade precisava de pessoas assim. Quando eu era pequeno, meu pai nunca festejou aniversário meu, nunca me deu brinquedo, porque não tinha condições. O bairro era muito violento, me chamaram para roubar, traficar, eu não quis. Falei que meu caminho é esse aqui, ficar perto das pessoas que querem o bem”, contou.
Segundo Jailson, seu trabalho pela comunidade vai da busca de verduras em caixas coletoras até reforma de casas em estado de urgência. Com apoio de vizinhos parceiros, ele já reformou a moradia de dois moradores da região.
“É um trabalho de formiguinha. Não tenho ajuda de político nenhum. Eu gravo vídeos pedindo ajuda para doação de blocos, areia, porque, inclusive, eu reformei duas casas lá no bairro por trabalho voluntário. E as pessoas também foram voluntárias, eletricista, pedreiro, encanador”, afirmou.
Além disso, em datas comemorativas, o catador faz a felicidade da criançada com fantasias e eventos solidários. “Eu sou correria, gosto de ajudar”, ressalta Jailson.
Para o Natal, Jailson já tem planos de tirar a fantasia do bom velhinho do armário e realizar uma festa para a comunidade. “No Natal, eu me visto de Papai Noel e fico na sinaleira do Boiadeiro desejando um feliz natal aos motoristas. No dia 23, eu vou fazer um natal solidário na comunidade, vou distribuir alimentos, brinquedos, um trabalho em conjunto”, detalhou.
“O melhor amigo do homem é o cachorro”
O trabalho de Jailson pela comunidade foi o responsável pela sua amizade com Da Lua, cachorro batizado e adotado pela região. A relação com o animalzinho surgiu quando o catador decidiu ajudar o cão, que estava quase morrendo por descuido.
“Ele estava morrendo, cheio de carrapato, aí eu fui pedir doação de remédio”, contou Jailson. Segundo ele, com os cuidados, o cachorro se tornou seu melhor amigo, uma companhia inseparável.
“Todo dia de manhã, quando eu saio, ele tá na minha porta. Quando eu vou ver minha mãe, ele fica me esperando. O melhor amigo do homem é o cachorro. Eu estava botando uma caçamba na rua, dei mais de 30 viagens e o cachorro colado comigo”, disse.
Tem tanta gente que maltrata o animal, joga na rua, no lixo, não tem amor, fica maltratando mesmo sabendo que ele é o melhor amigo do homem. Não pode desfazer do animal, tem que cuidar
Jailson Silva
Durante o alagamento que afetou o bairro, na última quarta-feira (27), o cãozinho foi, mais uma vez, salvo por Jailson.
Todo mundo tem que se ajudar
Em tanto tempo de trabalho voluntário, Jailson revela que sua casa se tornou um espaço onde os vizinhos recorrem à ajuda. O morador cultiva um desejo de expandir ainda mais sua atuação no bairro com a criação de uma associação para os jovens.
“Meu desejo é construir uma associação. Falta material, gente para ajudar. Quero montar curso para os meninos da comunidade”, lamenta.
Enquanto ajuda das mais variadas maneiras os vizinhos do bairro e compartilha o dia a dia em seu perfil, Jailson enfrenta dificuldades dentro de casa. Responsável por sustentar a esposa, a mãe e o pai, que apresenta uma doença no intestino, o catador encara desafios para manter a família.
Cientes da situação, amigos da comunidade decidiram criar uma vaquinha virtual para auxiliar a condição financeira de Jailson, ou Jajau, como foi apelidado.
“Eu faço de coração. Faço mais pelos outros e esqueço de mim, e hoje eu tô precisando de ajuda. Eu tenho vergonha de pedir, mas algumas pessoas fizeram uma vaquinha online para mim”, relatou Jailson.
Apesar das dificuldades, Jailson não desiste da correria pela comunidade e por quem precisa. “Tem gente que me chama de maluco, mas um dia vai chegar minha hora, no momento certo”, destacou.
Alagamentos
Na quarta-feira (27), um grave alagamento atingiu o São João do Cabrito. Com mais de um metro e meio de água acumulada, centenas de casas foram invadidas, deixando famílias presas em suas residências.
Segundo Jailson, a região sofre com alagamentos frequentemente e, mesmo com a denúncia das ocorrências, a situação permanece. “O alagamento acontece tem tempo, e nenhum órgão público faz nada”, lamentou.
“Nas eleições, muitos tentam pegar na ‘ponga’, mas não quero me envolver com política. Deixa eu continuar com meu trabalho de formiguinha, na comunidade”, finalizou Jailson.
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