
“Eu comecei a chorar, chorei muito. Meu guarda-roupa era novo... Comecei a chorar”. Esse foi o desabafo de Maria Raimunda de Jesus Saturno, de 77 anos, ao acordar na noite da última sexta-feira (2) e ver sua casa e seus móveis sendo tomados pela água das fortes chuvas que atingiram a cidade de Santo Amaro, a aproximadamente 75 quilômetros de Salvador, no Recôncavo baiano.
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Com a cheia do rio Subaé, causada pelo aguaceiro intenso, casas, comércios e unidades de saúde foram afetadas e mais de 300 famílias prejudicadas com perdas de móveis, roupas e outros pertences. Algumas precisaram abandonar suas residências para se proteger do alto risco, já que o nível da água chegou a encobrir parte da barriga.
Tristeza de uma dona de casa
O desespero se intensificou para dona Maria Raimunda quando sentiu a água subindo pelos corredores e não pôde correr para salvar seus bens, devido a uma cirurgia recente no pé direito. Por isso, precisou ser carregada às pressas pelo filho para longe de casa, conforme relatado à reportagem do Portal MASSA!.
“De tarde tava chovendo, mas não tava tão forte. Aí meu filho chegou e eu me deitei. Foi aí que a água começou a subir. Ele ficou aqui e tiramos a água. Depois me deitei de novo, ele também, no colchão aqui no chão, e fomos dormir. Quando foi de manhã cedo, minha filha, que mora aqui perto, chegou me chamando, quando me assustei com a água que já tava dentro de casa. Meu filho ainda estava deitado, no colchão, com a água nas costas”, conta.
Aí eu comecei a chorar, chorei muito. Meu guarda-roupa era novo... comecei a chorar, chorar. A Denise ficou comigo, me acalmando. Mas eu entrei em desespero. Meu outro filho veio me carregar e me levar pra casa da minha irmã
Os vizinhos se comoveram com a situação da senhora e ajudaram a retirar as mobílias da casa e colocar sobre superfícies mais altas para que não tivessem mais contato com a água. Ainda assim, algumas perdas não foram evitadas.
“Depois mandei jogar logo fora essas coisas aqui, que já tão tudo fedendo. O sofá, então tá todo ruim, molhado por baixo, tem que jogar fora também. Isso aqui tudo molhou”, diz.

A correria do filho
Para Edenilson de Jesus Saturno, de 47 anos, no momento de desespero, o pensamento foi de salvar a sua mãe: “A primeira coisa que pensei foi em socorrer minha mãe, porque ela tá 'enferma'. A melhor coisa que fiz foi cuidar dela. Mandei ela se acalmar, pedi pra não colocar o pé no chão, porque ela está recém-operada”.
Como minha mãe contou, perdemos sofá, cama, colchão. Tive perda de móveis, aparelhos, até um rádio que eu gostava muito. Graças a Deus a gente não perdeu a vida, é o mais importante. Mas foi um baque. Porque a gente perde coisas que batalhou pra ter

Ajuda da prefeitura
O prefeito Flaviano Bonfim visitou as pessoas prejudicadas pela enchente na terça-feira (6) e ofereceu apoio neste recomeço. A prefeitura também contou com o auxílio do Governo da Bahia para criar um gabinete de crise e disponibilizar a escola municipal Stella Mutti como abrigo e centro de ajuda. Por lá, colchões, cestas básicas, vacinas e outras doações foram distribuídas para os moradores.
“Já instituímos o aluguel social, principalmente para as famílias que moravam próximas às encostas e precisam sair definitivamente. A grande maioria das pessoas já conseguiu voltar para suas casas e está, aos poucos, retomando a rotina. Já limparam os imóveis e estão tentando reconstruir o que foi perdido. A prefeitura segue oferecendo o apoio necessário”, destaca.

“Sabemos que ainda vai levar tempo. Muitas famílias perderam tudo: geladeira, fogão, móveis, as casas ficaram praticamente vazias. Agora, estamos iniciando o cadastramento para garantir que essas famílias sejam assistidas”, finaliza.
A empresa pública da cidade partiu para as ruas e está atuando no recolhimento dos entulhos e lixos das casas danificadas. Além disso, também foi iniciado um acompanhamento com assistentes sociais, distribuindo cestas básicas, colchões, cobertores e garantindo a alimentação. Na área da saúde, pessoas estão sendo imunizadas, com as vacinas da Hepatite, Gripe e Antitetânica, para prevenir o surgimento de doenças.