
Quando se fala em plantações de cacau na Bahia, certamente, a primeira cidade que vem à mente é Ilhéus. Mas, engana-se quem pensa que apenas a região do baixo sul do estado é referência nesse tipo de cultivo. Em uma parte da extensa área verde presente na chegada do município de São Francisco do Conde, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), a 77km da capital baiana, está uma das maiores e principais produtoras e fornecedoras de cacau da Bahia e do Brasil.
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Essa riqueza em formato de lavoura fica localizada na Fazenda Engenho d'Água. É de lá que sai a principal matéria-prima para a produção de produtos fabricados pela marca Nestlé, a exemplo do tradicional Nescau. O espaço está, também, entre as 6.500 fazendas que integram o Nestlé Cocoa Plan (NCP), considerado o maior programa de sustentabilidade da cacauicultura no Brasil.
A convite da Nestlé, o Grupo A TARDE conheceu de perto a Fazenda Engenho d'Água durante uma visita guiada que proporcionou uma imersão de conhecimento sobre os trâmites executados desde o cultivo até o preparo do cacau para repasse ao cliente (Nestlé).
Segundo Igor Mota, gerente de agricultura para Cacau na Nestlé Brasil, a Bahia além de liderar a quantidade de produtores que fazem parte do programa NCP, tem expandido esse tipo de plantação para outras regiões do estado.
“Hoje, todas as fábricas de moagem de cacau que trabalham em parceria com a Nestlé estão em Ilhéus e Itabuna. Então, todo cacau que nós compramos, hoje, no Brasil, vem pra Bahia, que atualmente é o estado que mais tem produtores que fazem parte do Nestlé Cocoa Plan. Já são mais de três mil produtores baianos que contribuem com o cacau que chega às nossas fábricas e que estão nos nossos produtos. Nos últimos dois anos, a gente tem desenvolvido produtores, inclusive, no Recôncavo Baiano também. Então, tradicionalmente, o cacau estava em Gandu, Ilhéus, nas regiões do Baixo Sul e Extremo Sul, mas, hoje, já temos propriedades como essa da Fazenda Engenho d'água, fazendo parte do nosso programa e fornecendo cacau sustentável para nós”, pontuou.

Além da Bahia, outros cinco estados fazem parte do Nestlé Cocoa Plan, que tem como meta alcançar 100% de cacau sustentável. "A Bahia e o Pará são os dois principais, mas, também temos no Espírito Santo, Rondônia, Tocantins e São Paulo. Esses produtores que fazem parte do programa, além de receber uma bonificação financeira pelo cacau que ele fornece para nós, que é um é um prêmio em torno de R$ 100 por tonelada de cacau vendido, tem a possibilidade de participar de programas de assistência técnica e gerenciamento da propriedade, treinamentos como poda, para produção de mudas na própria fazenda. Os jovens, filhos de produtores ou de funcionários, podem entrar no projeto Cacauicultores do Futuro, onde eles participam de uma formação para que possam voltar para a propriedade e dar apoio para o pai, para que a propriedade se rentabilize cada vez mais", completou Igor.
Sobre a Fazenda Engenho d'Água
Símbolo de resistência e história, a Fazenda Engenho d'Água foi uma das afetadas pela crise da "vassoura-de-bruxa", doença causada pelo fungo Moniliophthora perniciosa, que atingiu a produção de cacau no Brasil, especialmente na Bahia, no final do século XX.
Hoje, sobre propriedade de Mário Augusto Ribeiro, o espaço é referência em plantação de cacau. "Ela começou o plantio de cacau em 1945 como alternativa à decadência da cana-de-açúcar. O cacau se expandiu bastante na fazenda, se fixou. Era um cacau auto compatível, branco e que deu alta rentabilidade. Até que veio a crise da vassoura de bruxa, que toda a região entrou em decadência, inclusive, a fazenda. Em 2022, nós adquirimos a fazenda e ela estava em período de decadência. Para evitar o fungo da vassoura de bruxa, nós clonamos toda a lavoura com o cacau tolerante a doença da vassoura. E, hoje, somos referência em produtividade e qualidade. Temos uma preocupação muito grande com a sustentabilidade ambiental", declarou Mário em entrevista ao Grupo A TARDE.

Por carregar tanta história e relevância, a fazenda também é muito procurada para atividades e estudos em campo promovidos por instituições de ensino. "Nós recebemos vários alunos para falar da cadeia produtiva do cacau. Eu tenho uma admiração grande pela lavoura, por ela propiciar, dar uma sustentação econômica e, ao mesmo tempo, dar uma sustentação ambiental e social. Isso fez com que nós fôssemos escolhidos pela Nestlé para sediar esse evento, no qual eu tive o prazer de receber vários jornalistas, como o Jornal à Tarde, eu tenho a agradecer", disse.
Escassez na mão de obra
Ainda em entrevista ao Grupo A TARDE, o produtor relatou as dificuldades para contratar mão de obra que possa dar conta das demandas que exigem trabalho manual. "A fazenda de cacau sempre foi uma grande geradora de emprego. Hoje, na cacauicultura temos dificuldade de contratar mão de obra devido a esses auxílios sociais indiscriminados que fazem com que grande parte da população perca o interesse pelo trabalho. Hoje, todas as fazendas de cacau têm vagas de emprego disponíveis. São trabalhos braçais, na lavoura, para colher, para podar. E outra coisa: quando querem trabalhar, não querem assinar carteira para não perder o auxílio. Então, é um desafio grande para a gente, produtor, porque sabemos que o trabalhador deve ter sua carteira assinada por uma questão de proteção, de recolhimento dos tributos, mas, as pessoas têm se negado a assinar carteira", desabafou.
