
Moradia, educação, saúde e comida. Esses são alguns dos direitos básicos que qualquer pessoa deve ter, contudo, a realidade é bem diferente e muitos vivem até em situação de rua. Em Salvador, de acordo com dados divulgados pela prefeitura, cerca de 5 mil pessoas vivem nessas condições e os gestores da cidade embarcam na missão de resolver esse problema.
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Os motivos para uma pessoa viver nessas condições são diversos. Há casos de rejeição da família, perda de bens matérias, vícios e doenças relacionadas à saúde mental. Com o passar do tempo, muitos deles se tornam invisíveis para a sociedade, mas o poder público assegura que está atento para a situação.
Em entrevista exclusiva ao Portal MASSA!, o secretário Júnior Magalhães, que está à frente da Secretaria de Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre) explicou como a pasta tem atuado para resgatar aqueles que vivem expostos à sociedade.
“Nós temos uma equipe de abordagem que nós ampliamos, a equipe de abordagem funciona domingo a domingo, de 7 da manhã até 10 da noite, que faz toda a parte de abordagem das pessoas, de encaminhamento para os serviços assistenciais, tirar documentação”, afirmou.

Ainda de acordo com o titular da Sempre, os funcionários da prefeitura estabelecem uma relação de confiança e já são figuras conhecidas pela galera que vivem nesta situação. Em muitos casos, a ajuda é rejeitada, no entanto, ele garante que o trabalho não para.
“A pessoa querendo, ela pode ir para a unidade de acolhimento. Depois da unidade de acolhimento, ela vai fazendo todo o processo de acompanhamento psicossocial para poder acessar o auxílio de moradia, auxílio complementar, documentação e outros benefícios”, afirmou.
O gestor também ressaltou a importância de inserir essas pessoas no convívio do dia a dia e pontuou como a secretaria atua para oferecer oportunidades.
Nós temos 50 pessoas nessa situação, que trabalham em vários equipamentos da prefeitura, no Cras, aqui no prédio.
Júnior Magalhães
“A gente oferece, além da vaga de emprego, carteira assinada, com o plano de saúde, com todos os direitos trabalhistas assegurados. Essas pessoas têm o aluguel social garantido pela prefeitura e nós mobiliamos as casas. Nós temos 50 pessoas nessa situação, que trabalham em vários equipamentos da prefeitura, no Cras, aqui no prédio, inclusive nós temos no nosso departamento financeiro”, destacou Júnior Magalhães.
Além das ofertas de emprego, existe também a possibilidade de fazer as pessoas retornarem aos estudos para que tenham uma perspectiva de futuro ainda melhor.
Auxílio complementar
Um dos benefícios citados pelo secretário é o Auxílio Complementar que é a ajuda com um a três salários mínimos para quem precisa e está dentro dos padrões exigidos pela prefeitura. O programa é exclusivo da capital baiana e o valor não é entregue em dinheiro, mas sim com a compra dos móveis e eletrônicos.
Estar em situação de rua é a pior forma de exclusão social.
Júnior Magalhães
“Eu entendo que ninguém escolhe essa condição. Estar em situação de rua é a pior forma de exclusão social. Ninguém escolhe essa condição, em sã consciência ou porque optou, porque gosta de ficar da rua”, disse.
Desafio pesado
De acordo com Júnior Magalhães, cerca de 576 mil famílias estão na base do Cadastro Único de Salvador, o que dá hoje em torno de 1 milhão e 100 mil pessoas. O número representa um total de 40% da população que vive na capital baiana.
Apesar das dificuldades, ele destaca que desde que assumiu a pasta em 2023 focou em acabar com a fila do Cadastro Único e tem trabalhado para resolver esse problema.
“É um número que assusta, mas um número que também não pode nos tolir de a gente buscar solução e buscar caminhos”, afirmou o secretário.
Restaurantes populares
Matar a fome de quem vive sem ter o que comer é uma das missões que a Sempre tem pela frente. Atualmente, a cidade possui 10 restaurantes populares, que distribuem comida de graça, com direito a salada e proteína a escolha de quem vai “matar quem está matando”.
Não tem como discutir autonomia com quem está com fome
Júnior Magalhães
“O prefeito Bruno Reis diz sempre isso, que a pessoa com fome, a pessoa não pensa. Não tem como discutir autonomia com quem está com fome, não tem como discutir futuro com quem está com fome, então a fome é cruel”, lamentou Júnior Magalhães.
Ele ainda revelou que existe um projeto para inaugurar outros cinco pontos de alimentação gratuita em Salvador. Bairro da Paz e o Comércio já foram escolhidos para serem beneficiados, enquanto outros três locais ainda serão definidos por meio de um estudo da prefeitura.
Caps e a parceria com SMS
Outro pilar considerado importante para tirar a galera da situação de rua é a saúde. Por isso, uma parceria com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) foi firmada para fornecer atendimentos a quem precisa.
“Nós criamos o nosso protocolo aqui de encaminhamento, então já tem toda uma rede que atende a essa população, tanto a população em situação de rua quanto também em vulnerabilidade”, destacou o gestor.
Olhar para o futuro
Por fim, o secretário da Sempre revelou que tem como objetivo superar a pobreza em Salvador. Ele afirma a ideia não é restringir apenas em fornecer benefícios sociais, mas também oferecer oportunidades que abram portas no futuro.
“Estamos discutindo uma forma de superação da pobreza. Nós temos que ter ações integradas, entendemos que pobreza é multidimensional. Muitas vezes a família é pobre e ainda tem baixa escolaridade, não tem acesso à saúde, tem até insegurança alimentar. Não tem os direitos mais básicos de cidadania respeitados”, iniciou.

“A gente quer construir autonomia para essas pessoas no futuro para que ela não precise mais depender. Só vamos conseguir construir essa autonomia de fato se a gente tiver essa construção desses pilares: saúde, educação, qualificação profissional, combater segurança alimentar”, completou Júnior Magalhães.
Equipe de abordagem é resistência
A equipe de abordagem tem uma das missões mais importantes para o trabalho de inclusão em Salvador. A gerente do Serviço Especializado de Abordagem Social, Ivana Ramos, pontua a grande dificuldade das equipes que vão à rua.
“Muitas vezes acho que é a resistência de algumas pessoa em situação de rua porque muitos deles acabam desconfiando da equipe, rejeita o primeiro atendimento. Mas aí é o nosso trabalho de formiguinha mesmo, de construir o vínculo, o respeito deles”, afirmou.

Ela também ressalta que as ações feitas pela equipe muitas vezes são vítimas de preconceito por moradores dos bairros. Contudo, os agentes continuam focados para ouvir as pessoas em situação de rua e, caso eles queiram, oferecer um ponto de acolhimento.
O trabalho é feito de domingo a domingo, das 7h às 22h, em todos os cantos da cidade, com abordagem feitas a adultos, crianças e adolescentes
Centro Pop acolhe a galera
Com atendimento de dia e noite e uma equipe de profissionais de diversas áreas como assistentes sociais, psicólogos e educadores sociais, o Centro Pop atua para acolher e servir como uma porta de entrada para mudança de vida de olho no futuro.
Responsável pelas unidades em Salvador, Eurides Oliveira destacou a necessidade dos locais na capital baiana. “Tem como objetivo aí acolher, escutar, orientar, encaminhar essas pessoas que estão em situação de rua para outros serviços públicos. E sempre cujo objetivo é na superação da situação de rua e de procurar também reinseri-los aí na sociedade”, disse ao Massa!.
“Promover a inclusão social, a autonomia, a saída dessas pessoas da rua, o protagonismo dessas pessoas, de uma forma que elas consigam encontrar seu projeto de vida restabelecido”, acrescentou Eurides.
Fé que não mede esforços
Além das ações dos poderes públicos, existem atitudes de pessoas que se apegam a fé para estender a mão ao próximo e ajudar aqueles que mais precisam.
Há 18 anos, membros da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, localizada no bairro de Nazaré, centro da capital baiana, realizam ações voluntárias. “Além da distribuição da sopa, damos pão, roupas, calçados. No Natal sempre fazemos um almoço com doações do grupo de casais da igreja. Além do almoço, tem panetone e kit de higiênico”, explica a coordenadora do projeto, Maria Aldair.

Do outro lado da cidade, no bairro de Piatã, a situação não é diferente. O professor e pastor evangélico, Diego Luz, revela que o grupo não mede esforço para ajudar o próximo, principalmente para a galera da Cidade Baixa.

“Há 10 anos, o Ministério SIM faz trabalhos sociais com pessoas em situação de rua (Largos dos Mares, Aquidabã e Praça da Piedade), em Centro de Recuperação (Lauro de Freitas), assistência a Lar de Idosos (Itapuã). A cada mês é realizado uma ação, variando mês a mês até o final do ano”, afirmou em entrevista ao MASSA!.

De acordo com a dupla, ações como essas precisam ser feitas para alcançar ao máximo de pessoas possíveis e trazer dignidade a quem é visto à margem da sociedade.