Visando valorizar a cultura negra, o bairro de Sussuarana recebeu a 22ª Caminhada da Consciência Negra na manhã deste domingo (24). O evento reuniu diferentes entidades sociais, incluindo de estudantes. O Grêmio Estudantil Marielle Franco foi um dos convidados que marcaram presença na caminhada. Criado no Colégio Estadual São Daniel Comboni, em 2023, o grupo tem como objetivo levantar pautas importantes no ambiente educacional.
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"As pessoas viram problemas na escola e nos juntamos para resolver esses problemas. Conseguimos formar um núcleo, depois uma chapa e aí fomos eleitos", relembrou Manoel Davi, atual presidente do grêmio.
A escolha de homenagear Marielle Franco no nome do grupo teve um motivo especial. Para Manoel, a ex-vereadora é ainda hoje um símbolo da luta por direitos. "Como mulher preta, LGBT e que também veio da periferia, a gente viu nela uma representação. Além da luta dela que continua nos inspirando, nos dando vontade de continuar lutando pelos nossos direitos", explicou.
Homenagem a Marielle Franco
Nesta edição, a caminhada tem como tema "A Mulher Negra Tem Histórial". Manoel aponta que a história de Marielle ainda diz muito sobre a realidade das mulheres negras em nosso país. "A forma como estão julgando o processo dela reflete muito como as pessoas pretas são inferiorizadas em nosso país. Demorou seis anos para que chegasse em algum lugar, para que a justiça fosse feita e a gente está vendo os frutos desse julgamento agora", acrescentou.
Por mais que o caso ainda esteja em aberto, as causas defendidas pela vereadora seguem vivas e defendidas pela juventude do grêmio estudantil. "É para mostrar que, os que tentaram matar ela, não conseguiram matar as ideias e sonhos dela. Mataram Marielle, mas não conseguiram matar a vontade de que a favela esteja no topo e de que os pretos conquistem o poder", contou.
Um dos objetivos principais do Grêmio Estudantil Marielle Franco é debater questões como o racismo e a cultura ao lado de outros estudantes. "A importância principal é essa questão da representatividade ancestral dos representantes estudantis, porque a gente se concentra muito em outras questões e esquece da importância de reviver toda a cultura que a gente perdeu", contou Alicia Jesus, vice-presidente do combate ao racismo do grêmio estudantil.
Alicia relata que a luta por levar esses temas para dentro de instituições de ensino não é fácil. Apesar disso, ela não se permite desanimar. "É sempre uma guerra, todos os dias. Querem sempre nos apagar, deixar de lado e excluir. Mas a gente tá aqui e não podemos esquecer dessas pautas que são importantes", contou.
Por fim, ela também ressaltou a importância que um movimento como a caminhada tem para a comunidade do bairro de Sussuarana. "É a mobilização da comunidade. Reconhecer nosso poder, nossa função como seres sociais. Esse é nosso lugar, é aqui que devemos estar, ainda mais nesses momentos de crise".
*Sob supervisão do editor Jefferson Domingos